— É. – digo encarando o nada agora entrando em outro quarto. — Bom dia dona... Dalva! – digo lendo seu nome na prancheta.

— Bom dia. – sorriu. Peguei sua prancheta nas mãos repetindo o mesmo processo que a paciente anterior.

— Não sente mais dores de cabeça?

— Não, está tudo certo. – sorriu.

— Vou pedir para virem medir a pressão da senhora, se estiver normal acredito que poderemos diminuir a dose dos remédios.

— Oh, certo.

— A senhora está gelada, sente frio? – Júlia perguntou e a senhora afirmou. Júlia abriu um armário no canto do quarto e retirou uma coberta colocando sobre a senhora. — Melhor?

— Sim, muito obrigada querida. – sorriu e Júlia sorriu em resposta. Deixamos o quarto. — Por que o mal humor com aquele assunto?

— Simples Júlia! Isso não pode acontecer! Nada é real! Um dia tudo vai acabar e quem vai ficar machucada sou eu!

— Isso quer dizer...– sorriu.

— Sim, eu estou apaixonada pelo Noah. Satisfeita?

— Eu sabia! – sorriu mais abertamente.

— Tira esse sorriso da cara, isso não deveria ter acontecido! Isso é só um contrato, vai acabar. Ele vai arranjar outra pessoa e vai seguir sua vida e eu vou ficar aqui despedaçada.

— Quanto drama!

— Não é drama, é a verdade! Noah não me ama e nem vai me amar um dia, tudo isso é por diversão e para não estragar sua imagem com seu pai.

— Definitivamente! – parou no meio do corredor e me encarou. — Você é uma anta! – exclamou alto. — Mas que merda Sabina! Para de pensar nesse contrato, para de ficar colocando besteira nessa sua cabeça!

— Não é besteiras Júlia! Eu e o Noah nunca seremos um casal de verdade que sai todos os domingos pelo parque com os filhos e sorrindo de orelha a orelha! – digo de uma vez. E acabo com os olhos marejados. — Vou ao banheiro! – saio em disparada até o banheiro mais próximo.

Chegando lá me apoiei na pia e encarei o espelho deixando que as lágrimas caíssem.

— Sabina, não fica assim! – diz Júlia já ao meu lado. — Você tem que parar de pensar negativo. Você tem que parar de ser idiota e pensar na sua felicidade!

— Eu estou pensando exatamente nela!

— Não está não, está pensando na sua infelicidade.

— Júlia por que para você é difícil entender? Não tenho nada que mudar, tanto que a partir de hoje eu e Noah devemos nos afastar. E acho que ele já entendeu isso!

— Pelo amor do bom Deus, o que foi que você fez? – colocou a mão sobre a testa.

— Só fui um pouco dura com ele!

— Sei muito bem como é o seu "Dura" – fez aspas – Mais sensivel quanto um coice de cavalo! Sabina presta a atenção no que vou te dizer, – me encarou – se afastar não vai estar melhorando e sim piorando. Serão seis meses juntos, seis meses debaixo do mesmo teto. O Noah não te ama porque é o que isso aqui diz! – apontou para minha cabeça. — Mas e o que isso aqui diz? – apontou para meu peito. — E se for tudo diferente? E se Noah sentir algo por você?

— Por favor...– eu ja estava chorando – não faça com que eu me iluda!

— Não quero te iludir! Só quero te mostrar que a realidade que você pinta, na verdade possa ser outra! – a abracei. — Só quero te ver feliz, e ver você pensando negativo não é ser feliz.

— Eu...

— Eu sei. – me interrompeu. — Sei que você ainda é insegura por conta do seu relacionamento com o Rafael. Sei que tem medo de se machucar novamente, mas é como eu te disse antes. Essa é a vida, a gente vai cair muitas vezes e nos machucar. Mas só fica no chão quem quer, nós podemos sim nos reerguer. Você tem a mim, e eu vou estar aqui para o que precisar. Até apoiei essa sua ideia idiota de contrato, sou uma ótima amiga! – sorrio de leve. — Estive aqui do seu lado quando aquele babaca passou o rodo em todo mundo que você confiava, estava aqui quando ele disse que mudaria, estive aqui quando você o aceitou de volta mesmo sendo contra a minha vontade, estive quando ele fez merda de novo e dez vezes pior. Estive aqui quando chorou até não ter mais lágrimas, estive com você quando resolveu deixar tudo para trás e seguir sua vida. – as lágrimas agora vinham dela. — Vou estar com você do mesmo modo, até se Noah for babaca, se Noah não for babaca, quando o contrato acabar, ou talvez quando o contrato se estender, eu só vou continuar aqui. – lhe abracei novamente.

— Obrigada, muito obrigada! Não sei o que seria de mim sem você!

— Provavelmente nada! – sorrio afirmando. — Sabina, preciso que deixe suas inseguranças de lado e entenda que Noah não é o Rafael.

— Eu sei, isso chega a ser ofensa! – ela concorda. — O medo não tem exatamente tudo a ver com ele. Eu fico imaginando um momento feliz e em paz igual nós temos tido, como um casal de verdade e ai eu penso que tudo isso vai acabar um dia. Nós vamos nos divorciar, cada um vai para seu canto e tudo isso vai ficar para trás.

— Sabina, nenhum relacionamento real está taxado a dar certo. Minha relação com Dani é real, finalmente é real! – sorriu. — É real mas não sabemos até quando, não sabemos se vai dar certo. O que devo fazer? Evitar ele? Me manter afastada mesmo gostando dele? Ou ir atrás de outro relacionamento que também pode ter um fim?

— Você tem razão. – suspirei.

— Sim, eu tenho. Mas o que eu quero dizer, é que não dá para ficar fugindo. Principalmente quando você nem faz ideia do que se passa dentro dele. Você sabe apenas o que se passa com você, nele você só vê o que você acha. Ao menos coloque as cartas na mesa ao contrário de ficar se escondendo atrás de algo que não é você. – soltei um suspiro

— Obrigada! – a encarei.

— Falei muito mas nem o que eu realmente falei. – soltei uma risada. — Só disse o que veio no coração. Sabe que eu te amo.

— Eu também te amo!

— Se o contrato acabar e nada for para frente, vamos viajar para Las Vegas.

— Las Vegas?

— Sim, vamos viajar só eu e você e iremos tomar umas cervejas e ir em algumas boates. Você vai gritar "estou divorciada" e depois chorar! Eu vou rir e depois te consolar. Iremos visitar vários lugares legais e nunca mais tocar na palavra contrato.

— Júlia você...

— Sou incrível, eu sei. Isso não é piada, assim que o contrato acabar vamos para Las Vegas!

— Combinado. – fizemos um hig five.

— Agora vamos antes que Marcos venha atrás de nós com aquela prancheta de ferro! – rimos e saímos do banheiro.

Talvez Júlia estivesse certa. Se não estiver, pelo menos ela tentou.

Casamento Por Contrato Where stories live. Discover now