XVII

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ChenLe


Eu sentia frio.

Era um frio que não dava para sentir na pele. Era um frio que envolvia meu coração, doendo a ponto de parti-lo. E nunca parava. Aquela dor... Doía e se partia e nunca parava.

Eu chorava. Eu sabia que sim. Mas não sentia. Meu rosto estava dormente, assim como cada parte do meu corpo.

Olhei ao redor, meus olhos pesavam como se eu tivesse acabado de acordar. Tudo parecia um sonho na verdade.

Onde eu estava? Não sei. Em algum entre lá e lugar algum, para onde todos vamos antes de seguir para o fim. Um lugar que todos conhecem, mas não lembram.

Era uma terra desolada, coberta de neve, onde sempre soprava um vento amedrontador, sem um horizonte visível. Tudo que havia eram árvores desprovidas de qualquer folhagem, o tronco negro e envelhecido.

"Hey! Espera!"

Essa era sem dúvidas a pior parte: as lembranças. Tudo era doloroso ali, mesmo os momentos mais felizes. Toda lembrança sua era dolorida demais.

"Qual o seu nome?"

Tentei em vão cobrir meus ouvidos, mas as palavras rasgavam minha mente como lâminas de ferro.

"É um ser como todos os outros."

Meu olhar desceu para a pequena cicatriz na minha mão, em formato um tanto deformado de Z. A lembrança de braços confortáveis me protegendo me fez soluçar. Seu rosto me escapava como fumaça se dissipando.

Não era ele... Aquele não era ele...

"Por que toda vez que nos despedimos parece que é a última vez que vamos nos ver?"

Eu nunca pude lhe dizer... Mas era porque, toda vez que nos despedíamos, podia realmente ser a última vez que iríamos nos ver. Porque eu não podia prever o amanhã, e por isso ele era incerto e não garantia nada. Eu o amei desde o primeiro momento, porque a qualquer ele podia ser tirado de mim, como muitas vezes já aconteceu.

Como meus pais, anos atrás, para me salvar se sacrificaram. Eu era ainda muito pequeno, mal chegando em meus cinquenta anos - eu teria mais ou menos dez anos em idade humano. Fui colocado com pressa sob a cobertura das raízes de uma árvore. Era apertado e minha pele ardia e rasgava sempre que eu tentava me mover.

"Um bom menino", minha mãe disse. "Seja um bom menino e fique aqui."

Tudo que eu me lembrava daquele dia eram essas palavras. O resto era uma confusão de tochas e gritos e destruição.

Pior ainda era não lembrar do que aconteceu, do que passou. As lembranças simplesmente evaporavam enquanto meu coração disparava sempre que eu pensava nisso.

"Só um pode entrar aqui"

Meu irmão... Eu nem mesmo sabia o que aconteceu com meu irmão.

E eu odiava isso. Essa sensação de temer cada minuto desperdiçado. O aperto no meu peito era saber que o dia podia passar e você já não estaria ali.

My Little Elf - ChenSungWhere stories live. Discover now