5} Guilherme

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   Não dava para acreditar no que estava acontecendo na minha vida. Em um dia eu estava morando no orfanato no qual sempre morei desde criança e do nada eu estava no meio da rua com uma menina me ensinando a vender balas.

Eu verifiquei o semáforo pela terceira vez e vi quando o sinal fechou. Foi então quando Cecília tocou no meu braço sorrindo e logo depois disse para eu ficar observando, enquanto ela foi até o carro mais próximo. Achei engraçado seu andar ligeiro com aquele short folgado e meio rasgado. Seus cabelos voavam ao vento, enquanto ela andava.

Cada passo daquilo que ela fez era muito importante. Primeiro ela bateu de leve no vidro do veículo com o punho fechado. Assim que ele abaixou e revelou o rapaz sentado ao volante, a garota perguntou se ele estava afim de comprar balas ou salgados. Ele não mostrou nenhum interesse e logo ignorou ela, o que não pareceu a desanimar de jeito nenhum, pois ela, depois de olhar rapidamente para mim, logo seguiu para outro carro.

No entanto, somente na terceira tentativa foi que ela conseguiu vender alguns sacos de salgadinhos. E não acabou por aí; enquanto o sinal não abriu, Cecília não parou. Quando ela passou para carros mais distantes de mim, eu decidi a seguir, me aproximando um pouco, e ouvi quando ela começou a fazer as perguntas como se tivesse recitando algum verso, o que eu achei hilário, pois me parecia meio ridículo.

No geral, ela não obteve tanto sucesso, mas também não foi tão ruim. Assim que o sinal abriu, a garota de cabelos achocolatados, voltou para a calçada onde estávamos e eu me encontrei com ela.

— Nossa, que versinhos foram aqueles? — eu perguntei, quase gargalhando, pois estava meio difícil segurar a vontade de rir daquilo que ouvi.

— Ah, para de rir, — ela respondeu, mas não parecia chateada de verdade. — 'foi uns 'versinho que me 'veio assim de repente. Pelo menos, eu consegui vender alguns, quero ver você fazer melhor.

— É óbvio que eu vou me sair melhor que você. — eu ri, me gabando, mas não muito confiante — E você não foi tão bem assim se quer saber, tá? Nota 6 de 10 pra você.

— Ah, tá. Só quero ver mesmo você ganhar de mim, espertão. 'Vamo esperar o sinal fechar de novo e aí você me mostra do que é capaz.

— Fechado, espertona! — sorri para ela.

Enquanto esperávamos, ela acabou me explicando algumas coisas que eu devia fazer e também me aconselhou a não dá atenção para aqueles que podiam me tratar mal ou simplesmente me ignorar. Não garanti nada, mas disse que tentaria. O sinal fechou mais uma vez. Respirei fundo e segui para o primeiro carro, decidido tentar dar o meu melhor.

— Bom dia, moço, aceita balinha hoje? – o homem simplesmente disse um não e subiu o vidro.

No mesmo instante, o sangue também me subiu. Mas eu respirei fundo, pois não queria estragar tudo antes de tentar direito.
Olhei para Cecília e ela estava rindo de mim. Ergui as sobrancelhas, mas deixei para lá. Continuei tentando vender o máximo que podia, carro após carro, e até que tive mais sorte algumas vezes. Consegui vender uma boa quantidade.

Voltei até Cecília um pouquinho mais animado, mas o meu pequeno sorriso sumiu, quando vi que ela ainda ria de mim. Assim que cheguei nela, a mesma falou:

— Olha, Guilherme, até que não foi tão mal assim, apesar de algumas 'coisinha.

— Que coisinhas? — estendi o dinheiro para ela, que pegou e guardou na sua porchat, enquanto respondeu:

— Tipo a cara que você fazia toda vez que recebia um não de algum cliente, ou quando era ignorado.

— Que que tem?

Ao Acaso | ConcluídoWhere stories live. Discover now