Parte IX - 31/10/2014

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Um soco, uma discussão, um disfarce...

Lucian tentou chegar ao terraço, precisava entregar sua parte do ritual à sua mãe, Acássia. Antes que a viúva negra, desse um jeito de arrancar os olhos do próprio filho. Não que isso fosse exatamente possível...

Tateou os ossos dentro do manto que vestia. Deveriam ser ossos de um inocente, colhido a força. Mas Lucian entregaria a ele, pedaços do esqueleto de um coelho. E a mentira só seria descoberta após a meia noite. Quando tudo desse errado para a Viúva Negra e seu amante. O Fantasma Profano.

Isso, pelo menos, era o que ele esperava.

Desviou dos convidados da festa, os fantoches de sua mãe. Viu um aglomerado deles se dirigir ao final do corredor, onde havia deixado Hannah sozinha.

Preciso ser rápido. Eles estão indo atrás dela.

Lucian, cruzou o salão da mansão, e quando ia correr, algo bloqueou o seu caminho. Sentiu um golpe violento no queixo e tombou, caiu sentado no chão.

Ergueu o olhar e rosnou. Um círculo de fogo amarelado se destacava na escuridão.

-       Dukian, seu babaca! Saia da minha frente! – Lucian se levantou e o empurrou, mas Dukian cruzou os braços e impediu sua passagem.

-       Eu sei que você está com a Hannah, Lucian. Eu a trouxe, e mandei que me esperasse na porta! Por que você tirou ela de lá?!

-       Porque ela estava chamando atenção, seu imbecil. Até quando vai continuar se comportando como um filhote adestrado de nossa mãe? Por que você a trouxe aqui?

-       Ela é diferente das outras. – Dukian abriu um sorriso de desdém.

-       Eu percebi isso, no instante em que a segurei no balanço. Mas já era tarde. E por isso mesmo, você deveria ter ficado longe!

-       Calma irmãozinho, melhor controlar os nervos, ou você quer que as chamas venham antes da hora?

-       Sai da frente, Dukian. Preciso entregar minha parte do ritual e Hannah está sozinha.

-       Pode deixar que eu cuidarei bem dela. E quanto à sua participação, saiba que sua parte no ritual será desnecessária, elas estão muito mais fortes esse ano.

-       Dane-se então. Mas fique longe da Hannah. Não acredito que você vai ajudar a Viúva Negra, depois de tudo o que descobrimos ano passado. Você é um puxa saco da nossa mãe mesmo. E será para sempre. Além de babaca, claro.

-       E você é o eterno cavaleiro. Pobre irmão com decência demais na alma para aceitar o que é. Eu tenho pena de você, Lucian.

-       Pelo menos eu ainda tenho alguma dignidade. E você ainda agarrou a Hannah? Seu covarde, acha que o mundo é seu brinquedinho.

-       Agarrei duas vezes, e pretendo repetir a dose. Só pra você saber, ela demonstrou gostar bastante. Qual o problema, já esta com ciúme?

-       Babaca.

-       Calma irmãozinho, cuidado pra não atear fogo na casa. Você ainda pode beija-la, você sabe. Antes dela se tornar inútil.

-       Desgraçado! Eu devia te encher de porrada. Aliás, é isso o que eu vou fazer!

Lucian acertou o olho direito de Dukian com um golpe certeiro. Dukian o derrubou com uma rasteira e ambos rolaram no chão. Os convidados formaram um círculo em torno dos dois. Lucian ergueu o olhar e viu que observavam sem se mover. Ele sabia o que aquilo significava. Eram os olhos de sua mãe, através dos corpos deles, que analisavam atentos a briga.

A distração, lhe rendeu um soco em cheio no queixo. Dukian o arrastou pela gorro do manto até a cozinha e fechou a porta.

Lucian se levantou pronto para acertar o irmão de novo. Não acreditou quando o babaca dobrou o corpo de tanto rir:

-       Irmãozinho, você é sério demais. Por que não tenta relaxar?

-       Você enlouqueceu?

-       Será que ela se convenceu da encenação?

-       Qual é a sua palhaçada de agora, Dukian? Não tenho tempo para isso.

Lucian ficou ainda mais incrédulo quando levou um tapinha de camaradagem na cabeça.

-       Eu não descumpri com o que combinamos ano passado. Não vou ajudar nossa mãe nessa. Muito menos, sendo Hannah a garota certa. O sangue que entreguei à elas, foi de rato. Não de uma virgem

-       É, ela. Tenho certeza. E por isso mesmo, você vai ficar bem longe.

-       Quero ver você me impedir.

-       Eu não encenei o que eu disse lá na sala Dukian. Você é um babaca manipulador e aproveitador. Cansei de dar chances a você.

-       Eu não lembro de ter pedido chance nenhuma, ó grande cavaleiro. E você está esquecendo de um mero detalhe não é, Lucian? Se elas conseguirem finalizar a primeira parte do ritual, quem será o único capaz de te segurar a meia noite? – Dukian ergueu as sobrancelhas – Você precisa de mim.

    Lucian apoiou as mãos na pia da cozinha. Detestava precisar de seu irmão. Detestava ser o que era. Um condenado. Um recipiente vazio à espera do hospedeiro maldito. Ano após ano ele ouviu aquilo. O que estava à sua espera. A maldição que sua própria mãe lhe jogou. Ano após ano, temeu esse dia. O momento em que a primeira etapa do ritual seria selada. Lucian não quis admitir, mas teve medo. Medo do que poderia se transformar. Medo de nunca mais voltar a si. Ou medo de voltar e descobrir algo ainda pior. O que teria feito, enquanto transformado. Lucian gritou de ódio, abriu um armário e atirou pratos por todos os lados. O som da porcelana quebrando lhe proporcionava certo alívio. Uma maneira de extravasar a injustiça a qual foi arremessado. Ele nunca quis nada daquilo. Nunca quis essa vida.  Mas normalidade, nunca seria algo na rotina de um filho de Acássia. Amante do Fantasma Profano. Nunca. Mas dessa vez, talvez ele tivesse uma chance. Afinal, Hannah estava ali.

    Lucian massageou a têmpora para se acalmar. Estava perdendo muito tempo. Não podia deixá-la sozinha com todos aqueles abutres circulando na mansão. Ele se virou para apertar a mão de Dukian e lhe propor uma trégua, mas o cômodo estava vazio.

-       Traidor!

Lucian abriu a porta e correu até a sala onde a havia deixado. Todos os convidados da festa o seguiram, como uma manada correndo atrás dele. Os fantoches de sua mãe, pelo visto entraram em ação. Seriam dali em diante, os olhos dela por todos os lados, e os bonecos que recitariam seus encantos.

Quando Lucian olhou para a porta da sala onde deixou Hannah, precisou apoiar as mãos nos joelhos. Talvez, ele tivesse chegado tarde.

Pobre Hannah.

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Se a Acássia chegar......

Olhar de FogoWhere stories live. Discover now