Como Ícarus

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Taehyung x Hoseok 

Esta one shot é um vislumbre da relação de Taehyung e Hoseok narrada do ponto de vista de Taehyung.

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Tinhas-me por completo, mais do que alguma vez pensei que fosse possivel. Tinhas-me porque me entreguei sem saber e ainda jovem me deixei levar pelos teus doces encantos quase como se fosses uma melodia que eu não conseguia parar de escutar. Tu eras alma esvoaçante e pensativa que certa sabia o que fazer, e eu incerto me agarrava a toda a réstia de amor e me enganava querendo sempre algo mais. Não que não me amasses, era só que entre as camisas de flanela sujas no chão do teu quarto e as guitarras penduras na parede do meu, o amor parecia diferente.

Eramos como uma melodia de Beethoven com entrelinhas do Eminem. tão confusos e complexos, tão nós. Eramos um romance da tarde, mas com um sabor amargo no final. E entre essas incertezas camufladas do que eramos e do que seriamos nos deixávamos perder, iludidos de que os sussurros partilhados ficariam contidos naquelas quatro paredes. Ali eramos livres, ali eramos nós, longe de todos os olhares da sociedade e das imposições que mais cedo ou mais tarde pesaram demais sobre as tuas costas.

Corremos no nosso tempo, vivemos entre especulações e saboreamos a nossa própria história de amor no papel das cartas que trocamos. No entanto, o tempo é cruel e a distância nossa inimiga, e se antes me derretia entre prazeres e caricias, agora me contorcia de saudade apesar de saber que tu ainda me amavas. Comecei a sentir falta de nós. Quando voltaste estavas mais velho, os teus olhos mais experientes e as tuas mãos calejadas e eu continuava com os mesmos olhos esperançosos, mas agora com a alma mais dolorida dos precalces da vida.

- Nem acredito que estás de volta, que estás novamente á minha frente hoseok.

- Eu prometi que ia voltar, amor.

- Senti tantas saudades, saudades de te tocar e de te sentir

- Eu também, tae.     

Tu tremias com medo dos teus pensamentos e mentias até para ti mesmo, como se quisesses ignorar a verdade e eu feliz fui caindo num desespero sem fim quando te ouvi falar de outra pessoa com o mesmo carinho que falavas de mim. No fundo ambos sabemos que isso não era amor, mesmo que tu duvides e te tentes enganar, entre tu e ela não era amor. Mas mentias, dizias que era o melhor e deixavas-te perder cada vez mais nas tuas desculpas. No fundo sei que ainda me amavas, mas o teu amor era covarde demais.

Agora, neste quarto de hotel quase abandonado amar-te já não parece tão bom. É quase como enterrar-me a mim mesmo, mas ainda assim submergir e lutar, porque entre os lençóis sujos e os teus doces beijos, no final, só restavam as minhas lágrimas e o cheiro do teu perfume barato. Me deixo levar no teu embraço, sentindo os teus lábios no meu pescoço e as tuas mãos tentando tocar-me em toda a parte; pareces aflito á procura de algo puramente carnal que te possa satisfazer e eu me vou deixando enganar aflito que estes momentos acabem.

Deixei que me tomasses por completo, acreditei em ti mesmo quando nada parecia correto, e me afoguei num oceano só teu. Procurei por ti bem no teu fundo e lutei por nós indo contra o que era certo e perdendo os meus princípios. Caí, e agora vivo atormentado pelas minhas escolhas tentando fugir, mas a terra continua a girar e eu sempre acabo por te encontrar. Talvez seja eu que não tenha coragem suficiente para colocar um ponto final na nossa historia ou talvez sejas tu que insistes no erro e me  continuas a procurar.

Estamos cada vez mais enfiados nas nossas próprias mentiras, e o amor que começou com uma troca de olhares, com um segurar de mãos e com beijos ao luar é agora vivido entre quartos de motéis e estacionamentos abandonados. Já não sei se nos pertencemos; deixamos de ter som. Agora entre as nossa entrelinhas predomina o silêncio aterrador das coisas que deixei por dizer e dos sentimentos que guardaste tão dentro de ti.

