Capítulo 5: Pétalas Vermelhas

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— Ah, pois bem! A diretora Margot me dirigiu até a sala superior, ofereceu alguns sermões que invadiram um ouvido e saíram pelo outro, telefonou para minha mãe e me fez aguardar por poucas horas naquela tediosa poltrona.

— Qual das mães? Continuo confuso sobre a quem se refere — coçou o couro cabeludo.

— Minha mãe Anya. Porque minha mãe Delphine levou minha avó na feirinha de orgânicos.

— Aaah! — entreabriu os lábios. — Agora entendi. Pode continuar a contar.

— Então quando ela compareceu furiosa, pensei que receberia um puxão na orelha, até assisti-la me defender. Foi sensacional! — ele permaneceu boquiaberto e possibilitou escapar um sorriso satisfeito na sequência. — "Minha filha deveria ter esmurrado ainda mais. O correto seria convocar os responsáveis desse garoto por tal conduta repreensível!" — Gaya esforçou-se em imitar fielmente a Anya, reproduziu seus gestos e permitiu o Gregori gargalhar pela hilária interpretação. — Agora sei que tenho o aval das minhas mães para quebrar os dentes de qualquer um que me enfrentar. Mas foi surpreendente ouvir da minha mãe Anya, pois ela costuma ser mais racional.

— E de fato eles são idiotas! Aliás, uns bobalhões! — resmungou pela revolta. — Jamais se importe com eles. O seu cabelo é esplêndido! Nunca presenciei nenhuma das meninas da Rua Mermaid com madeixas tão magníficas quanto às suas — os olhos de Gaya brilharam, tímida pelo elogio.

— Ah! Sinto-me lisonjeada, garoto de nome estranho. Agradeço — encolheu os ombros. — A beleza é um registro de família. Minha mãe Delphine sempre afirmou — demonstrou orgulho numa expressão meiga. — E você? O que faz enquanto não se apoia na janela?

— E-eu? Hum... Vejamos... — encontrava-se pensativo.

Junto aos seus pequenos dedos, o menino coçou a ponta do nariz que se modificou rosado, conforme suas bochechas.

— Pratico pintura junto ao meu pai. Desejo me transformar num pintor assim como ele e meu antigo avô Michelin. Hoje, graças a ida dele à cidade na intenção de comprar alguns materiais, implorei que trouxesse mais um pincel, porque o meu de tão frágil se partiu ao meio. Acredito que a madeira era falsificada. Apesar disso, conseguia contornar os detalhes numa certa precisão. E durante o tempo que não estou pintando, aproveito as saídas do meu pai para recolher estas folhas secas.

Apontou na direção de algumas folhas caídas no vaso de uma papoula-vermelha.

— Minha avó só me determinou apanhar as folhas secas e deixar as pétalas em proveito de misturar com adubo em nosso jardim. Porém, costumo colecionar folhas murchas de diversas espécies. Geralmente quando removo as luvas antes de dormir, amo experienciar a textura considerando desenhá-las. As adquiro dia sim e dia não, pois todas morrem com facilidade e minha avó supre constantemente com novas flores. Além de que, o meu pai traz outras folhas deste tipo cada vez que retorna.

Franco rogou à Gaya tendo em conta que o aguardasse por um momento, correu até o quarto, recolheu uma caderneta velha na qual se situava guardada embaixo do travesseiro e levou consigo, apto a mostrar sua coleção de folhas.

O garoto folheou múltiplas páginas rabiscadas até alcançar o acervo de folhas e exibiu com orgulho para Gaya.

— Olhe aqui, estas são as folhas secas. As que estão nas últimas páginas se aproximam do processo, em especial a do pinheiro. Demorou bastante para eu conseguir uma folha de pinheiro. A textura delas assim que amarelam, transmitem satisfação. Se desejar, experimente! — ofereceu a caderneta à menina, empolgado e ansioso com sua possível opinião, observando-a atender a sugestão. — O que achou?

O Silêncio dos Santos: Tormento de Franco (Livro I)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora