35 | A minha mãe mandou-te beijinhos.

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"Tudo bem, a Elaine também já chegou por isso..."

Elaine enruga a sua testa de pele clara quando ouve a menção do seu nome e tento sorrir com a tua reação.

"Manda-lhe beijinhos. Portem-se bem." A minha senhora adverte, como se o meu estado me conseguisse levantar da cama.

"Sim, sim. Adeus mãe."

"Adeus."

Pouso o telemóvel a meu lado e, mal tenho tempo para respirar fundo. Quando dou conta, já tenho a rapariga de cabelos curtos abraçada a mim. O seu aroma é doce e transmite-me uma falsa alegria. Fecho os olhos, tentando aproveitar ao máximo o momento, pois as saudades já quase que gritavam dentro de mim. É certo que é raro estarmos juntas pessoalmente mas temos vindo a comunicar diariamente através de mensagens e, por vezes, chamada. Admito ter visto em Elaine um grande porto de abrigo, ultimamente.

"Como estás, Blair?"

"A minha mãe mandou-te beijinhos." Eu informo, tentando fugir ao assunto com o meu tão característico tom humorístico.

"Obrigada, depois dizes que eu retribuí. Agora, Blair, como estás?"

"Como achas, Elaine?"

"Queres contar-me o que aconteceu?"

"Sim, eu quero. Eu estou mesmo a precisar de desabafar com alguém se não eu acho que explodo."

"Então ainda não contaste a situação à tua colega de quarto..." Ela acaba por concluir após o meu comentário.

"Eu gostava, a sério que gostava de contar toda esta situação a Samantha mas não tenho coragem. Tenho medo que chegue aos ouvidos de algum dos professores e que, consequentemente, chegue aos ouvidos da minha mãe."

"Estás no bem-estar e na felicidade dele ao dizeres isso."

"E em mim também. Já viste como ficaria a minha mãe se tivesse conhecimento disto? Não é fácil a minha situação. Não é nada fácil mesmo."

"Eu entendo. O problema é que tu gostas mesmo dele, não é?"

"Sim. O problema é que eu gosto mesmo dele."

Elaine acaricia o meu rosto com a palma da sua mão e fecho o meu olhar. Só o facto de pensar nele faz o meu coração acelerar. Reviver aqueles bons momentos, que partilhara com Zayn, acaba por ser terrível visto que os meus sentimentos, que anteriormente se encontravam guardados num estável vaso de vidro, estão agora misturados com os cacos do respetivo recipiente.

Eu sou o vaso. Não estou capacitada para me manter a estável, ainda que aparente estar. Eu própria juntara as minhas mil e umas peças e tentara compor-me mas basta um simples toque em falso para me desfazer e me resumir a nada.

"Blair, contas-me o que aconteceu?"

"Sim."

Suspiro e limpo a palma suada das minhas mãos às calças do meu pijama. Estava nervosa e inquieta por ver a reação da minha meia-irmã perante a situação que lhe estou prestes a contar. Em nenhuma ocasião falara do problema de Zayn mas agora, e para a situar melhor na situação, vou ter que lhe dizer.

"O Zayn é sadomasoquista e, por isso, tem uma certa dificuldade em compreender o que é pedido num relacionamento. De qualquer das formas, isso não implica o que ele me fizera." Resmungo para o ar. Respiro fundo, compreendendo que já havia fugido do assunto e tento retomar. "Até ao momento, não tive grandes queixas relativamente ao seu comportamento. Tudo entre nós parecia estar a dar certo." Faço uma pequena pausa e fixo um pouco no chão para conseguir falar mais à vontade. "Eu nunca fora realmente segura de mim própria ainda que o demonstre, sabes? E o facto de ele ser muito atraente fazia com que eu temesse ainda mais pela nossa relação. Então, houve um dia em que fora ao bar e escutara uma conversa que me deixara a pensar."

"Sobre o quê?"

"Três raparigas estavam a comentar as provocações que ele fazia. Ouvira até uma comentar que ele a fez sentir bem e, pelo tom que ela usara na altura, não me parecera que fora uma situação nada inocente. Eu estava tão bem com ele, Elaine. Eu estava realmente feliz, entendes?"

