Uma Questão de Tempo.

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-Eu não sei se isso é seguro.

Na verdade eu tinha certeza que montar naquela moto não seria nada seguro. 

- Não seja bobo ! Vamos, é como se voce estivesse voando. 

Olhei meio inseguro para ele. Mas resolvi ir em frente. Eu disse que daria uma chance. Então eu daria.

- Esta confortavel ?

- Estou. 

- Tem seguro de saúde ?

Ja ia perguntar "como assim ?" quando ele arrancou com tudo, no começo eu me agarrei a ele como uma garotinha, mas depois abri os olhos, nós íamos muito rápido, e ele uivava de prazer. Soltei uma das minha mãos, e a ergui para a cima. Sentia o vento batendo raivoso contra meu rosto, e bem, eu senti como se estivesse a mil pés do chão, voando pra lugar nenhum. 

E quando menos esperava, um instinto primitivo me encheu, e eu gritei como se não tivesse voz. Ele gritou comigo. E nós éramos dois loucos, que fingiam que voavam, e que gritavam sem cessar. 

Rodamos com a moto ainda mais um tempo. Eu sentindo aquela carga de adrenalina pelo meu corpo. Quase como se eu estivesse saindo do meu corpo.

Nós íamos muito rápido, ate que não conseguíamos distinguir a paisagem em nosso redor, como se estívessemos mais rápido que o próprio tempo.

Eu definitivamente gostei daquela sensação.

Ele parou e me pediu para descer. 

Acabamos em uma barraquinha de hamburguer. E eu desconfiava que estávamos do outro lado da cidade.

Ele me olhou meio intrigado.

- É impressão minha ou voce cresceu ? 

Olhei para ele meio sem graça. 

- Eu tenho feito alguns exercícios..

Ele deu uma risada engraçada.

- Por causa daquela garota certo? É Mila o nome dela ?

- É isso mesmo. 

Nos sentamos em uma mesa do lado de fora que ficava perto da moto dele. 

- E voces estão bem ?

Ele parecia interessado. Na verdade todas as vezes em que nos falamos, seja por telefone ou pessoalmente, ele sempre pareceu interessado.

- Estamos bem. 

-Hmmm.. Muito bom. E voce ja conheceu os pais dela ? Por que a primeira impressão é a que fica. E não se incomode se o pai dela te odiar, essa é a função dos pais, odiar todos os meninos. 

- Na verdade, ela não mora com os pais.

- Sério ? Nossa.. Quantos ela tem ? 

- 17, a mesma idade que eu. 

- E ela estuda ? Ou é uma mente idependente como voce ? - ele disse isso com um ar de sarcasmo, mas isso não me ofendeu. Na verdade ate achei um pouco engraçado o modo que ele falou.

- Não.. ela estuda a noite. 

Conversamos mais um pouco sobre a escola, e ele tentava sem sucesso me covencer sobre a importancia da faculdade, ele me falava sobre as varias experiencias malucas que eu poderia ter, e ele sempre ressaltava o peso que um curso superior teria no meu futuro. 

Tambem  discutimos sobre que tipo de hamburguer escolher, na verdade tudo começou quando eu pedi um hamburguer sem bacon.

Ele me olhou surpreso e perguntou:

- Voce acabou de pedir para tirarem o bacon ? 

- Eu não chamaria de bacon.. Chamaria de gordura. - eu disse isso sorrindo. Esse homem era mesmo engraçado.

- Esta me dizendo que não gosta de bacon ? - ele disse isso com os olhos vidrados, como se não pudesse acreditar.

- Voce gosta tanto de bacon assim ?

- Noah, eu diria que bacon é como se fosse minha segunda casa. 

Eu tive que rir. 

- Não ria . Nada pode ficar ruim se voce tem bacon.

- Bem então acho que é melhor comprar uma fazenda de porcos de uma vez. Assim a vida vai ser perfeita. 

Ele soltou uma risada. Mas foi interrompido pelo toque do seu celular. Ele olhou o visor e ignorou a ligação.

Nossos hamburgueres chegaram. E logo na sua primeira mordida ele soltou um gemido, indicando que estava ótimo.

- HMMM.. Eu senti falta disso.. 

- Gente rica não pode comer hamburguer quando quer?

- Bem, comigo o buraco é um pouquinho mais em baixo. Mas, vamos guardar isso aqui como um segredo ok? Se te perguntarem eu comi um prato de salada suculento. 

Logo em seguida deu uma outra mordida boa em seu hamburguer. 

Não conversamos muito. Cada um estava concentrado no seu próprio sanduiche.

O celular dele tocou mais algumas vezes. Mas todas as ligações foram ignoradas. 

Quando terminamos e ele estava pagando a conta quando o celular dele tocou mais uma vez, mas desta vez ele atendeu :

- O que é Leonor?

Ele ouviu por um bom tempo o que pareceu um sermão.

- Ah, por favor, eu ainda estou vivo. Meu Deus não precisa ficar assim, voce sabe que eu só quero aproveitar. Recuperar o tempo perdido. Eu nao tenho tanto tempo. 

Depois de mais um pouco de discussão ele desligou. 

- Sua mãe não esta preocupada ?

- Não, hoje ela trabalha a noite inteira no restaurante.

Estávamos indo em direção a moto quando recebo uma mensagem.

Oi ! Pode vir aqui em casa ? Pensei em assistirmos alguns filmes.

Era Mila, não sabia se conseguiria chegar lá. Quando perguntei se ele podia me deixar na casa dela ele me olhou sério e disse:

- Só se prometer que vai usar proteção.

Olhei para ele com os olhos arregalados e meu rosto queimando. 

- Nós não vamos fazer nada .. 

- Então não custa prometer. Voces adolescentes acham que conseguem se controlar mas quando veem ja estão com filhos e contas pra pagar.

Ele falava sério, mas sem querer acabei rindo da cara dele.

- Eu prometo. 

Ele me deu um sorriso satisfeito.

- Meu garoto. 

Ele bagunçou meu cabelo como um sinal de afeto. 

Saímos voando pela cidade .

E gritando como selvagens.

Cartas de um SuicidaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora