Gritos, morte e devaneios.

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Eu estava caindo.

Não era uma sensação boa. Não tinha fim como nos sonhos, onde logo meu corpo encontraria oxigênio e saltaria da cama para a vida real. Realmente caia e caia. E quando finalmente alcancei o chão, me senti como um saco de bosta. Indefesa, fraca e inútil - todo o meu corpo doía. E embora o chão em que eu estava deitada fosse sujo e fedorento, eu não encontrei forças para levantar. Isso só me fez sentir ainda mais estúpida. Alguém riria de mim, se me visse assim.

Mas... quem?

Alguém de olhos verdes, sorriso bonito e nome esquisito. Eu sabia que, quem quer que fosse, estaria preocupado. Porém acharia um jeito de fingir que não.

Cinco. Isso! É ele! O nome do garoto é Cinco! Ou era? Onde eu estou? Por que estou no chão? Quanto tempo estou aqui? Forcei-me a levantar. Minha visão turva me impedia de identificar o lugar, o que era bem perturbador. Um grito cresceu na minha garganta. - Pai - graças a pouca força, o grito saiu fraco e arrastado. Tombei para trás, zonza e deslocada. Será que eu sou um alienígena que caiu na terra? Que ridículo! De onde você tira isso? Vamos, tente lembrar! O que eu estava fazendo antes de despencar aqui? Salvando o mundo da minha prima! Ou era mãe? Tia! Isso, era minha tia. Ela enlouqueceu, tudo virou um pandemônio. A lua explodiu e Cinco me mandou para cá.

E os outros? Haviam mais, eu sei. Meu pai e tios? E onde está minha mãe? Ai, meu Deus! E a minha mãe?

Senti minha cabeça girar e doer como nunca. Escutei passos atrás de mim, e uma vontade estranha de encontrar algo pontiagudo me possuiu. - Olá, querida - a voz desconhecida soou docemente atrás de mim. Virei e vi uma mulher de aparência peculiar, suas roupas eram extravagantes e seus olhos intensos. - Quem é você? - ela apenas sorriu e andou até mim. Dei passos para trás, erguendo minha mão numa tentativa de afastá-la. - Oh, não precisa ter medo. Eu vou cuidar de você.

- E-eu não s-sei quem-m você é! M-minha família es-está vi...ndo - me forcei a dizer, tentando parar de gaguejar em vão. Suplicava internamente para alguém conhecido surgir.

A mulher apenas me mirou um olhar de pena. - Eles não virão, Mavis.

Mavis.

- Ele te abandonaram.

- Não! Vai embora! - gritei, sentindo minhas costas encontrarem a parede. Estava encurralada. - Só queriam te usar, mas eu - apontou para si.
-...vou te fazer uma mulher muito, muito poderosa e especial - engoli seco, algo naquela mulher não era confiável. Suas roupas excêntricos, olhar carregado de cinismo ou voz aguda e irritante. - N-não chegue perto... - senti os meu olhos arderem. Eu estava chorando. Ela suspirou. - Pois bem. Você não me dá escolha - a vi retirar um revólver do bolso e apontar para mim. - Bons sonhos, querida.

E enfim, eu voltei a cair.

— >>> —

- Mavis?! - chamou olhando ao redor, mesmo não conseguindo entender onde estava. - Diego?!! - a mente do viajante estava uma confusão. O medo de ter estragado tudo e matado sua família começava a pesar na sua mente.

Estava num beco sujo. Olhava ao redor em busca de qualquer evidência que o mostrasse onde e quando estava. Tiros e bombas foram ouvidos. O jovem se virou e pôde ver soldados atirando contra algo. O quer que seja, estava dando um grande trabalho. Correu para fora, sem medo algum, uma palavra martelava em sua cabeça -  "Mavis". Não que não se importasse com os outros, mas a loira estava fraca e machucada da ultima vez que a viu, sem contar que era apenas uma adolescente.

"Os soviéticos atacam os EUA"

Foi o que leu no jornal entre pedras ali. A cidade estava um caos, ele parecia estar vivendo um terceiro apocalipse, e só Deus sabe o quanto ele desejava estar errado, algo raro, eu pontuou.
- Não pode ser verdade - sussurrou, estarrecido. Mas as vozes russas e americanas com o som de tiros ao fundo o faziam acreditar que sim, de fato era verdade. Um soldado ajudava um homem aleatório ali, já outro o mandava abaixar. Cinco tinha a mente longe dali, muito, muito longe.

Under My Umbrella - 1963(REESCREVENDO)Tahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon