— Eles estão felizes. Essa sua mania de colocar dúvida em tudo, menino... Você precisa encontrar uma boa mulher e...

— Jesus, pare, dona Magnólia! Estou muito bem da forma que estou — digo com convicção e ela estreita os olhos castanhos e experientes para mim.

— Algo me diz que essa moça tocantinense lhe causou uma boa impressão — retoma como um disco arranhado. — Do contrário sequer lembraria seu nome, filho, conheço muito bem meus meninos — se gaba quando estreito meus olhos de volta.

— Assim a senhora me insulta, vovó — reclamo.

— Sim? Me fale pelo menos dois nomes das outras comissárias da rota de Palmas, filho — ela me encurrala.

Minha avó quando cisma é pior que do Sherlock Holmes. Não desiste até desvendar o caso. Eu franzo a testa, tentando lembrar um nome, apenas um maldito nome, mas não me lembro. Ela abre um sorriso triunfante, testemunhando meu esforço vão. Foda-se, ela é boa! Rio, meneando a cabeça.

— Não me recordo — admito e seu riso amplia.

— Conheço meus meninos — torna a se gabar. — Agora pare de enrolar e me fale sobre a moça.

Gemo. Ela não vai mesmo sossegar enquanto não lhe der algo.

— Está bem, a senhora venceu — expiro e me ponho a falar sobre a tigresa. Quanto mais falo, mais a sensação esquisita cresce em meu peito. Porra, sinto falta dela. Me acostumei a vê-la com frequência.

Já tem duas semanas que nos despedimos. Pensei em ligar muitas vezes, enviar uma mensagem, porém, desisto antes. Ainda não é o momento de falar com a garota. Estou organizando tudo para lhe lançar uma proposta... Só estou esperando passar as festas de fim de ano para fazer a minha jogada. Dessa vez a cachorra linda não vai dizer não, tenho certeza. Quer ser pilota, no entanto, está muito restrita a seu estado e isso não irá acontecer se continuar se escondendo em Tocantins. Ela precisa vir para cá, de preferência para o programa de pilotos da HTL, o qual vou voltar a comandar em janeiro. Irei prepará-la, transformá-la na melhor pilota da porra do Brasil. Em troca ela só tem que me dar o que eu quero... Um arranjo simples e claro. Sei o que estão pensando. É imoral uma proposta nesses termos. Claro que é, estou ciente disso, mas não me importo. Com esse pensamento, franzo o cenho, percebendo que estou recorrendo a um subterfugio escuso para ter uma mulher, tal qual H ao obrigar Sofia a se casar com ele. Caralho, deve estar no DNA sermos uns bastardos totais. Ironizo.

— Parece uma moça inteligente e esforçada — minha avó pondera quando encerro o relato.

— Ela é. Apenas um pouco medrosa ainda, mas vamos resolver isso em brev... — me corto abruptamente e o sorriso de minha avó é amplo nesse momento. Me pegou no pulo como quando era criança e fazia uma travessura nas férias escolares que passávamos em sua casa. — Vovó... — advirto-a.

— Não vou mais esticar o assunto, prometo. — Sua expressão está alegre outra vez.

Pensa que vou sossegar porque me encantei por Pietra. Não nego, a morena me fascina. Quero fodê-la por um tempo, degradá-la, usar do jeito que eu quiser, entretanto, não vai além disso. Eu não tenho relacionamentos, apenas fodo. É assim desde sempre, não sei por que minha avó está usando óculos cor-de-rosa agora. De fato, ela não toca mais no assunto e lhe falo sobre o meu retorno das rotas intercontinentais. O carro corta o jardim de H e logo estamos na garagem, me fazendo interromper o relato. A ajudo a descer e coloco sua mão na curva do meu braço, conduzindo-a pela escadaria frontal.

— A senhora será a mulher mais linda da festa, dona Magnólia. — Dou-lhe uma piscada galanteadora. Ela dá uma risada gostosa.

— Meu menino levado. Obrigada por tanto carinho com essa velha senhora — murmura com os olhos brilhantes de amor. Me inclino e beijo sua têmpora antes de seguirmos para dentro da casa.

A PROPOSTA - TRISTAN - Série Turbulência (DEGUSTAÇÃO)Where stories live. Discover now