Ao seu lado

3.

     Quando completei dez anos de idade, meu pai fez no meu rosto a minha primeira tatuagem. Com dez anos eu não era como um garotinho qualquer que logo após a escola passava horas e horas entretido no videogame ou estudando para as atividades escolares. Aos dez anos eu era o garoto que estava em sua décima quinta viagem nos Estados Unidos junto com meu pai para comprar drogas. Eu nunca fui comum como todos os outros meninos da minha idade, não que eu seja anormal, mas grande parte da minha vida fui o garoto que todos olhavam e sentiam inveja pelas roupas que vestia — e ainda visto — no colégio. Eu era o rei do baile todo ano, não teve um único ano que não fui coroado junto com Naomi, a segunda pessoa mais adorara do colégio. Lembro-me de ignorar todos os convites para o baile, eu quase nunca estava disposto a sair de casa para aquela porcaria, mas minha mãe me obrigava a sair da cama e eu tinha que ir com meus amigos e ficar pelo menos até a premiação. Minha família sempre foi muito feita de aparências, já me acostumei com os costumes incomuns de cada um deles, mas principalmente do meu pai que está me passando o grande cargo dele para mim já que meu irmão mais velho, Liam, nunca aceitou. Um babaca.

Gabe acaba de chegar na base com péssimas notícias, o treinador Williams teve que se ausentar por uma pedra grotesca no rim e foi substituído por um sujeito que virá se apresentar amanhã de manhã.  Treinador Williams entendia os meus motivos, meu pai teve uma conversa séria com ele antes que eu pudesse me matricular e tenho certeza que ele entendeu o recado em que alguns dias eu teria que me ausentar para o meu trabalho. Já este novo indevido não saberá de nada, meu pai não poderá contar por novas ordens. Gabe pintou recentemente o cabelo, e para a nossa sorte nenhum dos coordenadores reclamaram até agora, não sei qual será a reação do novo treinador insuportável. Eu não queria que o antigo treinador fosse embora, gostava dele. Ele agia basicamente como meu segundo pai, me dava tantos conselhos e sempre deu! Mas agora o que eu posso fazer? Na real a minha única opção é aceitar que nunca mais o verei na minha frente outra vez, então tenho que arcar com as malditas consequências da pedra que ele tem no rim agora. Isso me deixa irritado, muito irritado.

Mia está enchendo a minha paciência e a do meu pai para ir na festa que rolará na casa do Gabe amanhã à noite, eu não quero nem um pouco que ela vá, mas também não faz nenhuma diferença na minha vida já que a pirralha tem o próprio grupo de amigos esquisitos e não enche a minha paciência enquanto estou curtindo do meu jeito. Todos naquela casa — bom, talvez nem todos já que minha mãe não faz ideia — sabem que eu uso drogas, tanto eu quanto meu pai não só usamos como somos os porta voz de Londres. Sei que não é algo para alguém se orgulhar, mas eu me orgulho bastante de quem eu me tornei hoje em dia. Tive que suportar a dor de uma fodida tatuagem no rosto quando ainda era um pirralho e sequer tinha pelos debaixo do braço, acredito que isso tenha servido para a minha força hoje em dia porque, sinceramente? Nada além do meu cachorro Dexter me abalada hoje em dia. Mulheres não me abalam, pessoas da minha família não me abalam, notícias ruins não me abalam. Meu pai me ensinou muitos princípios desde que eu tinha cinco anos de idade e virei seu aliado nas viagens. Minha mãe morria de medo quando meu pai me colocava no avião e simplesmente me levava para todos os lugares do mundo sem ela, sendo que minha irmã mais nova tem apenas três anos a menos e naquela época era apenas um bebê que queria atenção de ambos. Meu pai nunca deu muita bola pelo fato de ela ser uma mulher e não querer colaborar nem um pouco com o que ele propõem, então acabou que apenas eu segui seu caminho e pretendo me tornar o abençoado Senhor Ledger futuramente! Meu pai é foda.