- Desculpa-me - As palavras são deixadas no ar como um peso sobre as nossas cabeças. Já vestido me abraças com força e escondes o rosto no meu pescoço chorando baixinho. Se no início as tuas lágrimas quebravam o meu coração agora são apenas símbolos das tuas escolhas, da tua falta de coragem e do teu medo.

-Está tudo bem amor.

-Sabes que te amo certo?

- Eu sei

- Amo-te tanto que nem cabe em mim

- Mas não ao ponto de me assumires

- Tae, sabes que eu

- Que não podes eu sei, que não te sentes confortável

- Eu pensei que tu entendias

- Eu entendo, juro. Não vou ser eu que vai contar, não é o meu lugar. Afinal que pessoa seria eu se arruinasse uma família tão bonita e deixa-se a pequena yumi crescer com os pais separados.

- Eu sinto muito

-Pelo quê seok?

- Por tudo o que está a acontecer, por termos chegado a este ponto

-Não é só a mim que tens de pedir desculpa

- Eu não queria que nada disso acontecesse

- Mas aconteceu

- Eu posso ficar aqui tae. Vamos ficar de conchinha e conversar sobre como foi o teu mês.

- Não, tu precisas de voltar a yumi deve estar á tua espera

- Ela pode esperar, eu invento uma desculpa e passamos a noite juntos

- É melhor ires! A yumi e a somi vão ficar preocupadas.

No fim do dia, isso foi o que bastou para ires. Quando sais do quarto do hotel perdes toda a tua compostura e desabas cansado desta vida que te obrigas a viver. E eu da janela, ainda com as tuas meias te vejo ali tão sozinho, tão triste porque sabes que o nosso amor se tornou rotina, se tornou problema. Talvez eu te devesse deixar ir, porque amor quando os teus lábios se curvam e o teu semblante fecha, os meus céus escurecem e o oceano por onde tento navegar se revolta.

E tu sabes muito bem que por ti eu me arruinaria um milhão de vezes é só que agora eu não tenho nada mais para dar. Sou como Ícaro, vivi pela tua luz que queimava por entre a minha noite escura deixando-me viciado e agora, na calada da noite, choro copiosamente afogando-me na minha própria culpa. Agora estou tão perdido e cansado que decido ignorar o quão tudo é errado e no escuro chamo o teu nome. Será que tu também chamas por mim?

Era amor quando te conheci, era amor quando te vi dançar pela primeira vez, era amor quando nos beijávamos e nos cuidávamos. Era amor antes de tudo. Agora, é tristeza quando penso em ti, tristeza quando te vejo ir e quando te vejo nos braços dela, mas apesar de tudo ainda é amor. O problema é que agora o amor já não é suficiente. Querer-te não chega para pagar a dor que sofro e que ao mesmo tempo inconscientemente causo.

Quando a voz me falha e as lágrimas são tudo o que resta, as lembranças sobre nós serão como segredos ocultos que me farão de refém do passado ano após ano porque quando a altura chegou eu sabia o que era certo a fazer, mas mesmo assim fiz tudo errado. E agora, passados tantos anos sinto que o tempo passada devagar e que o meu coração bate rápido por saber o que o espera, por ansiar e temer o futuro já tão certo. Eu odeio esta parte porque é aqui que o nosso fim começa.

Nos amávamos mais do que o mundo podia compreender e por entre as metáforas deste nosso amor ficará sempre na lembrança os teus jeans rasgados e o teu amor inconfundível pela dança ou as minhas garrafas de tinta meio vazias e os meus mil instrumentos musicais. No final, o amor deixou de ser suficiente. E se antes dançávamos por míseros segundos numa balada continua e eu prendia-me cada vez mais á tua essência, agora os nossos corpos já não estão em sintonia.

Tu eras o meu sol e eu, como Ícaro, aproximei-me demais e me queimei.

Como ÍcarusWhere stories live. Discover now