Bac!! Bac!! Unnngh! Unngh! Bac!!

Carlos sentia que o som de sua respiração ofegante estava tão alta quanto os urros das feras que seguiam batendo e chocando-se contra a porta principal, mas ele se concentrou para fazer o máximo de silêncio possível.

Dentro da cozinha, analisou rapidamente uma porta que dava para os fundos da casa: estava trancada e segura, com tábuas de madeira fixadas por toda a sua extensão. Chegou a preocupar-se com um vidro quebrado na parte superior da porta, mas tranquilizou-se ao notar que haviam grades que nenhuma daquelas criaturas teria a capacidade de atravessar. Olhou para o lado oposto da cozinha e viu a entrada de outro cômodo; estava fechada. Dirigiu-se até o local e girou lentamente a maçaneta; o suor escorria pelo seu rosto. Com a pistola engatilhada, empurrou a porta com o pé; ela rangeu baixinho. Conforme a sala era revelada, os feixes de luz solar mostravam armários, máquina de lavar, baldes, mas nenhum monstro. Limpou o suor de sua testa e seguiu, ainda tinha mais um cômodo para analisar no térreo e, logo após, o segundo piso inteiro.

Bac!! Bac!! Unnngh!

A cada batida dos seres famintos do lado de fora, seu coração saltava mais forte.

Embora as criaturas seguissem batendo forte na varanda e rosnando alto, o som ainda não tinha atraído nenhuma de dentro da casa, se houvesse; isso era um bom sinal, mas não uma garantia. O homem retornou para a cozinha e percebeu, somente naquele momento, que haviam algumas latas de salsicha abertas sobre a pia. "Será que a sorte resolveu sorrir um pouco para mim?", sussurrou. Abriu os armários e se emocionou com o que acabara de ver: havia umas dez latas de alimentos e uma garrafa de vinho, ainda pela metade. Colocou a mochila sobre o balcão — que estava à sua frente — e guardou os tesouros que acabara de encontrar. "Alguém estava sobrevivendo aqui...", pensava Carlos. Estava sobrevivendo, pois a porta aberta indicava, no mínimo, um grande descuido. O mais certo era que algo deu errado (muito errado!) com o antigo residente. Provavelmente, fosse o corpo lá na varanda; uma saída para a rua no momento errado e bye! "Chega de pensamentos!" e sacudiu a cabeça. Com a mochila abastecida, colocou-a em suas costas e partiu para conferir os demais cantos da casa.

Bac!! Unnngh! Bac!! Bac!! Unnngh!

Nenhum sinal das criaturas ficarem calmas do lado de fora.

Conformado que acabaria passando a noite naquela casa, Carlos seguiu para a sala: era hora de investigar o último cômodo que restava, antes do segundo piso. Mesmo com a porta fechada, deixar vivo um daqueles seres poderia resultar em péssimas surpresas durante a noite; o homem tinha experiência o suficiente para saber disso. Carlos abriu a porta com todo o cuidado. A cada novo ambiente investigado, ele era tomado pela ansiedade. As mãos tremiam, a transpiração aumentava e a respiração ficava pesada. Mesmo com seus 38 anos; 36 de uma vida digna e 2 sobrevivendo ao apocalipse, nenhum nível de experiência faria ele se acostumar com aquilo. Ninguém se acostuma com aquilo! Entretanto, ao menos naquele cômodo, não havia com o que se preocupar: era um banheiro; limpo de monstros ou problemas de segurança que colocariam seu descanso em risco. "Só restou lá em cima".

O homem pisou cautelosamente em cada um dos degraus. Com a pistola apontada, ao terminar de subir as escadas, ficou de frente para outro banheiro, este com a porta aberta. Do lado de fora já percebia-se que o local estava sem criaturas indesejáveis. Então, seguiu por um corredor — iluminado pela claridade do banheiro aberto — que levava para três novos cômodos: um à direita, outro à esquerda e mais um à frente, respectivamente. "Falta pouco", dizia para si. O chão estava com manchas dispersas de sangue que poderiam levar para qualquer um dos quartos; não havia um rastro definido, mas sentia que estava muito tenso, pois poderia ser surpreendido a qualquer momento. Carlos tentava controlar a sua respiração para ficar mais calmo; inspirava profundamente e expirava lentamente.

Medo: Contos de TerrorWhere stories live. Discover now