As lágrimas já percorriam o meu rosto enquanto as recordações nostálgicas corroíam o meu coração. É deveras impossível negar que ele me proporcionara momentos muito bons nestes três meses que nos conhecemos e eu estava realmente feliz. Eu sentia-me realmente feliz.

"Blair, por favor não chores. Eu choro ao ver as outras pessoas tristes."

Os meus olhos fecham-se com mais força e as gotas das lágrimas, que se haviam acumulado nas minhas pestanas, acabam por cair para o tecido do meu pijama, sem sequer percorrerem no meu rosto. O abraço da minha meia-irmã consegue substituir o tão desejado afeto que o meu exterior anseia. No entanto, nada consegue substituir o desespero e a necessidade de carinho que o meu interior anseia.

Z a y n

A minha mala é forçada a permanecer estável contra o meu corpo devido à pressão que eu exijo na mesma. A mala de viagem já se encontra na mala do meu quarto e não tenho palavras para descrever o quanto desejo chegar a casa. Prometera à minha mãe e às minhas irmãs de que deste fim de semana não passava e irei cumprir com a minha palavra. Honestamente, sinto saudades do conforto da minha simples vivenda e da minha humilde família.

Alguns alunos, por educação, passam por mim e despedem-se com um modesto cumprimento. Ainda que tenha retribuído num tom de voz calmo e baixo, nem sequer me atrevi a olhá-los nos olhos para saber de quem se provinham. Esta semana fora muito atribulada para mim e, por isso, anseio muito por descansar longe desta sufocante prisão.

Blair não aparecera a nenhuma das minhas aulas mas, segundo entendi pelo murmurinho existente na sala dos professores, ela não aparecera nas aulas de nenhum dos meus colegas. Ninguém sabia o motivo de ela estar ausente da universidade e a sua mãe, contrariamente ao que pensei que fosse fazer, não nos prestou nenhuma declaração. Unicamente nos informou de que ela não viria.

A princípio, mesmo após a discussão, achava-me senhor da razão e admito ter ficado contente com a nossa separação. Fora como se a dor e a revolta que tenho dentro de mim se igualassem aos sentimentos que tenho por Blair. Contudo, essa dor e revolta acabaram por se ir desfazendo deixando dentro de mim uma grande mágoa e arrependimento. Ficar com a Blair é cansativo mas ficar sem ela é insuportável. Simplesmente, apeguei-me demasiado à rapariga de cabelos negros e, agora, não sei como a apagar da minha mente pois, após as atrocidades que fui cometendo ao longo do nosso relacionamento, não sei se ela alguma vez irá voltar para mim.

Pouso a mala do trabalho no banco ao meu lado e coloco a chave do carro na ignição. Não sou capaz de colocar o motor a trabalhar pois, sinto que ao abandonar a cidade, estou também a deixar uma parte de mim aqui, ainda que volte daqui a dois dias. Blair está neste momento em parte incerta e o meu egoísmo fala mais alto, implorando-me aos berros e de joelhos para a procurar.

Os meus dedos tocam no ecrã tátil digitando o seu número telefónico, do qual já sabia de cor e salteado. Fico a para o vidro luminoso durante alguns minutos seguidos mas a minha cobardia acaba por arriscar no seguro e acabo por desistir.

De qualquer das formas não faria sentido. Eu sou algo que ela tem que esquecer e isto fora quase como um sinal de alerta. O que Blair precisa é de alguém que cuide dela durante o seu percurso pela vida e não alguém que a destrua aos poucos. O que nós tivemos fora um erro, um erros que ambos sabíamos que estávamos a cometer mas que insistíamos em continuá-lo. Eu irei-me afastar de Blair para que ela possa ter uma vida melhor. No entanto, não sei se o meu egoísmo e desespero de a ter por perto o vão permitir.

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Nota: Os erros de coerência das frases, na chamada com a mãe, são devido à incompreensão da Blair.

Toxic 》 malikWaar verhalen tot leven komen. Ontdek het nu