— Maldita! Sua monstrinha! — gritava Adolfo,  ainda caído no chão.

Os outros dois caçadores do bando saíram imediatamente dos cômodos, os quais, estavam investigando, enquanto que Lívia descia rapidamente pelas escadas. No térreo, ela virou à esquerda, pensando em esconder-se na biblioteca, mas lembrou de suas grandes janelas que certamente estariam descobertas. "O porão!", preparou-se para seguir no sentido contrário, porém Heitor e o sujeito mais jovem já estavam próximos do final das escadas, eles a interceptariam. Seria obrigada a seguir para a biblioteca! Pelo menos, era grande e tinha muitos baús onde podia se esconder.

Lívia imediatamente sofreu mais queimaduras ao entrar no ambiente iluminado, sentia-se enfraquecida, mas agiu rápido e caminhou — no lado contrário das janelas — protegendo-se entre as enormes prateleiras. A biblioteca ocupava quase toda a ala oeste no térreo, pois o pai da garota era um homem muito culto e apreciava todo o tipo de conhecimento. Dizia para a filha que a leitura poderia transformá-la no que ela quisesse, tanto no mundo da fantasia, quanto no real. "Se meu pai estivesse aqui, ele acabaria com eles!", mas estava sozinha, seu pai havia viajado a negócios e sua mãe tinha sido assassinada anos antes, quando ainda moravam na Romênia.

Enquanto o bando completo já vasculhava o recinto, a menina esgueirou-se pelos corredores e encontrou um baú vazio, onde até pouco tempo eram guardados diversos livros infantis que foram doados para a biblioteca da pequena escola pública da cidade. Lívia, se certificou que os caçadores não estavam por perto e escondeu-se dentro do baú, evitando ao máximo fazer qualquer tipo de barulho ao fechar a tampa.

— Apareça garota! Você sabe que não tem como fugir. — gritou um dos homens, ele estava próximo do corredor onde ela havia se escondido. Identificou a voz como sendo do mais jovem deles.

A menina resistia. Controlava-se para não ter nenhuma atitude que revelasse a sua localização. Dentro do baú a escuridão aliviava parcialmente a dor resultante das queimaduras recentes.

— Revirem cada canto, não deixem essa aberração escapar! — ordenava Heitor.

Lívia ouvia o barulho de coisas sendo jogadas (De que adianta derrubar os livros?! Eu nem conseguiria me esconder em uma prateleira!), de portas de armários — que ficavam nas laterais do recinto — e baús batendo. Era apenas uma questão de tempo para ser encontrada. Então, levantou cautelosamente a tampa para espiar: viu que o mais jovem dos caçadores estava no mesmo corredor que ela. Não sabia em qual local da biblioteca estavam os demais, mas talvez, se fosse rápida o suficiente, conseguiria correr até o porão. Tinha que tentar, então esperou o homem olhar para o lado oposto, saltou para fora do baú e correu o mais rápido que podia. Lívia seguiu pelo lado leste da biblioteca, protegendo-se da luz do sol entre as prateleiras e torcendo para não encontrar Adolfo ou Heitor. Passou por um, dois, três corredores e, quando chegou no quarto corredor, ouviu:

— Ela está fugindo! — gritava Adolfo.

Próxima da porta de saída, a menina sentiu alguém tentar segurar o seu braço, mas escapou. Ao olhar para trás, viu o líder dos caçadores com o punhal na mão e a expressão enfurecida. Lívia entrou no saguão principal e passou em frente às escadas, seguiu para um corredor que ficava ao lado e abriu a porta do porão, fechando e a trancando logo em seguida. Nas trevas daquele ambiente, desceu as escadas e parou próximo à parede do fundo. Estava segura! Nenhuma luz do sol entrava ali.

Lívia ouvia as batidas deles tentando arrombar a porta do porão e, após diversas tentativas, a menina soube que eles haviam conseguido entrar. Em seguida, observou os feixes de luz das lanternas no momento em que eles desciam lentamente as escadas. Estavam cautelosos. Enquanto isso, sentia que seu corpo estava se recuperando cada vez mais rápido dos ferimentos. As trevas cuidavam dela, as trevas lhe protegiam, as trevas lhe davam força.

