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Na noite em que meu irmão deixou o castelo foi pior que da última vez, eu me sentia culpada por ele ter partido. Desde então, tenho encontrado rosas no meu travesseiro todas às vezes que chorei sentindo sua falta, seja lá quem estiver colocando as flores ali, tem sido gentil em tentar afastar um pouco a saudade que sinto do meu gêmeo.
Já se passaram um mês, e estou perdida no tempo. Hoje tem sido um daqueles dias nublados, o vento frio e nuvens negras pelo céu acinzentado.

— Hoje está ótimo para uma caminhada no jardim, não está? — me viro para o lado vendo Theo com seu sorriso brilhante e o braço estendido em minha direção.

Suspiro aceitando sua gentileza e acompanho ele em sua caminhada ao lado de fora do Castelo. Snow nos acompanha, ou melhor dizendo: me acompanha. Acabei dando um nome para o lobo branco que vive ao meu lado.

— Não tenho visto a Mandy, ela está bem? — Theo encolhe os ombros antes de guiarmos a um dos vários bancos ao redor do jardim.

— Mandy não tem lhe dado bem com a partida do Príncipe Ray. — arqueio a sobrancelha sem entender e ele solta um pequeno riso. — Você não sabia? Mandy é apaixonada pelo vosso irmão.

Não sei se deveria, mas isso não me surpreende. A maioria das saias desse lugar são apaixonadas pelo Príncipe. Mas como o perfeito cafajeste que ele é, nunca correspondeu a nenhuma moça. Não que ele faça promessas a elas, ele só não se prende a ninguém.

— Meus pêsames há ela. — sussurro mais para eu mesma do que para ele. — Ela é incrível, merece alguém que a corresponda de todas as formas.

Theo da de ombros olhando para a paisagem, todas aquelas flores. Há algo de melancólico em sua expressão, talvez o assunto em questão não seja confortável para ele.

— Você também. — seu sussurro me pega de surpresa. — Você também merece alguém que corresponda a todos os seus sentimentos, que seja gentil e que faça de tudo só para ver um sorriso em seu rosto.

Ainda estou tentando raciocinar as suas palavras, ou melhor dizendo, o peso delas. E por algum motivo senti que meu coração bateu mais rápido do que em todos os meus anos de vida. Theo abre um pequeno sorriso e balança a cabeça como se estivesse compreendendo algo que nem mesmo eu me dei conta ainda.

— Você tem alguém assim? — a pergunta se arrasta pelos meus lábios sem que eu me dê conta.

Theo desvia o olhar de mim para as flores silvestres à nossa frente, em silêncio ele se aproxima delas mantendo-se de costas para mim.

— Costumava ter. — Theo colhe uma das flores e fica analisando cada uma de suas pétalas. — Mas isso já não importa mais, as coisas mudaram, eu mudei.

Seu tom frio coloca um ponto final naquela conversa.

Toda aquela conversa sobre sentimentos e pessoas especiais, me deixaram pensativa pelo resto do dia, nem sequer consegui dormir direito.
Tudo o que vinha na minha mente eram cabelos castanhos, pele levemente pálida seguida de poucos momentos em que esteve corada. E o dourado, aquele olho dourado. Zerek tem estado tomando conta de boa parte dos meus pensamentos desde a conversa com Theo.

Alguém especial.

— Por que tem que ser tudo tão complicado? — o pequeno rosnado do Snow me lembra que não estou sozinha, mesmo em um local em que eu deveria ter minha privacidade, mas parece que esse termo não se aplica aos lobos.

Enquanto fico deitada em minha cama encarando o teto escuro, o lobo fica sentado em frente a porta como se a qualquer momento alguém entraria no cômodo para atacar.

— Você deveria se acalmar, ninguém vai invadir esse lugar — em resposta recebo outro pequeno rosnado.

Uma pequena batida na porta e o cheiro de Zerek inundam o cômodo, Snow se deita ainda no mesmo lugar, como se soubesse que o mestiço não é uma ameaça.

— Pode entrar, Zerek — a porta de madeira pesada se abre lentamente.

— Peço perdão se estiver lhe incomodando... — suas bochechas ficam levemente coradas e ele evita olhar diretamente para mim.

— Não se preocupe, você nunca me incomoda — um sorriso tímido aparece em seus lábios e ele fecha a porta atrás de si — Está precisando de algo, Zerek?

Ele nega com a cabeça enquanto caminha lentamente em minha direção. Sinto o seu nervosismo, Zerek está tão tenso que creio que a qualquer momento ele vá começar a tremer todo.

— Eu só queria saber como você está, depois do vosso irmão... partir — não está sendo fácil ficar sem à presença do meu irmão, mas Zerek não precisa que eu diga isso, está estampado no meu rosto — Não posso deixar de me sentir culpado pelos acontecimentos em questão.

Imediatamente me levanto da cama, seguro suas duas mãos - quentes - e mergulho meu olhar entre o dourado de seu olho. Eu gostaria de dizer em palavras tudo o que tenho sentido por ele, mas sempre que meus lábios se abrem nenhum som da minha voz parece querer sair. Então, como dizer que ele não deve se sentir culpado? Que quero vê-lo sorrir com mais frequência, sentir o choque de suas mãos quentes cobrindo as minhas que são frias? Eu não sei como dizer a ele, que ele é o meu alguém especial.

— Não me olhe desta maneira, princesa — tudo o que sai de seus lábios rosados não passam de leves sussurros — Não me olhe como se eu fosse a única pessoa em seu coração.

— Zerek, o meu coração quase não bate — um sorriso triste passa por seu rosto, retiro uma das minhas mãos das suas e levo para acariciar sua bochecha — Mas cada batida dele tem tudo de você. Não posso dizer que está no meu coração quase congelado, mas posso com toda certeza, afirmar que está na minha vida.

Zerek concorda rapidamente com a cabeça antes de juntar os seus lábios aos meus. A cada movimento, cada toque seu, me faz sentir todas aquelas famosas borboletas no estômago. Mas não é só isso, tem algo quente, uma pequena chama que vai queimando de dentro para fora, ela arde em cada rastro da minha pele em que seus lábios estão passando - queixo - bochecha - pescoço - clavícula. E finalmente de volta aos meus lábios.


Blood (Sangue)Where stories live. Discover now