8. CORAÇÃO EM CACOS

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Era uma vez um conto de fadas que durou mais uma semana antes do seu verdadeiro fim. É exatamente isso que você está lendo. Passamos a semana nos vendo dia sim, dia não. Tudo estava indo muito bem, o que estava até me fazendo desconfiar.

Aí chegou o domingo com um soco na minha barriga. Fui ao apartamento dele e toquei a campainha umas três vezes e nada. Mandei mensagem e ele não estava recebendo. Quando liguei, a ligação foi rejeitava. Alerta problema no ar!

Fui para casa já imaginando o que estaria acontecendo. Ele realmente faria isso comigo? De novo? Seria tão canalha assim? Estava sofrendo antes da hora e o culpando sem ao menos saber o que estava acontecendo.

Preciso ser maduro, respirar e esperar um retorno dele. Vai que está ocupado com algo importante (que espero não ser ela), resolvendo algum problema (que espero não ser eu).

.

Passei o dia me remoendo em ideias tortas. Não estava sendo um bom dia e estava torcendo, torcendo muito, quase orando para terminar sem uma notícia infernal da qual não queria receber.

Durante a tarde eu tentei ligar novamente, mas estava dando caixa. As lágrimas já estavam em meus olhos. O que eu fiz de errado? Mas, por que estou me culpando? Ele que é o mentiroso e aproveitador nessa história.

À noite fui novamente ao apartamento e na segunda vez que toquei a campainha a porta abriu. Ele não olhou em meu rosto, então soube que a conversa não teria um final feliz. Não para mim.

Entrei e fechei a porta. Ele estava em pé, passando a mão na cabeça, pensativo.

- Está tudo bem? Passei o dia todo tentando falar com você e não tive retorno. Não respondeu minhas mensagens, as ligações davam na caixa. Estava preocupado, pensando várias coisas...

- Nós voltamos. – Ele disse de cabeça baixa.

- Acho que não ouvi direito.

- Ela voltou para mim. – Ele não olhou para mim quando disse.

- Espera. Você está dizendo que voltou para sua ex enquanto estávamos ficando? Só pode estar brincando! Isso é uma pegadinha? – Estava furioso.

- Entenda, cara. Eu a amo!

- Se você a ama tanto, por que me disse ontem que estava adorando passar os dias comigo?

- Eu não menti e também estava carente...

- O quê? Você é doido?

- Mas a verdade é essa.

- Eu pensei que estávamos nos envolvendo, que talvez poderíamos namorar, sei lá.

- Namorar? – Ele finalmente olhou para mim. – Eu não namoro homens.

- Mas comer pode, né?

Eu estava chorando, com o coração que já havia sido ferido, agora estava estraçalhado aos cacos no chão. Enquanto me afogava em lágrimas, ele parecia aliviado em terminar o que estávamos vivendo e feliz com a novidade de voltar para a ex.

- Eu me entreguei de coração para você...

- É melhor pararmos por aqui.

- Não! Você vai me ouvir.

- Então diga, dê seu show. – Ele cruzou os braços me fuzilando.

- Eu enterrei minhas verdades, meu verdadeiro eu para estar com você...

No início, eu temia estar sendo enganado. Tinha muito medo de você ainda estar namorando ela. Eu não queria ser o outro, muito menos de um homem que namora uma mulher. O que depois eu descobri ser verdade. Sofri e chorei muito, pois você apunhalou meu coração, estávamos nos envolvendo.

Você mentiu e me iludiu, sem falar que a traiu e me envolveu nisso tudo. Parecia tudo muito simples para você, como se não conseguisse ver o caos que estava gerando em nossas vidas. Você se redimiu e pediu desculpas, mesmo com dúvidas e receio de chegar aonde chegamos, aceitei você mais uma vez em meu coração.

Voltamos e outras feridas foram feitas. Eu já havia percebido que você não queria sair comigo, estar em público com outro homem. Pensei ser coisa da minha cabeça, mas refletindo sobre nossas conversas, entendi que você não queria assumir em público estar com um homem. Eu me enquadrei em uma caixa limitada e sufocante que ofendia quem sou e aos meus sentimentos, mas mesmo assim, aceitei.

Sabe quantas vezes você disse coisas preconceituosas, machistas e homofóbicas? Tudo seguido de uma risada. Tentei ver como brincadeira, sem o real peso que aquelas palavras tinham.

Em vários momentos me senti um objeto sexual. Como um corpo que só servia para sexo. Sabe como isso destrói uma pessoa? Porque uma coisa são encontros casuais em consenso. Outra coisa é ter envolvimento sentimental e um dos lados não retribuir isso.

Coloquei você em um pedestal e esse foi meu erro. Fiz tanto por você, pensando em nós e como você retribui? Voltando para sua ex e mais uma vez me expulsando de sua vida como um qualquer. Sem a menor consideração ou respeito pelos meus sentimentos, pelo amor que compartilhei com você.

Quando terminei ele estava com os olhos cheios de lágrimas. A ficha dele caiu, eu consegui atingir seu coração. Então ele é humano ainda, não um androide sem sentimentos. Fiquei quieto, recuperando o folego e tentando não chorar mais.

- Não percebi o quanto eu estava envenenando sua vida. Pensei que estávamos apenas curtindo, sem compromisso. Vacilo meu...

- Apenas diga a verdade, de coração aberto. – Soltei o ar de ver. – Eu só quero ouvir a verdade.

- Sabe... Cara... Ok... – Ele passou a mão na cara, disfarçando as lágrimas que estavam ali. – Eu a amo muito. Sou completamente louco por ela. Estávamos brigando muito e quando você apareceu eu me aproveitei. Sabia que você estava caidinho por mim e usei isso para afogar as mágoas, mesmo te iludindo. Eu já fiquei com outros caras, mas jamais iria namorar um, não me vejo amando um homem, apenas curto o sexo pelo sexo.

Sim, ele foi sincero como eu havia pedido, mas não esperava ser uma bomba de canhão em meu coração. O barco estava se despedaçando, pegando fogo, sendo engolido pelo mar de lágrimas.

Por um momento só se ecoava no apartamento o som do meu choro. Ele ficou imóvel, desviando o olhar de mim enquanto me estilhaçava em sua frente. Eu não tinha mais o que falar, também não suportava mais ouvir nada. Só me restava ir embora.

- Não precisa ser um fim, sabe. – Ele disse com aquele tom sedutor, mas que agora parecia ácido para mim.

- O que você está dizendo?

- Ela vem morar comigo, mas ainda podemos nos ver de vez em quando.

- Você precisa amadurecer muito ainda. Uma pena que conseguiu voltar para a mulher que ama e mesmo assim continuará traindo-a.

- Isso não é da sua conta.

- Verdade, não é mesmo. Mas no final das contas, obrigado.

- Pelo quê?

- Por me ensinar que devo ser quem sou e não ser submisso a ninguém.

- Bobagem.

- Se é o que você pensa. – Olhei rapidamente para o deuso que revelara ser um farsante demônio e fui em direção à saída.

- Tem certeza que não quer deixar essas coisas de lado e ficar aqui esta noite?

Fiquei parado por um instante. Repassando em minha cabeça as duas últimas semanas desde o primeiro momento que vi aquele jeans azul. O desejo, a busca, a conquista, o beijo. O sexo, as noites, as alegrias. O sofrimento, as mentiras e toda a tristeza até chegar neste exato momento.

- Ficar seria liberdade em maldades, prefiro minha prisão sem disfarces. – Disse ainda de costas e saí do falso paraíso.

JEANS AZUL | conto gay, hot e molhadoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora