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Parado ao lado da porta de meus aposentos, está Ray, meu gêmeo, seus longos cabelos escuros estão presos em uma trança, os olhos cor de sangue brilham em diversão enquanto me observam. Antes que eu possa alcançar a maçaneta da porta, ele entra na frente.

— Irmã, á quanto tempo… — respiro fundo ajeitando minha postura e ele cruza os braços enquanto sorri mostrando suas presas afiadas.

— Agora não, Ray. — tento passar por ele novamente, mas o Ray está testando a minha paciência, antes que ele possa fazer qualquer coisa, quebro seu pescoço fazendo com que ele escorregue até o chão. — Eu disse que agora, não. — abro a porta e tranco com a chave, dou de cara com meu espelho, o reflexo mostra uma garota pálida, cabelos longos com cachos, o vestido vermelho com bordados dourados que logo começo a desfazer os laços dessa coisa pesada. Procuro uma de minhas roupas leves, calças e camisa. Faço uma trança para tirar os fios que teimam em cair no meu rosto, pego um cesto grande e coloco alguns panos limpos, quando abro a porta vejo meu irmão sentado do outro lado do corredor, seus olhos estão brilhando e ele rosna.

— Odeio quando você faz isso, Áurea. — sorrio e ele olha para o cesto em meus braços. — Interessante.

— Pode me arrumar algumas de suas roupas limpas? — Ray levanta revirando os olhos e mexe a cabeça para que eu o siga.

— Precisa de ajuda? — Ray e eu estamos sempre brigando, mas sabemos que podemos confiar um, no outro. A personalidade má dele muitas vezes me irrita, mas no fundo, ele é tão bom quanto espero que eu seja.

— Não se incomode, irmão. — respondo e ele abre a porta de seus aposentos, rapidamente ele está me entregando algumas peças de roupas. Balanço a cabeça em forma de agradecimento e vou para a cozinha. São tantos corredores e portas, que qualquer um que seja novo no castelo se perde. A iluminação é baixa, feitas apenas por velas e tochas presas às paredes de pedras escuras. Quando chego a cozinha pego algumas garrafas com sangue animal e outras de água. Ajeito tudo dentro do cesto e retomo meu caminho para as torres dos prisioneiros. Essa ala fica muito mais distante que os outros cômodos convencionais, protegidas por vários portões de aço revestidos por prata, quatro a seis guardas ficam em cada portão. Quando chego no primeiro, eles me encaram confusos.

— Quero ver o novo prisioneiro. — digo firme e eles se entreolham desconfiados.

— Temos ordens para não deixar ninguém se aproximar do mestiço, princesa. — um dos guardas diz curvando a cabeça.

— Meu pai, o Rei, autorizou minha entrada. — mesmo hesitantes eles abrem caminho.

— Permita que eu lhe acompanhe até o local. — o mesmo guarda diz e concordo com a cabeça. Ele caminha atrás de mim enquanto passamos pelos outros portões e digo as mesmas palavras para todos. Quando chegamos no último dos seis portões, vejo as várias celas com prisioneiros. Mas não vejo o mestiço.

— Ele está separado dos outros, princesa. — ouço o guarda e me viro para ele que está apontando para o corredor leste onde existe uma única cela. Balanço a cabeça e sigo ele até o final do longo corredor. A cela é maior que as outras, mas não para que tenha conforto de espaço, são as correntes, ele está preso com várias correntes, ajoelhado no centro da cela, os dois braços abertos e esticados pelas correntes que o prende. A cabeça abaixada e uma poça de sangue ao seu redor. Céus, torturaram este homem.

— O que aconteceu com ele? — rosno para os guardas que estão andando de um lado para o outro em frente a cela. Os três homens paralisam quando me veem ali. Ninguém me responde e o guarda que me acompanhou pega as chaves para abrir a grade.

— O que pensa que está fazendo? — um deles questiona, mas antes que obtenha qualquer resposta eu me coloco dentro da cela. — Princesa Áurea, com todo o respeito, isso não é local para a senhorita. — viro a cabeça para encaram todos os quatro homens ali.

— Saiam, tenho autorização para cuidar deste homem. — digo alto, mas eles não se movem. — Saiam. — rosto mostrando minhas presas e rapidamente eles se retiram.

Respiro fundo e me ajoelho na frente do jovem mestiço, levanto sua cabeça e me assusto ao ver que um de seus olhos está sangrando, seu corpo está cheio de farpas de madeira, ferimentos feitos com lâminas de prata, ele está inconsciente. Começo a rasgar com as mãos o resto de suas roupas, com cuidado tiro as farpas de seu corpo, quando começo a passar água e esfregar sua pele com os panos limpos que trouxe, ele começa a resmungar algo.

— Fico feliz que tenha acordado. — sussurro e ele levanta a cabeça lentamente, quando seus olhos se abrem um suspiro me escapa. O sangue que escorre é pela falta de uma de suas órbitas. Tiraram o olho desse homem, tento conter o tremor de raiva que começa a percorrer o meu corpo. — Sinto muito que tenham feito isso com você. — passo delicadamente pano úmido em seu rosto.

Ele fecha os olhos e tenta se encolher, mas as correntes não deixam, um gemido de dor escapa de seus lábios. Quando termino de lavar ele, jogo o restante da água no chão e enxugo as poças para retirar aquele sangue. Coloco novas calças nele e percebo que não vou conseguir colocar a camisa com essas correntes em seus pulsos. Olho para o local em que estão às chaves do lado de fora, solto as correntes e seus braços caem, seu corpo tomba para a frente e eu o seguro em meus braços. Está tão fraco, pego às duas garrafas com sangue e coloco entre seus lábios, logo seus olhos abrem novamente, e ele começa a beber com desespero. Quando termina a primeira, dou-lhe a segunda e ele bebe com o mesmo entusiasmo. Observo suas feridas começando a se curar lentamente. Quando termina de beber, sua cabeça cai em meu ombro, começo a vestir a camisa nele devagar, sua respiração está lenta em meu ombro.

— Qual seu nome? — pergunto passando seu braço pela manga comprida da camisa.

— Zerek. — um belo nome eu diria, combina com ele. Mesmo fraco e machucado, não deixa de ser um homem bonito. Tenho curiosidades sobre ele, quero saber de sua família, de como veio parar aqui e, porque existem testemunhas contra ele. — Você não deveria estar aqui, princesa. — quando termino de lhe vestir apoio seu corpo contra o meu e o levo até o fino colchão no canto mais escuro da cela.

— Não, eu não deveria. — murmuro ao deitar seu corpo, rasgo um lençol limpo dos que trouxe e improviso um tapa-olho para ele. Com outro lençol, cobri seu corpo encolhido. — Mas quero estar aqui, Zerek.

Blood (Sangue)Where stories live. Discover now