Olhar de Fogo

02/11/2014 - 03:30h

Uma grande decepção...

Antes que eu me virasse, escutei a risada arrepiante de Acássia, e o grito de Dukian.

-       Lucian, tire a Hannah daqui, rápido! – Dukian gritou e uma parede de fogo se ergueu atrás de mim e de Lucian.

Não ousei espiar por sobre os ombros. Lucian me ergueu do chão e correu comigo no colo. Só então reconheci onde estávamos.

O porão, era da minha casa.

-       Por que fomos trazidos para cá, Lucian?

Ele apenas me encarou. Sério. Tenso. Aquela expressão pareceu dizer um milhão de coisas, e eu não entendi nenhuma delas.

-       Lucian? – insisti e o vi descer as pálpebras por um segundo enquanto corria. Mas ele não me respondeu.

A madeira da escada rangeu quando ele começou a subir os degraus que nos levariam até a sala da minha casa. O súbito silêncio no porão me fez olhar para baixo.

Não havia mais fogo. E a ausência de som chegava a doer os ouvidos.

Não! O que fizeram com Dukian?

-       Dukian precisa de ajuda! – Agarrei o ombro de Lucian.

-       Ele vai ficar bem. Preciso tirar você daqui primeiro.

-       Como você pode ter certeza disso? O que você está escondendo?!

-       Confia em mim, Hannah. – Ele repetiu a frase que parecia gostar de me dizer. Mas naquele momento, alguma coisa em seu olhar contava o contrário. Algo gritava que ele não havia sido totalmente sincero comigo.

A porta no topo da escada se abriu antes que a alcançássemos. E o que vi me fez gritar. De um jeito que jamais imaginei fazer.

Perdi o ar. A força. A razão. E a esperança.

O Fantasma Profano desceu o primeiro degrau. Seis mantos negros vinham atrás dele, todas de cabeça baixa. As mãos dele erguidas a frente, controlavam um corpo flutuando a alguns metros do chão. Olhei o tecido da camisola branca esvoaçando no ar, os cabelos pendurados, a cabeça pendendo para trás, e procurei pelos olhos dela. Estavam fechados. Ela não parecia respirar.

-       Mãe!!!

Lucian me apertou no colo com seus braços de ferro e desceu degrau a degrau da escada, de costas.

-       Me solta Lucian, me solta!

-       Hannah, ou você me escuta agora, ou tudo pode dar muito errado essa noite.

Ele andou comigo para o fundo do porão onde antes estavam as gaiolas e se agachou no chão, me mantendo bem presa nos seus braços.

-       Minha mãe Lucian! Ela precisa de ajuda! – berrei e escondi as mãos no rosto. Ele me abraçou.

-       Hannah, eu sinto muito pelo que vou te dizer...

-       Não! Eu não vou aceitar isso! Não vou escutar isso!

Cobri os ouvidos. Eu sabia exatamente o que Lucian diria. E se eu ouvisse, poderia se tornar verdade. E a partir do momento que fosse verdade, não teria volta. Mas eu não aceitaria. Não ficaria parada ouvindo a pior notícia da minha vida. Eu me recusava a perder qualquer outra coisa essa noite. Se existia alguma vantagem em ser a Genuína. Agora era a hora de descobrir.

-       Me solta Lucian. Eu vou trazer minha mãe de volta.

-       Banana...

-       Lucian, se você não me soltar, eu nunca vou te perdoar por ter me feito perder a única chance que tive de tentar. Eu preciso... eu preciso...