Capítulo XIV - Um manto em teus montes secos

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- PETÚINIA, ADOTEI uma criança.

A tia de Francisquinha levantou num pulo. Correu até a porta e a abriu em completo êxtase.

            - Mais um filho Marta? Você já tem cinco. Imagina se tem um troço e morre? Quem vai cuidar dessas crianças? – colocou as mãos na cintura e logo após as estendeu para que a visita adentrasse a sua casa.

            - Você sabe que eu não penso nestas coisas...

            - Por isso mesmo que te chamam de coração mole, agora me fale desta criança.

            Marta era conhecida por adotar criança com história, certa vez achou uma num banco de praça e carregou para casa como se fosse um animal de estimação sem dono e pensando na esquina: era.

            - Pois bem, dizem que esse menino é endiabrado... – Mal terminou a frase e a tia de Francisquinha lhe cortou.

            - Deus é mais. E tu ainda tens coragem de pegar esse menino? – franziu a testa e sentou-se na cadeira de balanço.

            - Deixe-me falar.  Dizem que esse menino é endiabrado, falam até que ele ateou fogo no tio. Quando ia a missa ficava rindo das palavras do padre e sumia com as coisas da casa. Um dia a mãe dele o levou para a casa da avó, só que na volta esse menino sumiu. Escondeu-se. A mãe ficou desesperada procurando o menino. O trem chegou e a mãe teve a impressão de que o menino tinha entrado, porque tinha as roupas iguais, então correu atrás. Chegando lá dentro procurou, procurou o menino e nada. Voltou para casa e contou ao marido que pensou que a mulher tinha se livrado do menino, dias depois o homem se separou dessa mulher. Esse menino ficou morando lá e como não tinha o que comer acabava comendo lama. Deitava-se com os cachorros e quando chegava à noite os abraçava para se esquentar. Quando num dia uns meninos apareceram e começaram a bater nele. Depois disso ele saiu caminhando, passando de casa em casa, algumas pessoas o ajudaram. Outras fugiam dele achando que era um ladrão. Chegou aqui ontem quando o Sol já estava indo embora, o vi perto da casa do Caboclo. Conversei com ele e dei um pedaço de pão que ele devorou como um leão. Levei para casa e agora ele está a dormir.

            - Minha irmã – nem eram irmãs de sangue, mas para a tia de Francisquinha todo mundo era parente, levantou porque a cadeira lhe deixava enjoada – sabe que pode me pedir o que quiser não é? E sabe que eu dou se eu tiver. Você uma pessoa louca, uma pessoa louca, mas do bem.  Agora, não vou pedir para que feche os olhos. Só vou pedir que pense no futuro... – pegou as mãos de Marta que estava cansada. De ombros caídos não era mais a mulher de antes. A mulher que anos atrás era uma das mais formosas daquele lugar.

            Levou Marta até a porta que a despediu com um beijo no rosto nas mãos. Ficou olhando ela sumir em meio ao nada. O vento levava aquela poeira e cobria a visão da tia de Francisquinha, era só mais um sinal de que algo estava por vir.

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