I

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Sinto meu coração acelerado quando entro na sala, as luzes me trazendo um conforto absurdo. Minhas pernas ainda estão um pouco moles quando lentamente eu procuro um lugar vazio no fundo da sala o mais longe da janela, que deixa a noite mais visível.

 Coloco meus fones de ouvido e aguardo pacientemente o professor chegar.

 Alguns alunos, os poucos que tem ali, me olham atravessado. Por força do hábito, ajeito meus fios lilás e apoio o queixo em minha mochila.

 Tamborilo meus dedos na mesa no ritmo da música e ergo os olhos quando sinto um vento frio invadir a sala. 

 Os pêlos de meus abraços arrepiam quando eu olho para o garoto que acabou de entrar.

Ele veste uma jaqueta de couro escura. Seus cabelos são platinados, quase brancos. Quando seus olhos, tão escuros quanto a noite me alcança, eu desvio o olhar e volto a me concentrar na música que escapa de meus fones de ouvido. 

 Vejo-o caminhar com certa graciosidade, quase como se ele flutuasse. 

 Engulo em seco quando ele se senta na mesa ao meu lado, arrastando a cadeira de forma audível.

 Pelo canto do olho posso ver que ele apoiou os dois pés na mesa de forma relaxada, como se ele estivesse em casa.

 Fecho os olhos e tento ignorá-lo. Ignorar um problema, ou uma pessoa problema. E tudo nele transpira problema, ele tinha cheiro de problema. 

— Você tem um cheiro bom.

 Sua voz é suave e carrega um pouco de divertimento. Nós dois estávamos pensando sobre o cheiro um do outro?

Automaticamente desligo a música mas ainda permaneço com os fones de ouvido, uma forma de ignorá-lo mas ainda assim ouvir se ele vai me ofender de alguma forma.

 Puxo as mangas do meu moletom, escondendo minhas mãos e as trazendo disfarçadamente até meu nariz. O cheiro é normal com um leve odor de óleo das batatas fritas que minha mãe fritou antes de eu sair de casa. 

 O garoto se move, tirando os pés da mesa e inclinando seu corpo. Ele abaixa a cabeça na mesa e procura meus olhos. Uma força esquisita faz com que eu vire o rosto em direção à ele.

— Ouviu o que eu disse ou quer que eu repita?

 Sinto um calor subir pelas minhas bochechas. O garoto sorri e passa a língua nos lábios.

 Ele é bonito, bonito do tipo que poderia ter o que quisesse. Quem quisesse. 

 Seu rosto é angular e sua pele é muito clara, como se ele nunca tivesse tomado sol durante sua vida. Seus lábios são finos, cheios e delicados.

 Ele levanta a cabeça e estica o corpo na cadeira em que está sentado. Não basta ter um rosto perfeito, ele também tem um corpo perfeito. Esguio o suficiente para deixar qualquer modelo com inveja.

 Ele passa a mão pelos cabelos platinados que caem sobre seus olhos escuros.

 Tiro o fone e desvio o olhar, sentindo meu rosto queimar e o deixando sem resposta mas isso não impede que ele faça outra pergunta.

— Você é novo aqui, não é?

 A sala começa a encher e escuto alguns cochichos pela sala. Estavam falando de mim ou falando dele por estar falando comigo?

— É… sim.

 Vejo o vislumbre de um sorriso no canto de seus lábios quando eu respondo sua pergunta.

 O professor já deveria ter chegado, por um momento me sinto idiota por ter se preocupado em não chegar atrasado em meu primeiro dia.

— O professor… faltou?

Sweet Blood • BounPremOnde histórias criam vida. Descubra agora