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Rayleigh

Pela terceira vez em poucas horas tem uma espada apontada para o meu pescoço. E pela terceira vez o chefe da guarda está me repreendendo, por mais que eu tente, não consigo focar na luta. Cada ruído que sai das espadas batendo uma contra a outra, me causam uma dor aguda; mas não uma dor física, poderia dizer que é na alma, mas que alma? Um golpe da lâmina afiada acerta o meu ombro atravessando a carne dura e fria.

— Qual é o seu problema hoje, Rayleigh? — Eloy retira a espada sem qualquer piedade — Pare de se preocupar com a sua irmã, foque no seu treinamento.

— Não estou preocupado com ela — ainda estou no chão e sem qualquer vontade de me levantar. Penso que essa é a primeira vez que me sinto esgotado, algo que não deveria ser possível — Deixei alguém para cuidar dela na minha ausência.

— O mestiço? — Eloy se senta ao meu lado jogando a espada no chão. Nesse meio tempo em que estive aqui ele foi o único que pude contar o mínimo de algumas coisas.

— Não, não que o Zerek não vá cuidar da minha irmã. Mas tem outra pessoa cuidando dela — me levanto tirando os fios de cabelo que estão voando na frente do meu rosto; e aí está novamente a sensação de vazio. Me lembro de todas às vezes em que a Áurea parou meu treinamento para trançar meu cabelo e de como ela me dava broncas por ter preguiça de fazer eu mesmo.

— Você está fazendo aquela cara de novo — o vampiro ruivo aponta para mim ainda sentado no chão — Parece que está sendo torturado.

— Tsc. De certa forma, realmente estou — Eloy ri balançando a cabeça e aproveito o fim do treino para ir caminhar.

Amanhã é lua cheia e isso está me corroendo, se Zerek perder o controle novamente, não estarei lá. Eu realmente espero que Leonel proteja ela de quaisquer que forem os perigos.

Ele observa tudo ao seu redor com extrema curiosidade, seus olhos azuis brilham a cada novo objeto que ele toca. Leonel parece uma criança descobrindo o mundo.

— Você pode ver essas coisas mais tarde quando não tiver ninguém por perto, mas agora preste atenção na nossa conversa — cruzo os braços e ele se vira para mim com um semblante sério, Leonel está quase inexpressivo. Nem parece que estava babando nas minhas pesquisas a poucos segundos.

— Não preciso que me diga como devo cuidar daquela que fui predestinado a ser guardião — se não fosse o seu olhar frio eu teria gargalhado, com certeza.

— Bem, senhor "guardião", não me decepcione — Leonel solta um rosnado mostrando os dentes — Você não me assusta.

— Não devo nada a você, somente devo me preocupar em não decepcionar a minha protegida.

Antes que eu possa retrucar ele sai do meu laboratório com o rosto vermelho de raiva, nunca pensei que tivesse alguém mais temperamental que eu.

— Esse cachorro...

🍷
Áurea

É difícil esquecer a sensação das mãos de Zerek por todo o meu corpo, por uma noite tive sua companhia em minha cama, cada parte do seu corpo tocou o meu. Sinto como se tivesse provado um pedaço do céu, ainda me vejo flutuando por entre as nuvens; seus toques e beijos na minha pele, eram como brisa.
Porém, foi tão frustrante acordar e perceber que não havia mais ninguém ao meu lado, ainda encaro o meu reflexo no espelho tentando apertar o laço do vestido na parte de trás.

— Desisto! — solto as fitas de cetim com raiva, como fui chegar a isso? Nem sequer consigo me vestir sem me distrair.

— Você conseguiria fazer um simples laço se não ficasse babando pelos cantos — me assusto com a voz fria atrás de mim e o puxão firme no meu vestido ao apertar o nó do laço.

Rapidamente, o pescoço do rapaz pálido está preso pelas minhas garras. Seus olhos azuis são profundos e frios como uma lagoa congelada, os fios de cabelos brancos como a neve, sua pele quase se iguala a cor de seus cabelos.
Mesmo com minhas garras perfurando a sua pele e seu sangue quente escorrendo pelos meus dedos, ele ainda sorri com certa ironia.

— Quem é você e como entrou aqui? — seu sorriso se alarga enquanto suas órbitas cristalinas me encaram como se eu fosse a estúpida aqui.

— Eu sempre estive aqui, vossa alteza — abro a boca para retrucar, mas me dou por falta dos rosnados do Snow. Vasculho o cômodo rapidamente com os olhos até encontrar novamente o olhar do estranho à minha frente. Ele arqueia sobrancelha e inclina a cabeça para o lado; essa expressão... Snow.

— Você? — solto seu pescoço pelo choque de realidade que me atingiu, mas me arrependo assim que ele se joga na minha cama fazendo uma careta de nojo. Arregalo os olhos ao notar seu corpo nu — Vista-se! Por que está sem nada cobrindo vosso corpo?

Lentamente o estranho puxa uma caixa de baixo da cama e vai para trás do biombo.

— Não sei por que de todo esse desespero, tive de ver e ouvir coisas bem piores durante a noite toda — como um estalo, me lembro de que Snow estava dormindo em sua almofada próxima à porta — Aliás, creio que todos no castelo, que tenham o mínimo de audição tenham ouvido.

— E-eu... que inapropriado — um longo suspiro me escapa enquanto passo as mãos no rosto.

— Você não tem idéia, princesa, eu nem sabia que eram possíveis tantas... maneiras de... — o interrompo lhe atirando uma das várias almofadas que ficam na minha cama, acerto seu rosto bem no momento em que ele sai de trás do biombo — Você não acha que deveria ser eu a estar bravo e constrangido?

— Ora, seu... lobo pervertido — Snow me encara e logo joga a cabeça para trás, gargalhando alto — Não ria. Você ainda não me explicou o fato de ser um homem agora, e não um lobo.

— Há, claro. Perdoe-me pela indelicadeza — com o seu sorriso frio, Snow se encosta de lado na parede com a mão no queixo — Sou um homem que vira lobo, ou talvez seja ao contrário, não tem como saber.

— Você está brincando comigo? — essa foi a pior explicação que eu já ouvi, prisioneiros dão melhores argumentos sobre seus crimes — Você não disse nada que eu já não tenha percebido, Snow.

— Leonel, meu nome é Leonel — é claro que ele teria um nome, além do que eu já tinha lhe dado — E bem, princesa, espero que você se contente com essa explicação. Porquê ela é o que é.

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⏰ Last updated: Jun 20, 2021 ⏰

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Blood (Sangue)Where stories live. Discover now