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Era tudo muito claro agora.
Grandes paredes substituídas por vidro me cercavam trazendo à tona uma floresta sombria e destoada, mesmo que lá fora estivesse iluminado, ainda assim o dia parecia nebuloso e triste.
Além das paredes de vidro, o teto era de uma madeira escura, junto com o piso coberto em parte por um carpete felpudo e perfeitamente limpo cor de creme.
O meu corpo cheirava a álcool, maconha e suor, apesar das minhas roupas não serem mais as mesmas de ontem. Um cardigan amarelo claro de tricô e uma calça azul marinho cobriam o meu corpo agora, junto com uns tênis all-star no lugar dos saltos altos, substituindo as roupas pretas que usava antes. Eu precisava de um banho urgentemente, havia roçado em mais pessoas ontem do quê em – provavelmente – minha vida inteira e, mesmo que não conseguisse suar, fedia e grudava com a mesma intensidade de um humano. Nojento.
Devaneei sobre os acontecimentos que me fizeram apagar, tremendo com as minhas últimas lembranças aterrorizantes. A boate lotada era nítida e menos confusa enquanto reavaliava os meus próprios pensamentos. Alec teria procurado por mim? Se sim, o que ele achava que havia acontecido? Um murmúrio sôfrego exala da minha garganta quando lembrei da cena ao lado de fora da boate. Alec teria seguido o meu cheiro com Demetri e talvez em algumas horas a minha família estivesse aqui para acabar com os Cullen e me levar para casa. Mas como iria saber se realmente era verdade? Quem poderia me garantir que a noite passada não foi nada mais que uma alucinação maluca da droga de Jane, se apenas eu pude ver tudo aquilo? Mas que... Droga!

Eu não conhecia aquele espaço. Definitivamente era algo novo apesar da floresta escura e de certa forma peculiar estar em algum lugar nos meus pensamentos mais antigos. Não poderia ser onde eu imaginara, era distante o suficiente para um voo de onze horas, isto se tivessem sorte de não haver escalas. Washington não era nada perto da Itália. Eu não poderia ter ficado apagada durante onze horas, podia?

A grande porta de madeira escura igualmente bonita e polida como nos meus pensamentos me fez ter vontade de sair dali. Era o que eu deveria fazer antes de piorar a confusão que eles estavam se metendo.
A maçaneta dourada me convidou a girá-la apenas pelo brilho reluzente. Aproximei-me hesitante, com certeza havia alguém atrás daquela porta se a minha imaginação estivesse certa. Não existia cativeiro se não houvesse um guarda na porta. Teriam construído um cômodo novo apenas para o meu sequestro?
Eles gostavam muito de reformas e talvez tivessem feito algumas durante o meu tempo fora, então com certeza aquilo não tinha sido construído especificamente para mim, afinal, eu não sou tão especial assim.
Com convicção agarro o pequeno objeto brilhante que cintilava com a luminosidade do espaço, rodando a maçaneta na minha mão com facilidade. Ela rodou e não saiu do lugar, girando na minha mão como uma bolinha de Baseball.

Mas como eu era idiota, é claro que estaria trancada.

Decidi que não quebrar a porta seria uma boa escolha, afinal alguém viria me explicar a situação uma hora ou outra, só não iria esperar tanto assim.
Me afastei da porta devagar e fitei o outro lado da sala, correndo até o vidro da grande parede e observando ao redor, sentindo as minhas pupilas dilatarem com a claridade excessiva mesmo que isso não incomodasse. Percebi, ao longe, o barulho das águas agitadas de um pequeno rio não muito distante dali. Esquilos e coelhos perambulavam dando continuidade às suas atividades diárias, o que me fez perguntar a mim mesma que horas seriam. Pela posição do sol dentro das nuvens densas um pouco mais inclinado para o lado oeste poderia chutar que seriam treze ou quatorze horas, mas não diria com toda certeza já que as nuvens eram grossas o suficiente para me enganarem sobre a posição do sol.
Continuei observando ao meu redor tudo que as paredes de vidro me revelavam do exterior até onde a vista alcançava. As lembranças, antes turvas e longínquas começavam a tomar um pouco de forma, tremi com os meus próprios pensamentos mais uma vez, sabia o que ia acontecer se o que estava pensando estivesse certo. Se os Cullen tivessem mesmo me sequestrado, em breve os Volturi viriam em minha busca, prontos para o verdadeiro massacre que adiaram anos atrás. E o pior era que tinham implorado por isto.
Quem em sã consciência entraria em terras inimigas e roubaria um integrante de um clã poderoso sem uma justificativa plausível e continuariam vivos para contar esta história? Eles eram malucos, definitivamente.

•  𝗔 𝗟 𝗩 𝗢 𝗥 𝗘 𝗖 𝗘 𝗥  •  A SAGA CREPÚSCULO Where stories live. Discover now