Capítulo 25

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Yonara narrando

Uma semana depois

Finalmente estou estabelecida em uma kitnet que nem mesmo deveria ser chamada assim. É apenas dois cômodos: banheiro e a sala, que virou meu quarto, acoplada com um espaço que diz que é cozinha. E tem uma pequena varanda no meu quarto-sala onde posso estender minhas roupas. Tudo bem pequeno, se eu der dois passos chego na cozinha e mais dois de volta para o meu quarto. Não é grande coisa, mas foi o que eu consegui no tempo que eu tinha, fora o aluguel que estava em conta. Apesar de ser longe do meu serviço, ainda consigo chegar a tempo de bater o meu ponto pegando — pasmem — um ônibus. Estava deitada na minha cama, uma das coisas que eu trouxe da mudança. O restante das coisas deixei em um armazém de móveis — uma espécie de garagem—, aluguei por pelo menos dois meses. Não sei por quanto tempo mais minha mãe ficará no hospital e eu não tenho como e nem espaço para colocar todas as nossas coisas nesse lugar. Por enquanto, está seguro deixar os nossos móveis guardados. As únicas coisas que eu trouxe comigo foi a geladeira, o fogão, algumas panelas, minha cama, roupas, livros e o meu notebook. Foi o que deu para trazer. Não reclamo, mais do que isso não teria nem mesmo como viver nesse cômodo.

Fazia frio hoje, a madrugada inteira choveu. Quase não consigo dormir direito aqui, faz barulho do lado de fora, muito carro passa e há muita gritaria de pessoas que moram debaixo ou na rua.

Meu último dia na minha casa foi conturbado, tive que dar um jeito de fazer as mudanças as pressas. O senhor Raimundo já estava do lado de fora quase me expulsando a força da sua casa. Aquele homem me dá nos nervos, mas não me deixei abalar por isso. Assim, que consegui finalizar com a mudança, entreguei a chave a ele e por incrível que pareça, agradeci pelo tempo que ele me deu para preparar a mudança. Ele até ficou surpreso com a minha atitude, podia jurar que tinha ficado sem graça por ter me tratado mal.

Antes de ir embora, levei as vasilhas da dona Tânia. Não quis entrar na sua casa, mesmo ela insistindo, apenas entreguei e agradeci pela comida. Não queria prolongar mais a despedida e tampouco ficar naquele bairro que só me causou tanta tristeza. Ela me abençoou e disse que sempre seria bem vinda a sua casa. Ela é um amor de pessoa, não é atoa que mesmo o Victor errando às vezes, ele tem esse lado passional da mãe.

Me despedi e fui em direção ao ponto de ônibus, antes de ir embora de vez, vislumbrei a imagem de Jennifer. Estava tão cansada de brigar com essa menina que decido seguir reto. Podia jurar que vi um sorriso largo em seus lábios, mas naquele momento não me importava com o seu deboche.

Fiquei três dias em um hotel barato, estou economizando ao máximo para qualquer imprevisto. O dinheiro que o Robert me deu está sendo bem usado e economizado.

A gerente Bianca apesar de me elogiar por conseguir vender tão bem, ela disse que estou em fase de experiência por três meses, por isso, pretendo fazer tudo certo para conseguir me manter no trabalho, que está sendo uma ótima forma de distração para mim. Me sinto a própria fada madrinha ajudando as clientes a se vestirem bem e claro, ganhando e rendendo muito para a loja.

Desde que comecei a trabalhar lá, pedi desculpa para Paula. Não foi certo ter roubado a sua cliente apenas para garantir o meu trabalho, mas expliquei a ela que realmente precisava do trabalho e que estava cansada de ouvir não, mas que isso não justifica às minhas atitudes. Não queria começar a trabalhar arranjando um desentendimento desnecessário com a minha colega de trabalho. De início, ela não queria torcer o braço, estava chateada e desconfiada de mim —  com razão—, mas deu o benefício da dúvida e por enquanto, estamos lidando bem uma com a outra. A Luana é um amor de pessoa, antes mesmo de conseguir o trabalho já mostrou ser uma pessoa boa, e agora que trabalho lá, me ajuda com às minhas dúvidas e conversa de tudo comigo. Fazia tempo que eu não sabia a sensação de ter uma amiga ao meu lado, com esse lance todo da Zoe e os meus problemas, acabei esquecendo um pouco de mim e de saber me divertir e conversas com outras pessoas fora do meu círculo. Minha única amizade sempre se resumiu a Zoe e isso acabou acarretando em algo que muitas vezes se tornou tóxico e com uma enorme dependência emocional. Era bom sentir que mesmo ainda com o quebra cabeça bagunçado, as coisas iriam se encaixando e se conectando devagar.

Duas de mimOnde as histórias ganham vida. Descobre agora