"Ninguém é hétero"

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— Pronto. Aqui ninguém vai ouvir nada. — falei ao entrar no banheiro que ninguém usa — O que ' te incomodando, Amigão?

     Hunk escorou-se à parede. Sua faceta era meio assustada e receosa. Eu conseguia notar a tensão em cada um de seus músculos.

— ... Como você soube que era bi?

     A pergunta me pegou de surpresa.

— Bom ... meio que eu sempre soube dentro de mim que eu não ligava muito pro gênero da pessoa que eu casaria no futuro. E, com o passar dos anos, percebi que eu achava alguns caras tão atraentes quanto as meninas. E, quando eu conheci o Keith ... — senti meu rosto e orelhas entrarem em combustão — ... Tudo ficou bem claro.

— Ah ... entendi.

     Eu conseguia ver as engrenagens do cérebro dele funcionando a todo vapor. Suas bochechas estavam pintados de rosa, o que deixava-o com um ar meigo.

— Por que você queria saber?

— ... Promete guardar segredo?

— De dedinho! — lacei seu mindinho ao meu, convicto.

     Demorou dois minutos inteiros. A espera quase me matou – fora o suspense do caramba. Finalmente, ele suspirou pesarosamente.

— ... Eu acho que sou pansexual.

     Como o amigo maravilhoso que sou, pulei em cima dele para abraça-lo. E bem forte. Seus músculos relaxaram.

Que bien que te lo descubristes. — sussurrei, emocionado — Por que você começou a suspeitar?

     Ele virou um tomate.

— Eu ... comecei a gostar de uma pessoa.

— Uuuuuh ... — brinquei, arrancando um sorrisinho sem-graça do samoano — Quem é? É da escola?

— ... Não ' preparado p'ra contar isso ainda.

— Ah, tranquilo. — fiz um gesto que dizia "não importa" — Mas qual os pronomes delu?

— ... Elu é gênero-fluído.

— Ok. Vou usar os pronomes neutros,  então.

— E você e o Keith? — fugiu do assunto, mas genuinamente interessado.

     Foi minha vez de virar um tomate.

— A gente ' se dando bem.

— Lance ... o que você ' escondendo de mim?

     Suspirei, escorando na pia. Meu rubor talvez tenha piorado. O olhar de Hunk queimava tanto que parecia ter mais de um dele presente.

— É que fingir não gostar dele, estando tão perto dele ... é torturante! Mas, se nem amigo dele eu consigo ser ... como eu seria um bom namorado? E mesmo se eu fosse ... eu ia ter coragem de assumir o namoro? Ou eu ia machucar ele, fingindo que somos só amigos?

— Entendi ... — soltou, compreensivo — Desculpa, mas eu não tenho um conselho milagroso agora. Eu só posso dar um ombro p'ra chorar e uns abraços.

     Acho que o fato de eu correr para abraça-lo já o fez entender que aquilo já era mais que suficiente para mim.

     Voltamos para a nossa mesa no refeitório. Pidge e Keith conversavam sobre algum assunto que os deixava totalmente imersos. Algo sobre como a Girl In Red era maravilhosa.

      É. Ninguém é hétero no meu grupo. (E apenas o coreano não estava ciente disso.)

      Na hora, agradeci por ter falado cara a cara com meu melhor amigo sobre o que me incomodava. Eu sentia que, depois de Sakura ter entrado na minha vida, eu tenho o deixado de lado, e isso não é legal.

     Verônica finalmente tirou um fim de semana para visitar a gente e o dia dos namorados era no dia seguinte. Eu estava muito animado para matar a saudade dela.

     Mas as coisas estavam prestes a mudar. ¡Y demasiado!

Correio delator [Klance]Where stories live. Discover now