Capítulo 2

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Assim que chegou ao hospital, Laura soube dos detalhes do ocorrido pelo dr. Otávio. D. Pillar que há dias não se sentia muito bem, e por esse motivo estava ausente das lojas, o havia procurado a fim de regularizar sua situação profissional, financeira e empresarial. Preocupada com o futuro de seus bens, já que não tinha herdeiros diretos. Fez alterações em seu testamento e pediu que tudo fosse devidamente registrado e como testemunha levou seu médico cardiologista e um psiquiatra a fim de atestar sua sã consciência. O cardiologista informou ao advogado que d. Pillar tinha uma obstrução nas artérias o que estava se agravando nos últimos meses e que ela havia passado por processos desgastantes a fim de prolongar seu tempo de vida, mas essa parada cardíaca seguida de um AVC no meio da madrugada pegou a todos de surpresa. Seu estado era preocupante, porém estava estável e mesmo que muito fraca insistia em ver Laura.

- D. Pillar? Oh minha amiga, minha mãe do coração... – disse Laura tentando controlar o choro ao ver sua amiga tão vulnerável naquela cama de hospital.

- Laurinha minha linda, aproxime-se... – Ofegante balbuciou Pillar... Filha, minha hora está chegando. Tivemos essa conversa a tempos atrás, mas agora estou mais perto do fim – e respirou profundamente em meio aqueles aparelhos todos ligados ao seu corpo –

Se alguma coisa me acontecer nos próximos dias, o meu grande amigo, o dr. Otávio vai te procurar. Nesses 15 anos da existência do meu brinquedo favorito, como meu falecido esposo chamava meu trabalho, 15 deles convivendo com você minha linda, - respirava profundamente Pillar – digo que sou privilegiada por sua amizade e lealdade.

Pillar não pode conter as lágrimas que insistiam em cair... – Obrigada por tudo o que fez por mim, e pelo meu sonho, por eu ser quem hoje sou, e por acreditar em mim. – Pillar dizia em tom de despedida.

- Não fale assim d. Pillar, temos muito que viver ainda, lembra-se? Rio de Janeiro nos aguarda. Vamos entrar lá juntas! Como sempre! – E beijou-lhe as mãos.

- Uma cirurgia de emergência para desobstrução vai acontecer em poucas horas e eu posso não voltar então deixe-me falar filha... – Quando meu esposo faleceu, me deixou muito confortável financeiramente, mas meu sonho era minha loja e ele me deu. Você entrou na minha casa, viúva, com uma criança no colo, me pedindo um emprego de doméstica a fim de se sustentar e a seu filho. Eu e Euzébio nos apaixonamos por você e pelo Lucas e aquele menino foi o bálsamo para os últimos meses de vida do meu grande amor... e meu consolo quando ele se foi para sempre. Uma doméstica que administrava meu lar de forma tão competente que não tive dúvidas em investir em você. Suas dicas eram valiosas para meu negócio, quando desnorteada eu chegava em casa com meus problemas administrativos. Investir em seus estudos e formação foi uma benção. Enxerguei seu potencial e te levei para a loja da Oscar Freire, minha primeira loja, desde seu estágio. E desde então somente tenho prosperado e levado meu sonho a todo o Brasil. Amo seu jeito simples de ser. Você é a mesma menina humilde e educada, amorosa e sincera que cresceu comigo e abraçou meu sonho como se fosse o seu. E agora tem meu Lucas desenvolvendo uma área da minha loja que nunca nem sonhei existir, a loja virtual. Tudo que farei por você mesmo depois da minha partida jamais pagará tudo o que você e nosso Lucas fizeram por mim e pelo meu Euzébio. Nunca se esqueça o que eu sempre te digo todas as manhãs e no final de cada tarde na loja: " eu te amo filha" – Diga ao meu Lucas que o amo mais que... "chocolate! – Disseram juntas a frase que Pillar sempre falava ao seu Lucas, como ela o chamava desde que o viu pela primeira vez.

A enfermeira entrara no quarto e as observava no terno abraço e então as interrompeu: " Precisamos ir d. Pillar, já, já, estaremos de volta para mais abraços e sorriu para as duas.

Mas Pillar não mais voltou...

UM TEMPO PARA O AMORWhere stories live. Discover now