CAPITULO 1 - A novata

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Capítulo 1

Reescrito (sim, de novo) - Janeiro 2022

Amity

A retina de meus olhos se secaram ao encarar por tanto tempo o Sol, mesmo estando ao longe e sendo tampado pela chuva que caía sem cessar nos últimos dias.

Era sempre assim. O looping infinito.

Escurece, a madrugada desce. Amanhece, e toda minha vida se repete.

Vampiros não tem tantos privilégios como essas sátiras mostram — Sim. Sátiras. São o que são. Não acredite em nada que a televisão mostre, apenas se for morcegos-vampiros, se esse for o caso, já lhe aviso que você não está em um documentário pacífico. Nossa vida é repetitiva, exaustiva e tenebrosamente solitária.

Uma casa cheia produz muitos murmúrios silenciosos.

Tirei a mão da borda na janela, desistindo como toda manhã de tentar sentir um mísero calor sequer.

Nada poderia devolver essa sensação novamente. Sinto a falta como se antes tivesse sido parte de mim — o que, definitivamente e não metaforicamente falando, era. Não consigo olhar para o sangue e não pensar na falta que eu sinto dele entre minhas veias.

Não. Não podia pensar nisso.

Localizei meu prendedor de cabelo e, sem mesmo olhar no espelho, prendi metade dele como fazia toda vez.

Não sei se é doideira minha ou se isso realmente faz sentido, mas quando eu o prendo um pouco para trás me sinto mais exposta, e com a exposição vem a liberdade.

Desci as escadas tentando fazer o mínimo barulho possível. O silêncio predominante é muito bem propositalmente proporcionado.

Se você quiser conversar com alguém, basta ler a sua mente. É o que eu faço.

— Bom dia, Amity — Um sorriso típico matinal partiu dos lábios de Lilith, e como toda vez um calafrio de culpa me atinge por não ter a mesma força para retribuir.

Atravessei a cozinha, sentando ao banco a sua frente. Vi suas mãos cortarem uma maçã com muito cuidado, mas além da pequena fruta e seu talher, nada mais havia na bancada.

Além da quietude, nada tem por aqui.

Geralmente eu não fazia perguntas, nem falava nada. Pensei e refleti tanto sobre o silêncio que aprendi a admira-lo. Mas hoje palavras coçavam minha garganta, e junto dela uma queimação como uma faca quente atravessava meu pescoço, me deixando completamente seca.

Sede. Era aquilo que tanto me atormentava naquela manhã.

Após a morte, suas ambições são roubadas de você. Não consigo mais sonhar, pois tudo que a partir daquele momento que eu desejei se tornou o sangue.

E me vejo perdida em cenários em minha cabeça, ilusões. Comecei a confundir o real do irreal, até ter o primeiro pescoço mordido.

Depois do primeiro, vem dezenas.

— Precisamos caçar — Falei com a voz baixa e um pouco falha. Não gostava de falar, e gostava ainda menos quando estava com sede.

Lilith não tirou os olhos da lentidão que era seus cortes perfeitos na pequena maçã. Não me incomodei pela sua ignorância.

— É a vez de Eda — Assenti, já me corroendo em saber que terei outra frase inteira para ser dita.

— Boa tentativa, irmã. Vai fazer o que agora? Tirar o gato da cartola? — Ouvi a voz de Eda descendo pelas paredes do segundo andar.

Young Blood - LumityWhere stories live. Discover now