10

47 30 98
                                    

Um barulho de repente nos faz afastarmos um do outro, olho para os dois lados do corredor com a respiração ofegante, Zerek não está diferente, ainda sinto o formigamento que seus lábios deixaram nos meus.

— Zerek, eu… — Não consigo formular uma frase completa, mas antes mesmo que eu pense em algo Zerek vira as costas para mim e segue pelo corredor. Ele nem sequer olhou para mim, nem mesmo hesitou em me deixar aqui. Pisco algumas vezes e forço os meus pés a saírem do lugar.

Quando começo a dar passos em direção aos meus aposentos, sinto um cheiro forte se aproximando, o cheiro é ótimo, mas à presença dele me causa coisas estranhas. Logo Theo vira o corredor em minha direção, seus olhos encontram os meus e novamente aquele arrepio, há um pequeno sorriso estampado em seu belo rosto.

— Pensei que eu e meu irmão tivéssemos levado você e sua irmã para descansarem. — me sinto orgulhosa por ter conseguido dizer todas as palavras sem gaguejar.

— De fato, mas eu não me sinto tão exausto no momento. — sua voz é firme, mas suave ao mesmo tempo. — Então pensei: por que, não conhecer mais desse imenso castelo?

— E você veio diretamente a este corredor? — estreito os olhos e ele ri abertamente, sua postura confiante se abala, seus ombros caem e ele coça a nuca, a esse momento estamos a dois passos de distância. Nem sequer percebi que caminhávamos de encontro um para o outro.

— Certo, você me pegou. — murmura sem me olhar nos olhos, fico em silêncio e ele levanta a cabeça, Theo gira o corpo em 360° para observar todo o corredor, ele faz uma breve careta ao olhar para a porta que foi derrubada por mim a quase uma hora atrás.

— O que você já conheceu enquanto vinha diretamente para cá? — pergunto chamando sua atenção para mim.

— Nada, na verdade. Meus pés me trouxeram até aqui, sendo guiados é claro, pelo seu maravilhoso perfume. — sua voz sai como um sussurro, tento focar no que ele continua a me dizer, mas meus ouvidos estão concentrados nos batimentos cardíacos extremamente acelerados na curva do corredor, a respiração ofegante como se estivesse tentando manter o controle.

— Theo… — o interrompo e ele parece notar o mesmo que eu, já que imediatamente se vira na direção dos sons. — Amanhã posso lhe mostrar mais do castelo.

Entendendo que quero encerrar a nossa conversa, Theo caminha pela direção oposta da que veio. Respiro fundo e toco o metal frio da maçaneta para abrir a minha porta, o som dos passos pesados me fazem virar levemente a cabeça para o lado, Zerek está caminhando rapidamente até mim, seu semblante é sombrio. Arregalo os olhos quando ele me prende contra a parede, com os dois braços ao lado da minha cabeça.

— O que… — Não consigo terminar a frase, seus lábios cobrem os meus tão desesperadamente que me tiram um suspiro de surpresa.

— Me perdoe, princesa? — sussurra contra os meus lábios antes de se afastar. — Não sabia o que fazer, então fugi.

Zerek encosta sua testa na minha, sinto sua respiração contra a pele do meu rosto. Fecho os olhos tentando pensar em algo para lhe responder.

— Tudo bem. — murmuro assim que ele começa a se afastar, Zerek percorre o olhar por todo o meu rosto como se estivesse memorizando cada detalhe.

🍷

O vento frio e as folhas secas nos dão às boas-vindas ao outono, caminho tranquilamente pelo jardim o dia amanheceu nublado. Quase tão escuro quanto um fim de tarde sem a luz do sol. Os últimos dias tenho sentido um distanciamento entre mim e Zerek, o que me deixa triste. Ray como sempre está ocupado em seu laboratório ou com treinamentos.

— Você tem me seguido há um bom tempo. — digo baixo, mas o suficiente para que a garota escondida atrás das árvores possa me ouvir.

— Droga. — ouço seu praguejar e logo Mandy aparece em meu campo de visão, seus cabelos escuros estão soltos ao redor de seu rosto delicado.

— Outono é minha estação favorita. — comento enquanto volto a andar com ela a poucos passos atrás de mim.

— Penso que é a de todos nós criaturas da noite. O inverno também é uma época agradável.

— Inverno… é tão frio e pálido. — sussurro tocando a minha própria bochecha em uma comparação. — Quer me contar porque estava me seguindo?

Percebi que Mandy estava atrás de mim desde que sai do castelo, mas preferi fingir que não notei a sua aproximação e perseguição. Há algo que tenha lhe motivado a tal coisa e quero saber.

— Meu irmão estúpido. — rosna e paro de caminhar me virando para ela. Mandy tem as mãos em forma de punho, o semblante raivoso, seus olhos que já eram vermelhos, estão brilhantes pela raiva. — Ele me pediu para me aproximar da princesa para quem sabe, talvez, você quisesse saber mais sobre ele.

Enquanto ela revira os olhos, tento reprimir uma risada. Ray nunca me pediria para fazer algo do tipo, ele gosta de pôr a coisa toda em prática.

— Bem, então por que você não me conta mais de si mesma? — pergunto e ela arregala os olhos. Mandy esconde as mãos atrás de seu corpo, sua vergonha e surpresa estão nítidas.

— Você quer saber mais sobre mim ao invés de meu irmão? — pobre garota, da para perceber que sempre viveu nas sombras da popularidade do irmão.

— Claro que sim.

Nas próximas horas, Mandy me contou sobre o quanto gosta de descobrir coisas novas, tudo que é diferente lhe atraí. Ela é muito parecida com o Ray, o que me deu a idéia de levar ela até o laboratório dele. Tenho certeza de que ele irá adorar ter a companhia de alguém realmente interessado em suas experiências. Mandy pode ser uma boa amiga, uma da qual nunca tive.

Blood (Sangue)Onde histórias criam vida. Descubra agora