Capítulo XXXIII - Manchas

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O papel que estava na sua mão era um claro manifesto da soberba. A idosa, que morava numa casa muito humilde, porem confortável, tinha na sua conta bancária uma quantia que Francisca não conseguia nem pronunciar. Francisca saiu do quarto ainda atônita, não tirava os olhos daquele papel olhando os números de trás para frente para tentar pronunciar. Não conseguiu. Era uma tarefa quase impossível, mesmo para ela com o conhecimento em cálculo.

Passava as mãos e encostava as costas na parede afim de não cair enquanto olhava a procedência de tanto dinheiro. Poderia ela ser uma ladra? Alcoviteira? Sabia-se que ela tinha uma presença constante na zona e bem que poderia ser uma cafetina. Chegou boquiaberta no quarto e acordou Christina, ela olhou para o papel e fez pouco caso.

- Você sabe o que é isso? – começou Francisca depois de mostrar a Christina – um extrato bancário que achei no quarto de Abigail.

- Ela sempre diz para não mexer nas coisas dela – Christina estava agora com a cabeça de baixo do travesseiro, queria dormir e estava cansado da noite anterior.

- Espera, olha esses números – Francisca agarrou o travesseiro e jogou para o outro lado da cama acertando Tereza que acordou e ficou ali ouvindo atenta. Christina tomou o papel da mão de Francisca e ficou anestesiada.

- Tanto dinheiro – disse boquiaberta imaginando o que ela poderia fazer se tivesse tudo aquilo.

- Sim e eu ainda não entendi de onde vem tudo isso

- Ela é uma pessoa fechada, mas, dias atrás, um homem estava aqui e ouvimos alguma coisa sobre testamento.

- Então Abigail vai deixar isso tudo para vocês. Será que ela já está morrendo?

- Já tem uma boa idade e, hoje em dia, não se vive muito.

- Deixem a mulher em paz, imagine se ela acorda e ouvi vocês falando disso. – Tereza estava preocupada com tudo que podia acontecer. Olhava para os lados mais que antigamente e não se surpreendia fácil. Mas se transformou. Passou de uma pessoa calada para uma pessoa normal como qualquer outra.

- Falando sobre o que? – Abigail estava na porta como uma aparição indesejada, ainda com as suas vestes de dormir e sem os sapatos habituais. Pisava no chão gelado da casa e isso não fazia com que ela se tornasse uma velha nos seus últimos dias, mas uma velha rica que mora num bairro de classe média baixa.

- Nada, estamos falando sobre o meu trabalho é ruim. As meninas estão com medo do que a senhora pode dizer disso. – Francisca dizia com uma leveza que parecia verdade. Os dias estão passando e ela está aprendendo a ser uma mentirosa. Uma mulher mentirosa.

- Nem um trabalho é bom, você tem que se acostumar com pessoas que te odeiam e Deus te livre de ter um chefe de não goste de você. Acostume-se que uma casa não se ergue só com vontade, precisa, também, de dinheiro.

- Como se isso fosse problema. – cochichou Christina cobrindo a barriga com o travesseiro e sentada na cama.

- O que disse? – Abigail agora estava voltada para Christina. A velha, que apesar de um pouco cega não é surda, ouviu muito bem o que ela disse só não entendeu, pelo menos aparentava isso.

- Nada, volte a descansar. – Abigail saiu e continuaram, agora todas, a olhar o papel.

- Esse dinheiro deve vim de umas casas e apartamentos alugados que ela tem. Lembram-se da vem em que ela estava conversando com uma mulher? E falavam sobre comprar uma nova casa? Só pode ser isso. – Clara falava com a convicção de que Abigail era só mais uma mulher que sabia como cultivar dinheiro. Levantaram-se todas e tomaram os seus destinos.

FrancisquinhaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora