Os que Vão e Os que Ficam.

1.8K 132 10
                                    

Quando Wallace me ligou confesso que fiquei aliviado. Acabei contando tudo o que havia acontecido, falei para ele sobre Maria e seu comportamento questionável, e tive que ouvir algumas poucas e boas de Wall. Ele dizia:"Você deixou ela entrar no seu quarto? Você é louco? Se eu fosse a Mila te dava uma lição seu idiota !".É claro que ele sabia que não havia acontecido nada,mas acho que ele só estava me dando um alerta. Fiquei surpreso e até feliz em saber que toda aquela implicância com a Mila não era pessoal, era apenas o jeito dele de dizer que gostava dela.

Wall disse que precisava ver a minha nova casa, passei o endereço para que ele pudesse me encontrar naquela tarde mesmo.

Fiquei no meu quarto, deitado na minha cama incrivelmente espaçosa e macia, olhava para o teto tentando pensar sobre o que faria a partir daquele momento. E poderia ter passado a tarde toda submerso em meus pensamentos e dúvidas se alguém não tivesse batido na porta.

- Noah ? Posso entrar ?

Era a minha madrasta,me levantei já colocando minha camisa e tentando arrumar meu cabelo. Quando achei que estava no mínimo apresentável disse:

- Pode entrar.

Ela abriu a porta do quarto e eu quase não a reconheci, a mulher cheia de vaidade que vi na escada algumas horas atrás não era mesma que se encontrava a minha frente, com os olhos inchados e o nariz vermelho, seus ombros pareciam carregar uma carga muito pesada, e suas mãos tremiam levemente. Olhei para ela com uma pontada de pena, e me senti culpado pois sabia que aquele tipo de olhar era esmagador.

- Está tudo bem ? - Perguntei um pouco na defensiva.

Ela me olhou demoradamente e com um sorriso triste.

- Sim, eu estou bem. Só estou um pouco indisposta. Mas não estou aqui para falar de mim, vamos ter algum tempo para conversarmos depois.. Se você quiser é claro. - Não havia nem um resquício de orgulho e determinação ali, somente uma mulher triste e esgotada.

Permaneci calado. Não esperava que ela fosse assim, imaginava uma mulher forte e independente que me olhasse com certo desprezo e rancor, senti orgulho da minha mãe, que mesmo passando pelo que passou ainda era mais firme que ela.

- Seu pai quer te ver agora.

- Ele está aqui?

Ela me olhou compreensiva, fez uma tentativa de sorrir mas falhou deixando uma lágrima escapar.

- Seu pai precisa conversar com você.

Senti um desconforto imenso dentro do peito,como se de repente os céus reivindicassem toda a minha sorte.

- Achei que ele estivesse trabalhando.

- Por favor venha comigo.

No momento achei melhor não questionar, tudo ao meu redor parecia frágil demais e eu simplesmente não me atrevia a quebrar o momento em pedaços.

A segui por um corredor longo, não havia empregados naquele lado da casa, e tudo parecia mais fino e quebradiço por ali, a atmosfera estava pesada e com uma morbidez que fazia com que meus osso ficassem mais pesados e que meu corpo ficasse cada vez mais dormente.

A madrasta me ofereceu um sorriso de conforto ao que eu desviei o olhar rapidamente. Ela suspirou, sua mão descansava na maçaneta da porta. Ela fechou os olhos como se pedisse aos céus alguma coisa importante.

- Seja gentil com ele.

- Tudo bem.- Eu estava assustado com o clima pesado que havia se instalado naquele lugar.

E já não sabia se eu estava forte o suficiente para enfrentar o que estava por vir.

Ela abriu a porta e fez um sinal com a mão para que eu entrasse.

Cartas de um SuicidaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora