2} Cecília

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   Atenta ao semáforo, eu vi quando o sinal vermelho acendeu. No mesmo instante, todos os carros começaram a parar, dando início ao trânsito de Saquarema no Rio de Janeiro, a cidade onde eu morava. Meus cabelos castanhos medianos esvoaçaram, indo bem para o meio da minha cara. Tirei os fios da frente dos olhos rapidamente. Um dos carros parou perto de mim; já podia começar o meu trabalho. Eu abri o meu maior sorriso, antes de me aproximar da porta do veículo, dar duas batidinhas no vidro e esperar a pessoa aparecer.

Assim que eu tive a atenção do jovem rapaz, perguntei:

— Balas e salgadinhos, moço?

Ele me mostrou um sorriso e perguntou:

— Quanto custa o saquinho de balas?

— Dois 'real. Vai querer 'quanto? — já me preparei pra escolher.

Ele, pegando alguma coisa no porta-luvas, respondeu:

— Pode me dar cinco saquinhos, por favor?

— Agora mesmo! — imediatamente, comecei a separar os cinco saquinhos do monte que estava sobre o meu braço esquerdo.

Depois de fazermos a troca, guardei o dinheiro na porchat que sempre carregava comigo — quase amassando tudo —, e fui tentar outros clientes. Infelizmente, nenhum dos outros riquinhos daqueles carros foi tão receptivo e bondoso como o primeiro homem. Então, com tentativas em vão, aquela manhã não foi tão produtiva. Mesmo com toda a minha simpatia e educação, não consegui conquistar a todos. Mas tudo bem, pois eu sabia que à tarde seria melhor.

Sem nem olhar para os dois lados pra ver se o caminho estava livre — porque eu esqueci —, atravessei a rua e caminhei até a pracinha perto da igreja. Por sorte nenhum carro me pegou. Sentei-me no banco de madeira para esperar os meus amigos e irmos almoçar. Eles também trabalhavam vendendo balas e salgados nos sinais como eu, só que cada um tinha o seu ponto.

Passados alguns minutos, finalmente os avistei vindo em minha direção. A primeira a se aproximar foi Melissa, a única menina do grupo — fora eu —, toda sorridente, pela primeira vez na semana. Os meninos vinham logo atrás. Chegou atirando as novidades da sua manhã:

— Hoje foi muito bom, meninos! — Fiquei curiosa pra saber o que tanto aconteceu.

— Que maravilha, Mel! O que aconteceu?

Ela se sentou do meu lado e falou:

— A maioria das pessoas se encantou com a dancinha que eu inventei e quis comprar as minhas 'coisa.

— Gostaram mesmo daquela sua dancinha ridícula? — esse foi Gustavo. Ele adorava pegar no pé de todo mundo, mas no fundo gostava da gente.

Eu me levantei e dei um tapa no braço dele, mas sorri, enquanto disse:

— Cala a boca, idiota!

A Mel respondeu também:

— Não é ridícula, é bonita e cultural. E o mais importante; funcionou. Eu animei o dia deles.

Eu fiquei extremamente feliz pela minha amiga. Depois que ela parou de falar, olhou para o meu braço e viu que as sacolinhas que pendiam nele ainda eram muitas. Deixando de sorrir, ela perguntou:

— Hoje não 'tá sendo um dia legal?

Balancei a cabeça para os lados, mas não diminui o meu sorriso.

— As 'pessoa do meu ponto não 'era muito de comer besteira. Mas eu tenho certeza que de tarde será diferente. E, parando pra olhar, — olhei para meus outros três amigos — eu não fui a única que teve azar hoje, não foi?

Ao Acaso | ConcluídoOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz