CAPÍTULO I: O REI DE ZATÜRON

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Zatüron (Capital do reino)


Pedro estava em sua sala particular, analisando alguns papéis que estavam sobre a mesa. Ele estava exausto devido a quantidade de documentos que foram assinados. Todos eles eram dirigidos para algumas cidades que foram destruídas pelos zoörgs. Algumas casas precisavam ser novamente reerguidas com a ajuda da coroa.

Por um momento, o rei se levantou de sua cadeira e se dirigiu até a balaustrada que ficava do lado de fora da janela. Ele inclinou o corpo e encostou o seu peito nas estruturas de pedra. O horizonte parecia doce e suave. Um vento frio soprava do norte, fazendo mover algumas árvores que estavam em volta do castelo. Pedro fechava os olhos e respirava profundamente, sentindo suas franjas se moverem levemente. Seus cabelos negros não se moviam inteiramente, devido a coroa que brilhava como fogo à luz do sol nascente.

Ao abrir os olhos, Pedro avistou a grande cidadela. Zatüron estava intacta depois da grande guerra. Seus habitantes estavam temerosos, muitos deles acreditavam que um dia Cesarem poderia regressar. Embora, haviam sacerdotes aguianos que pregavam o fim do seu retorno. Pedro sabia que haveria essa possibilidade do mago negro retornar, já que Ilumar o havia alertado no alto da grande montanha.

Zatüron não era a mesma cidade de antes. Seus habitantes não gostavam do antigo rei devido a sua crueldade e sua ganancia pelo ouro. Agora, a cidade estava dividida. Alguns apoiavam a vontade de Ilumar, trazendo um homem justo a coroa. Outros, discordavam desta ideia. Alguns achavam uma loucura um bastardo se sentar no trono da justiça, outros pensavam a mesma coisa, embora estavam satisfeitos com a diminuição dos impostos estabelecidos pela coroa. Gostando ou não, muitos deixavam de fazer suas tarefas para saudar o novo rei. Pedro avistava alguns plebeus de sua janela, todos eles sorriam e cumprimentavam Vossa Graça.

Enquanto olhava para o horizonte, a porta de sua sala abriu-se de repente. Pedro ouviu o ranger das dobradiças e olhou rapidamente. Havia uma mulher parada próxima a mesa. Seus cabelos eram negros como a noite, soltos e encaracolados, caíam em cascata sobre os ombros e ao longo das costas. Ela usava uma pequena tiara em sua cabeça, repleta de esmeraldas e diamantes, que brilhavam como espelho ao sol. Seu vestido marsala realçava sua pele rosada. Ele era todo de seda, com pequenas listras verdes costuradas a mão.

— Não deveria estar aqui! — exclamou Pedro, caminhando de encontro a mulher. — Sabe que não pode ficar andando pelo castelo.

— Tem razão, meu marido. Não consigo ficar em meus aposentos, me sinto uma prisioneira.

Com um sorriso quente, Pedro beijou-a suavemente em suas bochechas e a tocou em sua barriga volumosa.

— Elizabeth! Você sabe que não pode fazer muita força. Muito menos agora neste estado. Mestre Dalkon disse para você ficar de repouso absoluto. É uma gravidez complicada e...

— ...meu marido não precisa ter medo. — disse ela, segurando a face do rei. — Não irá acontecer nada com o seu herdeiro. A casa Arynon terá essa criança.

— Enquanto a você? Eu me preocupo com você também. Já perdi uma esposa antes e não estou querendo perder uma outra.

Elizabeth deu um sorriso singelo e abraçou suavemente o seu marido.

— Nada irá acontecer comigo. Eu estou bem!



Elizabeth era filha de lorde Ariariz da casa Bourbonnis, uma das casas mais estimadas e respeitadas do reino. Ele a conheceu dois meses após o seu reinado. Pedro estava precisando de uma rainha, já que seus conselheiros e até mesmo lorde Harmys, o questionava sobre o assunto.

Por um momento, o rei apresentou resistência em querer se casar novamente, já que ele continuava a pensar em sua esposa Ana, que chegara a falecer antes mesmo dele subir ao trono. Pedro sabia que seria um casamento forçado, tudo para conseguir o apoio de lorde Ariariz e de outros lordes que ameaçavam em desvincular da coroa. Eles não aceitavam que um bastado pudesse governar sobre o trono da justiça. A casa Bourbonnis conhecia esses lordes, alguns deles deviam certos "favores" para lorde Ariariz.

Após o casamento, os lordes aceitaram o reinado de Pedro. Ariariz ocupou um lugar no pequeno conselho, servindo como diplomata real. Ele não podia servir como a "cabeça do rei", já que Lorde Harmys já estava ocupando este cargo a pedido de Lorde Narcisse da casa Leineckers, um dos lordes que não concordava com as atitudes do novo rei. Sua casa era uma das mais poderosas de toda Aldiroön. Sua força podia ser comparada com as casas Arynon e os Bourbonnis. Pedro aceitou o seu pedido, como forma de agradar os Leineckers, já que eles ameaçavam em não apoiar a coroa juntamente com outros lordes que eram influenciados por Narcisse. Alguns nobres que participavam do conselho concordaram com os Leineckers de nomear lorde Harmys como a "cabeça do rei", já que alguns deles chegaram a ser subornados, outros, chantageados pelo "grande lobo" (símbolo da casa Leineckers).



Enquanto eles se abraçavam, a porta novamente se abriu. Pedro estava distraído, não havia percebido que um soldado estava parado a sua frente. Ele era um homem esbelto e robusto. Tinha cabelos negros como breu e olhos castanhos que combinavam com a sua armadura de prata.

— Perdoe-me, Vossa Graça! — disse ele curvando-se perante o rei. — Eu bati na porta e ninguém me respondeu, pensei que estivesse em seus aposentos.

Pedro respirou profundamente e franziu as sobrancelhas.

— Felipe! — exclamou o rei. — Algum problema?

O rosto dele estava parado e duro, mas os olhos estavam fixos no rei. Felipe era o comandante da guarda real, ele protegia o castelo e comandava os exércitos de Vossa Graça. Pedro o admirava desde a época que ele comandava um grande exército de homens, para destruir as pedras da perdição. Eles se denominavam "os cavaleiros da justiça", que serviam o antigo rei, mas que os abandonaram devido a sua injustiça com os aguianos.

— Lorde Dorys convocou uma reunião do pequeno conselho. Ele aguarda a presença de Vossa Graça. — disse Felipe, tocando levemente em sua armadura. Sobre o seu peito estava o símbolo de sua casa gravada sobre o ferro. Era um corvo negro em cima de uma pedra, e, atrás dele, duas espadas cruzadas que pareciam estar em chamas. Ele era filho de Robert, da casa Assis. Uma casa pequena, mas que servia fielmente aos Bourbonnis.

— Diga a ele que irei! — afirmou o rei, fazendo um leve movimento com a cabeça.

— Vossa Graça!

Felipe novamente se curvou e deixou a sala, dando passos largos em direção a porta. Pedro voltou a olhar para a sua rainha e lhe deu um beijo em sua testa rosada.

— Preciso avisar o seu pai sobre a reunião do pequeno conselho.

— Meu pai não está na corte. — afirmou Elizabeth.

Pedro demonstrou espanto em sua face.

— Onde está o meu diplomata?

— Ele voltou para o castelo vermelho. Minha família estava querendo vir a corte e ele foi buscá-los.

— Com isso, ele aproveitou para ver se o castelo estava de pé. — disse Pedro, com meio sorriso nos lábios.

— Você conhece o meu pai, sabe o quanto ele dá mais valor as terras do que pela família.

Pedro deu um leve beijo em sua esposa e acariciou a sua face.

— Será melhor que sua mãe esteja aqui, logo a criança irá nascer e eu não quero que você fique andando pelo castelo. Pelo menos, terá alguém para conversar. — disse ele, dando um largo sorriso. — Agora volte para os aposentos e descanse, deixe que seu marido resolva os problemas da coroa.

Elizabeth despediu de seu marido com um ligeiro beijo e caminhou em direção a porta. Pedro fechou a janela da sala e retirou a coroa de sua cabeça. Ele pegou alguns documentos que havia assinado e deu longos passos em direção a porta, ouvindo novamente o ranger das dobradiças. 


Todos os domingos terá capítulos inéditos deste livro...

Espero por vocês!!

R.S.Ferreira

O Senhor das Águias e os Prisioneiros de NyënWhere stories live. Discover now