Late Night Lights

Sexta

O vermelho em meio ao glitter deslizava em seus lábios já encerrados. Olhos monótonos no espelho, olhar de fogo para o nada, os cílios estavam maiores e mais escuros, talvez o rímel borrasse.

Vestido vermelho seria o mais apropriado, mas só havia um de mangas longas preto. O salto estalava no piso, a respiração fazendo seu máximo para esquecer o incêndio no quintal em frente.

Com a bolsa escura, aquela imagem entrou em um táxi. O reflexo das luzes coloridas pareciam lágrimas acesas, e presas nos olhos de carvão, que agora eram lamentos. 

O vento, nos cabelos longos da noite. Até parecia que a brisa estava fresca e acolhedora, como em uma praia no fim de tarde. De fato estava, mas naquele momento, o mar não conseguia chegar à costa.

O coração forte e falho, a música que não errava o compasso, a cada batida, um hematoma fresco e antigo no peito mais nobre e valente. Balanços dos braços em comprimentos, melodias distantes de uma música calma e desconhecida, vozes risonhas.

O ouro estava ressurgindo? Uma faísca iluminou todo o percurso do sorriso de brilho vermelho. A ingenuidade pintou o olhar tão intimidante e longe de antes.

À mesa, algo embrulhava como um papel antigo e desgastado. Tentando sentir cada sabor do prato, tudo apenas parou.

Aquele dourado transformou-se em ferrugem, perguntas e mais perguntas gritavam, resmungavam, ao mesmo tempo que tudo era calmo.

A maré finalmente veio, e então, os saltos correram. Correram o mais rápido que podiam nas calçadas, enquanto o rosto avermelhado transbordava.  O que foi esquecido?

Em casa, a água quente empurrou os músculos o máximo que uma vez sua natureza permitira.

Bateu a cabeça na almofada do sofá, o que era desejado era algo que não é tão bom de ser falado, mas era insuportável. Então, adormeceu.