Capítulo 3 - O Assobio

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Tommy a narrar...

Eu lembro-me perfeitamente de que eu não tinha rede no meu telemóvel. Eu lembro de olhar para lá e não ter.

Porém, estava no meio da escuridão a tentar encontrar uma lanterna no meu sotão, quando recebo uma mensagem.

Continuava sem rede, porém tinha recebido uma mensagem mesmo assim.

Fui ver... Era do meu amigo de infância, o Max. Ele escreveu: "Onde estás?".

Algo me deixou com receio ao ler aquela mensagem. Eu não tinha rede, mas tinha recebido aquela mensagem... E sendo sincero, era uma mensagem estranha.

Onde eu haveria de estar? Em casa, certo? Ou sou eu a ficar paranóico?

Ainda com medo, escrevi a seguinte mensagem: "Estou em casa".

A resposta dele apareceu cerca de dois segundos depois, sem exagero:" Eu vou aí ter".

Eu perguntei de seguida: "E tu, onde estás?". Mas não houve resposta por parte dele.

Fiquei cerca de vinte minutos a olhar para o telefone, mas o Max não me respondeu mais.

Fiquei com ainda mais medo, quando pensei na seguinte possibilidade: E se não fosse o Max a escrever aquelas mensagens?

Encolhi-me num canto do sotão ao pensar nessa probabilidade... Eu não podia ficar ali. Não era seguro.

Peguei numa mochila velha, que tinha comprado quando fui acampar pela primeira vez e enfiei lá comida, água, lanterna e outras coisas que poderiam ser úteis.

Andei pelo soalho da minha casa até ficar com a cara à frente da porta principal.

Meti a mão na maçaneta e rodei-a devagar. Abri a porta, e quando o fiz, arrepiei-me pelo ar fresco que vinha do lado de fora.

Dei um passo no lado de fora e tentei que os meus olhos focassem nos vultos das casas à minha volta.

Quando me habituei um bocadinho aquela escuridão imensa, avancei pelo alcatrão da estrada, para a casa da frente.

Porém, quando já estava perto da casa do meu vizinho da frente, comecei a ouvir um assobio, que apresentava uma melodia bizarra.

O assobio fazia eco na rua onde eu estava, deixando aquela situação ainda mais aterradora.

Olhei à minha volta e não vi ninguém. Nem o mínimo vulto parecido a humano.

O máximo que eu vi foi casas, carros e caixas de correio.

Porém a melodia começava a ficar mais alta, o que indicava que fosse o que fosse, estava a ficar mais perto.

Corri para a porta da frente da casa do meu vizinho, abria, entrei e fechei-a de seguida.

Fechei as cortinas todas, mas fiquei a espreitar lá para fora.

Uns segundos passaram e acabei por ver uma figura na rua.

Tinha o tamanho de uma criança de dez a doze anos mais ou menos.

Vestia a roupa toda preta e não dava para ver a cara. Nem o nariz sequer.

Dentro do capuz daquele indivíduo apenas se via escuridão.

Continuou a assobiar... Parou na frente da casa onde eu me encontrava antes e fez uma vénia antes de pegar num isqueiro e começar a queimar a casa.

A casa era de madeira, facilmente inflamável e de um momento para o outro já estava completamente em chamas.

Ele parou de assobiar e ajoelhou-se à frente da casa, como se estivesse a fazer uma oração.

Quando ele teve a certeza de que tudo o que seria orgânico na casa já estaria morto por esta altura, ele levantou-se e pegou numa coisa que ele trazia na mão antes.

Cravou a ponta no chão... Com a luz das chamas deu para entender perfeitamente o que era.

Tive mais um arrepio depois de ver toda aquela cena.

O que ele cravou no chão foi, nada mais nada menos, que uma bandeira com um Sol desenhado de ambos os lados.

Depois, como se não fosse nada, a figura voltou a assobiar, enquanto ia embora num passo lento.

Uns minutos depois, já não tinha contacto visual com a figura, mas ainda ouvia o seu assobio à distância.

Fiquei ali, paralisado, a ver a minha casa arder, enquanto ouvia o vento a dissipar o assobio, já distante, daquela pessoa.

Se no primeiro dia sem Sol isto já aconteceu, nem quero imaginar o que irá se passar nos próximos. Ainda quero saber o que aconteceu...

O Dia em que o Sol não voltou [CONCLUÍDO] Where stories live. Discover now