Terminação

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A rotina se desenrolava como uma sinfonia dissonante, onde cada nota era uma repetição implacável da anterior

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A rotina se desenrolava como uma sinfonia dissonante, onde cada nota era uma repetição implacável da anterior. As manchas de mofo, redondas e meticulosamente delineadas, adornavam o teto como marcas de um relógio eternamente preso em um único momento. Os arranhões profundos, como cicatrizes na madeira envelhecida da porta, contavam histórias silenciosas de tentativas de fuga fracassadas. E o odor pungente de urina, impregnado nas paredes estreitas, era uma constante lembrança de sua existência em um espaço que parecia diminuir a cada respiração.

Cada dia começava com a mesma litania entediante: contando as manchas, examinando os arranhões com um olhar sombrio e torcendo o nariz diante do fedor nauseante que permeava o ar. Era como se estivesse preso em um ciclo interminável de desagrado, onde a cama dura era um lembrete constante de sua desconfortável existência, os lençóis ásperos como lixa agredindo sua pele e a comida insípida apenas intensificando sua aversão ao ambiente.

Tudo ali parecia meticulosamente projetado para provocar-lhe desconforto e descontentamento, como se as próprias paredes, pintadas impiedosamente de branco, conspirassem para mantê-lo cativo em uma monotonia desesperançosa. Cada detalhe, desde as manchas no teto até o aroma repugnante, era uma lembrança cruel de um passado perdido, evocando memórias de quadros pendurados com ternura em uma parede agora vazia e desolada.

Dirigiu seus olhos para além da janela, onde os raios de sol, fracos e escassos, acariciavam suavemente o lado de seu rosto, delineando os contornos da grade de ferro maciço que protegia a abertura. A sensação era quase reconfortante, uma breve interrupção na monotonia sufocante de sua cela. Seus olhos então se voltaram para a porta recém-aberta, identificando o enfermeiro de plantão nos finais de semana, uma figura habitual que se misturava à paisagem previsível.

— Você tem visita. — Anunciou o enfermeiro, quebrando a rotina estagnada com aquelas palavras inesperadas.

Uma ruga de surpresa vincou sua testa. Fazia cinco meses desde sua última visita, um período de isolamento que parecia se estender indefinidamente. Nem mesmo seu pai, tão distante e ausente desde os eventos que o levaram a esse lugar, havia se dignado a aparecer. As lembranças das palavras cortantes de Dan ainda ecoavam em sua mente, as promessas de perdão adiadas sem prazo.

Entre lembranças dolorosas e desejos por reconciliação, se viu caminhando pelos corredores intermináveis, onde os gritos abafados dos outros pacientes ecoavam pelas frestas das portas. Seus punhos se cerraram involuntariamente, as unhas cravando-se nas palmas das mãos, um reflexo de sua ansiedade crescente diante do desconhecido iminente.

As memórias de seu julgamento ressurgiram, aquele momento devastador em que foi proclamado culpado diante dos olhares acusadores de seus colegas de classe. A transferência para o reformatório juvenil veio como uma sentença adicional, enquanto suas tentativas desesperadas de provar sua inocência foram recebidas com ceticismo e descrença.

Em sua busca por justiça, se agarrou ao seu advogado designado pela Defensoria Pública, compartilhando repetidamente sua versão dos eventos na esperança de encontrar uma brecha na narrativa incriminadora. Cada vez mais, implorava para que o advogado descobrisse o nome do orfanato onde Kate, a única testemunha que poderia confirmar sua inocência, havia trabalhado. Era a única esperança de encontrar evidências tangíveis que pudessem validar suas alegações e desvendar o mistério envolvendo o enigmático Zayn.

AS RUÍNASWhere stories live. Discover now