Epílogo

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Sirius

--- Isso é mesmo necessário? --- Questionei franzindo as sobrancelhas.

--- Claro! Você não espera chegar na escola com os cabelos cinzas, espera? --- Sophia cruzou os braços.

Encarei as embalagens de tinta na bancada da área de serviço, e depois as duas garotas a minha frente, Raquel segurava uma das embalagens e Sophia segurava uma tesoura. Eu não podia aparecer em público com minha atual aparência, ordens de Jasper.

--- Mas...mas eu gosto tanto da cor do meu cabelo... --- Falei passando a mão pelos fios que caiam sobre meus ombros --- Não queria pintar de uma outra cor!

--- Olha... --- Sophia puxou um banquinho e sentou a minha frente, elas haviam me jogado numa cadeira giratória --- Sei que é difícil para você, mas é um sacrifício que precisa fazer. --- Ela me deu um sorriso triste.

Após uma reunião nada amistosa com a Assembleia da família Willians Fox, Sophia havia pintado uma mecha do cabelo de azul outra vez, a mecha era bem maior que a da última vez que ela o fez. Faltavam duas semanas para o início das aulas e as duas moças assumiram a responsabilidade de me fazer parecer um adolescente normal. Difícil.

--- Podemos não cortar ao menos? --- Perguntei me esforçando para sorrir, as duas sorriram.

Eu tinha um grande carinho pela cor dos meus cabelos, era uma característica fiel da minha espécie, e embora ela não tivesse uma boa reputação, eu não podia negar minhas origens, eu era um Filho Das Estrelas e não deixaria de ser.

--- Prometo que não mexo no comprimento do seu cabelo. --- Raquel garantiu com um sorriso --- Qual cor deveríamos usar? --- Questionou.

--- Loiro? --- Sophia sorriu, fiz que não com a cabeça, não me imaginava loiro, ainda mais pálido como eu era --- Castanho, talvez?

--- O que acha? Castanho? --- Raquel perguntou indo até as embalagens e procurando o tom castanho. Ponderei.

--- Que tal ruivo? --- Rafael apareceu na porta e se encostou no batente --- Acho que ficaria um máximo! --- Sorriu.

--- Discordamos nessa, Rafael. --- Sorri passando as mãos pelos cabelos outra vez --- Que tal...preto? --- Sugeri.

--- Preto é perfeito! --- Sophia exclamou sorridente --- Vai ficar lindo, garanto!

Sorri sem jeito e deixei que as duas misturassem as tintas e começassem todo o processo para pintar meus cabelos. Mesmo com todas as semanas que passaram desde nossa volta, meus poderes não deram nenhum sinal de aparecer, nem sonhos peculiares nem nada do gênero. Se não fosse pelo Selo em minha mão eu nem diria que era um Guardião.

Raquel usava um secador de cabelos, aparelho muito barulhento por sinal, para secar as madeixas recém pintadas, elas haviam terminado de pintar e não me deixaram ver o resultado ainda. Espero que não fique muito ruim. Raquel me entregou um espelho e mandou que eu visse o resultado. Não ficou nada mal, o tom escuro que meus cabelos tinham agora, combinavam com o tom da minha pele e com meus olhos, outra coisa que eu terei que mudar. A caixinha com as lentes de contato azuis estavam no andar de cima, intocadas.

--- E então? O quê achou? --- Sophia perguntou anciosa.

--- Ficou deveras incrível! Muito obrigado meninas! --- Sorri abaixando o espelho, Rafael resmumgou algo sobre ele não ter reconhecimento pelo esforço e começamos a rir.

***

Puxei com força o ar para meus pulmões e cai de rosto na terra escura. Que lugar era aquele? Cuspo a água que me impedia de respirar e me sentei no chão. Não acreditei no que vi quando olhei em volta, e meus olhos reconheceram o lugar. Aquele lugar.

Era um sonho? Só podia ser um, não havia como eu estar lá, não...não é possível que eu esteja aqui. Forcei-me a ficar de pé e alguma coisa, ou melhor alguém apareceu já alguns metros a frente de mim. Encapuzado. A figura dos sonhos dos meus amigos agora também atormentava os meus. Mas não havia espada em sua mão, e eu definitivamente não estava na Província da Terra.

Tentei falar, mas minha voz não saiu. A figura ergueu uma das mãos, e algo me alertou sobre uma presença sombria naquela figura. Uma rajada de vento limpou o chão de terra entre nós, e vi a figura abaixar a mão, senti algo estranho fervendo em minhas veias e meu corpo pesado começar a cair.

Atingi o chão com força. Um grito preso na garganta, levei as mãos a cabeça sentido uma dor muito forte lá. Abri os olhos com dificuldade e vi um teto, mas não eram apenas lâmpadas apagadas que estavam lá...

--- Sirius?! --- Alguém me chamou, olhei para os lados, eu estava na sala de estar da casa dos gêmeos e Raquel descia correndo as escadas --- O quê aconteceu? Que grito foi aquele? O quê está fazendo aqui?

Minha dor de cabeça aumentou e alguém ligou as luzes, Jasper e Rafael, ambos com cara de sono e descabelados apareceram em meu campo de visão, engoli em seco e apontei para o teto. Raquel franziu as sobrancelhas e olhou para cima, assim como Rafael e Jasper. Vi pela expressão deles que eu não havia imaginado o que vi.

Minha cama e meus cobertores pendiam acima e nós, atravessados no material resistente que formava o teto, sua outra parte ainda devia de estar em meu quarto. Eu havia atravessado o teto, e trazido minha cama, ou parte dela junto comigo.

--- Seus poderes... --- Raquel começou me encarando, séria --- Apareceram.

Guardiões: Os Escolhidos [Concluída]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora