Sangue ruim.

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Sorriu de lado, sentindo as possíveis lágrimas de alívio. Estava virada para parede e se permitiu contorcer o rosto numa expressão genuína de felicidade. - Como conseguiu vir? - perguntou, confusa. Afinal, eles estavam em tempos diferentes.
- Irrelevante - girou o tronco na direção dele, tentando não mover a perna. - Pensei que não tinha entendido.

- Não insulte a minha inteligência, você foi bem óbvia - Mavis apoiou o corpo nos braços, a fim de se sentar. Cinco fez um gesto para continuar deitada, mas não obedeceu. - Então... Você é a filha do Diego? - assentiu sem de fato olha-lo. - Preciso da sua ajuda - o homem riu sem humor. - Agora me diga, minha jovem, porque eu ajudaria você? - ela finalmente fitou seus olhos, totalmente incrédula. - Como?

- Se está presa aqui, deve ser mérito seu.

- Digo o mesmo - vociferou demonstrando toda ira que queimava em si. Estava sendo torturada por um mês e meio. Não estavam a quebrando, como Handler acreditava, estavam a deixando puta da vida. - Não vai conseguir coisa alguma com esse comportamento, mocinha - declarou frio. Mavis se inclinou na direção do tio, suas feições eram cansadas, seus dentes trincados e seus olhos transbordando o mais puro ódio a deixavam ameaçadora o bastante para Cinco sentir o leve instinto de se afastar, no entanto não o fez. - Chega mais perto, benzinho - rosnou, desafiadora.

Todos sabiam que aquele Hargreeves não fugia de desafios, então deu bons passos até a loira, perto o suficiente para sentir a respiração descompassada desta. - Estou ouvindo.

- Te segui por toda maldita cidade, fiz exatamente o que pediu e acreditei em você mesmo que os idiotas da nossa família me avisassem do contrário. Aguentei cada ataque seu, e tudo começou quando você me arrastou para a porra de uma loja de rosquinhas e me tornou um alvo dessa MALDITA EMPRESA, então me escuta bem, seu merdinha - fez uma pausa e puxou o pulso preso nas correntes. Agarrou a gravata do mais velhos, deixando os rostos mais perto ainda. - Foi você que me tirou da minha vida fútil de adolescente, foi você que me mandou para um ano aleatório, sem amigos, sem família, sem ninguém!! - não se preocupava com as lágrimas que caiam incessantemente, nem com o soluço que interrompia sua fala, apenas continuou vociferando tudo que estava entalado na sua garganta por todo esse tempo.
- Se não me ajudar, eu vou caçar você e te fazer passar por tudo que estão me fazendo passar aqui.

Cinco não estava menos que assombrado. Em qualquer outra situação, ela estaria ferrada na primeira frase insolente. Como já havia cansado de fazer com o pai desta, só Deus sabe o quanto Cinco e Dois entravam em brigas com facilidade. - Não faça ameaças que não pode cumprir.

- Me testa, e você vai descobrir se eu cumpro ou não - estava embasbacado, quando ele tinha dado toda aquela intimidade para aquela adolescente mesmo? Ela agia como se estivesse no controle da situação e isso incomodava Cinco. Puxou de volta a gravata, se afastando um pouco. - Certo, eu ajudo você - voltou a se recostar na parede, ainda mantendo os olhos dourados no homem. - Só preciso de um tempo para pensar num plano.

- Eu já tenho.

- O que?

- Um plano... e ele é do caralho - ele enfiou as mãos no bolso, lançando um olhar debochado para a mais baixa, que parecia perdida nos pensamentos e sorria como uma psicopata avistando a vitima fácil.
- Quando você quiser, Mavis, eu tenho todo o tempo do mundo - divagou com ironia.

- Certo, me escuta - ela se acomodou na cama, ganhando tempo para os últimos retoques no plano. - Vou dar para aquela cretina o que ela quer.

- Handler?

- Conhece outra, Cinco? - travou o maxilar diante da audácia da loira, quis responder que estava diante de uma, mas se manteve quieto. - Vou parar de resistir as drogas, torturas ou joguinhos psicológicos - aquela com toda certeza era a pior parte. - Vou ser uma assassina - sussurrou para si mesma.

Under My Umbrella - 1963(REESCREVENDO)Where stories live. Discover now