Xeque mate

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As mãos bem cuidadas seguravam a escova de cabelos com uma força desnecessária. Ouvira os gritos vindo do escritório do marido e passos fortes se aproximando de seu quarto.
Respirou fundo, enquanto escovava os fios loiros escuros que pendiam sobre seus ombros magros.

- Mãe?

A voz de Alex lhe atraiu o olhar, o peso na voz do filho era perturbadora.

- Ainda não está se arrumando? Temos que ir a igreja daqui a pouco. - Helena se ergueu, alisando o vestido vinho, um Marc Jacobs exclusivo, que lhe marcava bem o corpo definido apesar da idade um pouco mais avançada do que gostaria. Sempre fora uma mulher vaidosa e não deixou que a maternidade interferisse em sua boa aparência. Não que isso importasse, de fato.

- Mãe, por favor. Olha pra mim, uma vez na vida, seja minha mãe. - Alex cruzou o quarto aflito, as palmas das mãos suadas e o coração apertado. - Você sabia que Hugh quer mandar Aurora para um colégio interno na Suiça?

- É claro que eu sabia, Alex. 

A mulher observou os olhos do rapaz, injetados e furiosos. Ele era tão parecido com o pai.

- E concorda com isso? Ela é só uma criança, uma alma pura e inocente. - O menino passou as mãos no cabelo, quase arrancando-os da raiz. - Por favor, por ela.

Alex segurou as mãos de sua mãe, uma esperança acesa em seu interior. Talvez no fundo, aquela mulher fria e distante tivesse um pouco de amor materno escondido.

- Alex, isso é assunto para os adultos. Você deve se arrumar agora, não é de bom tom o noivo se atrasar. Isso é papel da noiva, querido. - O olhar vago de sua genitora, não possuía um pingo de emoção.

- Caralho, está se ouvindo? Você está permitindo que sua família seja destruída. Você é tão insana quanto ele.

O rapaz atordoado, se aproximou da penteadeira antiga e num súbito movimento de fúria, levou ao chão todos os cosméticos e perfumes caros de sua mãe. O barulho de vidro estilhaçados assustara a mulher ainda de pé no centro do cômodo.
O mais novo voltou o olhar uma vez mais para a matriarca, exasperado.

- Olha como fala comigo, eu sou sua mãe.

- Mãe?? Você não faz ideia do que é ser mãe. Passou minha vida inteira me pondo de lado, vestida em roupas caras e com essa postura impecável. Quem cuidou de mim, foi a Martha, porque a minha mãe de verdade estava ocupada demais dando jantares e indo a eventos beneficentes. Sendo hipócrita o suficiente, para pagar de boa mulher. Você é patética.

- Você não faz ideia Alex, do que é ser a esposa de Hugh James. Do peso que esse sobrenome tem. - A dureza com que proferia tais palavras, combinavam bem com a expressão arrogante em seu semblante. - Seu pai merecia uma esposa a altura, que o apoiasse e se portasse como uma dama da alta sociedade.

- Meu pai está pouco se fodendo pra você, ele não se importa com ninguém além dele. - Alex se aproximou de sua mãe, lhe estendendo o envelope. - Veja por você.

Helena apanhou o pacote com cuidado, retirando algumas fotos. Por um segundo, Alex pensou ter visto a tristeza cruzar o rosto de sua mãe. A mais velha percorreu com atenção cada imagem de seu marido junto de uma garota nova, que costumava frequentar sua casa em outros tempos. Era um colega de seu filho, devia ter a mesma idade de Alex. O coração gelado da mulher, pareceu parar de bater por alguns instantes.
Alex encarou a mãe e imaginou Ella uns anos na frente, caso deixasse Josh para trás. Uma mulher incrivelmente bonita e morta por dentro, um retrato de uma revista de moda.

- Seu pai está tendo um caso com uma garotinha, qual é a surpresa? - Helena engoliu seco, deixando a voz sair mais gelada que nunca. - Acha que eu não sei das aventuras dele? Não sou idiota garoto.

Alex e Adeline Where stories live. Discover now