Ela ficou observando a movimentação do bando até que um deles apontou a lanterna para o seu rosto; era Heitor.

— O monstro está aqui! — gritou o líder.

Rafael aproximou-se à direita de Heitor, enquanto que Adolfo à sua esquerda.

— Acabou! Você não irá mais se alimentar das pessoas desta cidade! — sentenciava Heitor.

As feridas da menina se regeneravam em uma velocidade espantosa. Nas trevas, seus olhos azuis brilhavam ainda mais.

— Santo Deus! — espantava-se Adolfo segurando seu crucifixo em uma mão e a pistola em outra.

Lívia olhou para Adolfo e sorriu, exibindo as enorme presas em sua boca (Vai matar uma criança?). O sujeito travou, sabia da importância daquela missão, pois diversas pessoas já haviam desaparecido na cidade, mas não conseguia atacar a pequena.

— Não caiam nos truques mentais dessa criatura! — avisava Heitor.

A menina sentiu que todos os ferimentos em seu corpo já estavam curados. Olhou em direção ao mais jovem do bando, ele carregava uma garrafa de água. Ela presumiu que seria água benta, algo que poderia causar-lhe queimaduras tão potentes quanto o sol (Vai queimar uma garotinha?).

— Eu nã... não... — murmurava o homem.

— Rafael, não deixe que ela te domine. Quando eu der o sinal, vocês sabem o que fazer! — reforçava o líder.

Lívia direcionou seu olhar, finalmente, para o líder do bando: Heitor (Eu sou inofensiva!).

— Volte para o inferno criatura demoníaca! — ordenava Heitor.

A garota estava forte! As trevas haviam deixado ela pronta para deixar de ser a caça para, finalmente, caçar.

— Agora! — gritou o líder.

Adolfo disparou com sua pistola, enquanto que Rafael tocou a água na direção de Lívia. Mas a menina havia desaparecido antes de conseguirem lhe acertar.

— Onde ela foi parar? — perguntava-se Rafael. — AAAAAH! — gritou em profunda agonia, antes de desaparecer nas trevas do porão.

"Rafael, Rafael!", Adolfo e Heitor gritavam e tentavam encontrar, apontando suas lanternas para todos os lados, o companheiro. Mas ele havia desaparecido.

— Estamos em desvantagem aqui embaixo! — constatava Adolfo. — Heitor! Precisamos abortar essa missão. — Dirigiu-se para as escadas do porão.

— Volte aqui seu covarde! — Heitor terminou de falar isso e viu algo atacar Adolfo logo em seguida, que gritou em desespero brevemente, desaparecendo nas trevas. Heitor estava sozinho.

O velho segurou o punhal com firmeza e apontava a sua lanterna para todos os lados. No entanto, ele sabia que estava acabado. Nas trevas, com suas habilidades no ápice, dificilmente um humano seria páreo para um vampiro; por ser apenas uma garotinha que aparentava ter uns 10 anos, ele achava que seria mais fácil com ela, mas estava fatalmente enganado (Ainda estou com sede!).

A menina saltou do teto para próximo do velho, acertou-lhe um soco no abdômen, o que fez Heitor ser arremessado contra a parede do porão; no impacto, ele sentiu que havia quebrado alguns ossos. O líder dos caçadores ainda esforçou-se para ficar rapidamente de pé, mas não teve tempo o suficiente. Lívia cravou as presas no seu pescoço!

— Outros virão... outros virão... — balbuciava Heitor, enquanto sentia sua vida sendo sugada juntamente de todo o seu sangue.

Alguns tempo depois, Lívia saiu do porão e viu que a noite já havia chegado. Naquele dia, não precisaria sair para caçar, pois a caça já tinha vindo até a sua casa.

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Comentários do autor

Depois de algum tempo, finalmente um conto novo! Desta vez me aventurei no tema de vampiros. É uma primeira experiência, mas espero que tenham gostado.

Convido vocês também para lerem um outro conto que publique recentemente chamado O Pesadelo. Ele está em uma publicação separada.

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Abraços ;)

Medo: Contos de TerrorWhere stories live. Discover now