17} Cecília

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   Aquele menino estava correndo com tanta pressa que eu cheguei a pensar que iríamos alçar voo a qualquer momento. Eu estava com um frio enorme na barriga, com um medo insano do que eles estavam querendo fazer comigo. Mas estava com mais medo ainda do que eles estavam planejando fazer com Guilherme. Se aqueles meninos levaram seguranças até lá, eles já poderiam ter levado Gui de volta para o orfanato. E de brinde levariam o Ravi também.

Como eles tinham descoberto nosso plano?”

Mas eu tentava a todo custo pensar positivo, tanto por mim quanto pelos meninos.
Fechei os olhos, tentando parar meus pensamentos ruins — sempre dava certo —, e, não sei quanto tempo se passou, mas o menino parou a moto. Eu abri os olhos e olhei ao redor. Tomei um leve susto ao ver que estávamos no orfanato.

— Desce, menina. — o garoto foi rude, mas não me importei; desci da moto e, antes de eu pensar em qualquer coisa, ele desceu também e me segurou pelo braço. — Anda.

Acompanhei ele para dentro do lugar. Eu estava me sentindo uma daquelas mocinhas das novelas que assistia com o meu pai; sendo sequestrada e levada para as mãos da vilã. E nada me tirava da cabeça que era para as mãos da diretora malvada que estavam me levando. Agora o que eles pretendiam com aquilo, eu ainda não sabia.

— 'Tá me levando pra onde? — arrisquei a perguntar — O que é que vocês 'quer comigo?

— Não é nada demais, lindinha. Só queremos fazer um trato.

— Eu nem sei quem 'é vocês.

— Mas sabe quem é o Guilherme. É o que importa.

Não falei mais nada e o segui. Mas as coisas estavam começando a fazer sentido na minha cabeça; o importante para eles é que eu conhecia o Gui e estavam querendo fazer um trato comigo. Aquilo me cheirava a troca. “É, aquilo estava me parecendo cena de novela mesmo.”

Fomos parar na sala de uma mulher de cara entojada, que eu já sabia se tratar da diretora Ridícula. Ela estava sentada numa cadeira preta, por trás de uma mesa.

— Sente-se aí, querida. — me pediu, com uma falsa educação.

— Não quero. — fiz bico, sem me preocupar em ser educada, fosse falsa ou verdadeiramente. O menino me olhou de cara feia e empurrou meus ombros, me fazendo sentar na cadeira estofada. — Ai, seu grosso.

Ele quase sorriu debochado. Fiz uma careta para ele e depois olhei para a bruxa quando ouvi ela dizer:

— Então você é amiguinha do Guilherme.

— Não, eu nem sei quem é. — cruzei os braços.

— Ela sabe sim, diretora Lívia. — disse o menino, me fazendo encará-lo indignada. — Vimos eles juntos lá na frente do colégio. O Tropero estava certo, eles iam levar o Ravi...

— Cala a boca, seu bocudo! — eu me levantei, praticamente gritando com ele. Aquele menino era muito fofoqueiro pro meu gosto.

Ele só cruzou os braços, mas quem falou foi a mulher:

— Muito bem, queridinha — ela ainda queria se fazer de amiga e eu estava começando a ficar com muita raiva daquilo — vamos fazer um acordo...

Interrompi ela batendo forte na madeira da mesa.

— Pegue esse seu acordo e engula ele. Não vou fazer acordo nenhum! — gritei e corri para a porta, antes que o menino sequer tivesse tempo de se mover. Ele não esperava por isso e acabou ficando meio atordoado. Passei pela porta como um foguete.

Saí em disparada pelo mesmo corredor curto que eu tinha vindo com aquele moleque. Assim que olhei uma vez para trás, vi que o mesmo me acompanhava em alta velocidade. Quase trombei com uma moça quando virei-me para frente de novo, mas consegui desviar e continuar correndo. Virei à direita, torcendo para não ter errado o lado e continuei correndo. Olhei para trás mais uma vez e quase me permiti sorrir quando não vi mais aquele menino. No entanto, assim que ia voltar minha visão para frente, mãos me frearam pelos ombros. Eu gritei com o susto e olhei para a pessoa. Respirei mais forte quando vi se tratar do tal Tropero e que em seu rosto tinha um meio sorriso vencedor.

Ao Acaso | ConcluídoWhere stories live. Discover now