02/11/2014 - 02:30h

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Uns perdem, uns ganham?

Pisquei os olhos. A dor de cabeça comprovava que alguma coisa havia me atingido. Minha vista embaçada identificou uma tocha em um canto do que parecia um quarto escuro. Inalei um aroma enjoativo. Flores e algo morto. O suor grudava o vestido de noiva em meu corpo.

Senti os braços dormentes e quando tentei traze-los para frente, as algemas bloquearam o movimento.

Sacudi a cabeça, confusa.

Haviam grades a minha frente.

Isso é uma gaiola?

Respirei arfante. O pânico e o medo faziam meu sangue gelar.

Lutei para compreender onde estava, e a lembrança do meu último momento acordada, trouxe a dor dilacerante de volta.

Lucian. Caído na raiz da árvore. Seu peito oco. E um objeto voando em minha direção.

Movi os pés e as correntes se apertaram nos tornozelos. O terror tomou conta de mim.

Girei o pescoço e vi outras gaiolas ao meu lado direito. Todas vazias, exceto por uma, preenchida por uma labareda que subia alto e crepitava ruidosamente.

-        Hannah! Você está bem? – Dukian me perguntou de dentro das chamas. Seu semblante desesperado me provocou dor física.

-        Me perdoa Hannah, eu fiz de tudo pra salvar você. – Ele tentou outra vez se libertar do fogo, e as labaredas estalaram. Um mar de chamas amarelas se espalhou no ambiente. Identifiquei um porão.

-        Não foi culpa sua Dukian – respondi e arregalei os olhos ao ver o que havia no fundo do porão agora iluminado. Meus olhos queimaram. Os batimentos aceleraram com força.

Encarei uma estaca de madeira. E o corpo desacordado pendurado nela.

-        Lucian – gemi.

Ele parecia...parecia...Morto.

-        Não, Lucian! Acorde! Acorde, por favor! – gritei.

Escorreguei até o chão úmido da gaiola e encostei a testa na grade de ferro. Meu corpo inteiro tremia. As lágrimas embaçavam a vista.

-        Não chora Hannah – Dukian pediu com a voz embolada. Como se ele mesmo estivesse sofrendo.

Eu queria abraçar Lucian. Sentir o calor de sua pele encostada a minha. Ouvir sua voz doce em meus ouvidos. Olhar outra vez o círculo de fogo vermelho dos olhos dele. E ele permanecia tão quieto. Imóvel. Foi como se meu próprio coração parasse de bater. Para completar meu desespero, minha mãe continuava com elas. Prisioneira do Coven e eu não fazia a menor ideia de como encontrá-la. Somente os dois poderiam me ajudar. Só que naquele momento, eu estava sozinha, e teria de encontrar uma maneira. Esse pensamento me deixou em pânico.

Respirei com força. Tentei colocar os pensamentos em ordem. E eu lembrei. Uma luz de esperança explodiu dentro do meu peito. Com tantas informações ao mesmo tempo, acabei esquecendo de um dos poderes da Genuína. Necromantia.

Eu posso ressuscitar Lucian! Posso trazê-lo de volta!

Ergui o corpo do chão como se pesasse uma tonelada. Fitei outra vez o corpo de Lucian desacordado, e apesar de toda a dor que eu sentia, de todo o terror e de todo o medo, vê-lo daquela forma me deu forças quando pensei na mísera chance de trazê-lo de volta.

Fechei os olhos. Visualizei as cores, as texturas, inalei o aroma de cada objeto no porão. Respirei uma. Duas. Três vezes. Funcionou. Foi mais forte do que eu imaginava.

As correntes arrebentaram, e não apenas as minhas. Aconteceu simultaneamente. Com um estrondo, as grades da minha gaiola e a de Dukian, racharam e caíram no chão. Com outro baque, o corpo de Lucian despencou da estaca.

Corri aflita até ele. Ajoelhei ao seu lado e envolvi seu rosto com as duas mãos.

-        Acorda Lucian, fala comigo, fala comigo.

Apertei a cabeça dele junto ao peito e sacudi o corpo para frente e para trás. Escutei um som de tosse, mas ignorei. Eu não sabia muito bem o que estava fazendo. Não sabia se funcionaria. Só continuei balançando. Enquanto eu continuasse com a tentativa de acordá-lo, a chance de trazê-lo de volta existiria. Se eu parasse, se eu desistisse, confirmaria o que eu tentava a evitar a todo custo.

Duas mãos quentes seguraram meus ombros. A sensação foi tão boa, que cheguei a cogitar uma alucinação. Parei de sacudir, e sem um pingo de coragem, abri os olhos e fitei um par de círculos vermelhos de fogo.

Arfei. Sorri e chorei ao mesmo tempo.

Lucian sentou no chão e me abraçou com força. E o alívio que senti, foi semelhante a sensação de respirar pela primeira vez, após passar longos minutos lutando para sobreviver debaixo d'água.

Ele me soltou e encaixou uma mecha do meu cabelo que caía, atrás da orelha. Me inclinei próxima a seu rosto, e colei nossos lábios.

Lucian enterrou as mãos em minha nuca e passou um braço forte nas minhas costas. O beijo foi desesperado. Avassalador. Como se pudesse ser o último que trocaríamos. Como se fosse uma despedida. Seus lábios macios deixaram os meus, e fizeram uma trilha de carícia até a clavícula. Estremeci. Lucian murmurou com a boca em minha pele:

-        Banana, isso era uma armadilha. – Lucian ergueu o rosto e me encarou. - Acássia me enfeitiçou, para que eu só acordasse com seu toque. Eu sei o que ela está fazendo. É a última cartada dela. A cada vez que você usar seu poder de Genuína aqui dentro, Acássia absorverá seu poder para si.

-        Então eu perdi a telecinesia?

Lucian assentiu com o semblante cansado e acrescentou:

-        E ela quer a necromancia.

-        Mas não há nada, nem ninguém aqui que possa eu possa ressuscitar.

-        É isso o que eu temo. Se não há ninguém, garanto que Acássia irá providenciar.

Meu peito doeu ao acelerar brutalmente. Só havia uma pessoa.

-        Minha mãe, Lucian! Precisamos descobrir onde ela está!

Lucian suspirou e me encarou de um jeito que me deixou suspeita.

O que ele me escondeu dessa vez?

Ele abriu a boca para falar, mas parou. Lucian olhou algo atrás de mim e sua expressão mudou completamente. Sobrancelhas unidas, maxilar trincado, sua fala saiu entredentes.

-        Fique atrás de mim, Hannah. Ela chegou.

Levantamos rápido do chão, no entanto, não houve tempo, muito menos havia por onde escapar. Uma explosão reverberou naquele espaço abafado. Lucian segurou minha mão e me fitou com os olhos arregalados. Tudo o que pude pensar foi:

Agora, morreremos.

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Ainda não terminei de escrever o final, mas prometo o penúltimo capítulo para sábado agora! \o/

E O QUE VOCÊ FARÁ AGORA? A PRINCESA DO SUBMUNDO CHEGOU.

Olhar de FogoOnde histórias criam vida. Descubra agora