a lembrança

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(S/n)

Abrir os olhos dessa vez foi mais tranquilo, não havia braços me acordando com rapidez para fugir de um local que provavelmente seria bombardeado a qualquer momento, não tinha choro e muito menos gritos. A única coisa que me fizeram acordar foi um suspiro em meu pescoço, lento e pacífico. Braços rodeavam meu corpo de forma calma e firme.

Nada parecido com aqueles desesperados que me acordaram por seis anos.

Dessa vez não sonhei ou tive pesadelos, apenas dormi tendo a paz que finalmente eu estava merecendo. Continuei olhando para o teto de cor neutra sentindo Camila me abraçando, o que fazia-me lembrar da nossa adolescência quando ela sempre queria dormir assim. Lembrar disso me fez sorrir e meu coração agitar pela primeira vez desde que acordei no abrigo sem saber o que estava acontecendo.

Meu braço direito servia de travesseiro para ela, seu rosto estava sereno e eu podia notar um leve sorriso em seus lábios. Poderia estar tendo um sonho bom.

Vê-la assim me fazia pensar no que ela passou sozinha, no que ela enfrentou, o que viu e quantas vezes havia chorado sozinha tendo ao seu redor o caos. O quanto ela teve que respirar fundo para continuar se salvando e, pelo que a conheço, salvando outros sobreviventes que encontrava.

Assim como fiquei seis anos fugindo sem rumo apenas para se manter à salvo, Camila fez o mesmo.

Eu sem saber qual era minha profissão e por que estava ali, apenas pensando na minha família e nela. Olhava para minha aliança sem saber o motivo de estar usando-a, porém sem tirá-la. De qualquer forma ela me salvou de momentos sombrios e foi meu porto seguro por tanto tempo.

Ao olhar para ela, eu só conseguia pensar em Camila, parecia que quanto mais a tinha naquele local e comigo, mais eu sabia que ela estava viva e me esperando.

Mesmo sem lembrar, eu sabia que havia um motivo de Camila sempre ser a primeira pessoa que vinha em mente.

– É estranho te ver assim, depois de muito tempo. — A voz rouca e arrastada de Camila me fez sair de meus devaneios, a olhei e pude notar que ela ainda mantinha os olhos fechados, porém o sorriso ainda estava ali.

– Eu também acho, Cam. — Disse enquanto passava meu braço esquerdo pela sua cintura e me virava para ficar mais perto dela. Camila sorriu largo e se aninhou soltando um suspiro.

– Porém é tão bom te ter assim dessa forma. Durante a madrugada, eu acordei diversas vezes só para ter certeza que você estava do meu lado me abraçando e que dessa vez você não iria embora. — Sua voz estava abafada, pois ela fazia questão de estar abraçada à mim.

Apesar de não lembrar de como éramos casadas, eu me lembrava até a faculdade e em como eu agia com ela. Como eu cuidava de Camila e o quanto eu sempre a amei.

Talvez o meu sonho de casar com ela se tornou realidade.

– Quando a guerra aconteceu, onde estávamos? — Perguntei agora tendo aqueles encantadores olhos castanhos me olhando.

– Eu estava em Londres, minha turnê já estava em andamento e no outro dia teria que ir para Holanda para mais um show. Lembro de no dia anterior ter conversando com você via Facetime enquanto você tinha acabado de chegar do trabalho. — Disse. — Você era uma agente da alta patente no FBI, teve que ficar nos Estados Unidos devido uma suspeita de tentativa de terrorismo na Times Square. Até pensei em adiar minha ida a Europa, mas você me convenceu a ir, pois meus fãs precisavam de mim. — Observei uma lágrima solitária cair em seu rosto. — Quando acordei, eu apenas via destroços, concretos no chão, fumaças e muitos edifícios destruídos. Pessoas corriam de um lado para o outro, crianças choravam e pediam ajuda para procurar suas famílias. Era um caos, (s/a). Apenas corri para um lugar seguro até ver uma notícia que o prédio do FBI havia sido bombardeado, lembro de você dizer na noite anterior que já estava a caminho pois queria terminar logo para poder me ver e e-então...

Back to Life {Camila/You}Onde as histórias ganham vida. Descobre agora