1. Home Office Macabro

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— Eu devo estar trabalhando demais mesmo! Já estou até ouvindo coisas. — falou para si, ao mesmo tempo em que esfregava seu rosto com as mãos e, em seguida, respirava profundamente.

Ellen estava quase saindo da sala quando, de forma repentina e com o volume extremamente alto, a televisão ligou sozinha, fazendo-a saltar rente à parede. O coração quase "saiu pela garganta"; a respiração ficou ofegante; e a pele pálida.

— Você também vai flutuar! — gritava várias vezes o garoto com capa de chuva amarela que aparecia na tela da TV.

Ellen pegou o controle remoto que estava sobre o sofá e imediatamente a desligou. Esse tipo de coisa acontece, dizia para si; o aparelho era novo, talvez até estivesse com defeito. Então, para dar fim ao mistério dos barulhos, decidiu revisar os demais ambientes da casa, começando pelo térreo. Checou a sala de jantar, a despensa e o lavabo; ignorando o porão, pois deduziu que o som teria uma característica "abafada" se tivesse vindo daquele local.

Sem notar nada de anormal no térreo, subiu até o segundo andar do sobrado e inspecionou os demais cômodos: todos estavam em ordem. Quando preparava-se para voltar, Ellen ouviu ruídos que pareciam vir, mais uma vez, da sua cozinha. Desceu os degraus rapidamente e, após outra frustrada checagem, decidiu que era hora de abandonar aquela busca. Enquanto isso, os sons dos trovões já indicavam que, em instantes, a tempestade iria começar.

Voltando para o escritório, Ellen ficou surpresa ao ver as janelas completamente abertas. As folhas, com anotações de seu trabalho e que estavam em cima da mesa, voaram pelo local, assim como alguns objetos que decoravam as prateleiras do ambiente e que, naquele instante, somavam-se à bagunça.

— Tá de brincadeira! — reclamou.

Fechou as janelas e recolocou todos os itens em seus devidos lugares. Pelo menos, sentia-se aliviada, pois os ruídos de antes deviam ser consequência do forte vento; talvez depois descobrisse que teria que fazer reparos no vidro de alguma janela ou porta, mas acreditava que não precisaria mais se preocupar com isso no momento. Ellen sentou-se na cadeira do escritório e retomou o trabalho. Estava focada novamente, respondia e-mails, editava o planejamento de marketing, conferia resultados... quando, subitamente, sentiu um toque gelado no ombro direito; causando arrepios. Em velocidade, levantou-se da cadeira para, no fim, perceber que não havia ninguém no local, além dela mesma. O que está acontecendo? Perguntava-se. O cheiro de "ovo podre" havia se intensificado. Ellen era uma pessoa cética em relação à assombração ou coisas do gênero, embora, quando criança, adorasse ouvir as histórias assustadoras que a mãe contava. Contudo, deu pouca importância ao ocorrido e tentou focar em seu trabalho novamente. Olhava atentamente para um documento na tela de seu notebook quando teve a mesma sensação de antes. Dessa vez, a sua primeira reação foi apenas olhar em direção ao ombro. No entanto, seu corpo travou ao enxergar uma mão enrugada, com diversas feridas abertas e unhas grandes e sujas, apertando-a cada vez mais forte. Queria gritar, mas a voz não vinha. Olhou para frente e, pelo reflexo do vidro da janela, viu uma criatura demoníaca a encarando. O ser parecia ser um velho, sem camisa, com pele enrugada e cheia de feridas expostas pelo corpo. Ele não possuía nenhum tipo de pelo e, no lugar de seus olhos, havia apenas buracos pretos profundos, como um vazio infinito. Ellen sentia as unhas da criatura rasgar a camisa e começar a perfurar a sua pele, porém seguia passiva, como se a comunicação da mente, que gritava incessantemente "Saia logo daí!" com o corpo, que tremia cada vez mais, houvesse sido cortada.

Junto de um grande trovão, a energia elétrica foi interrompida. Ironicamente, o estrondo "religou" a mulher que, ao não ver mais a criatura, levantou-se da cadeira e saiu correndo do escritório. Ellen seguiu para a porta da frente da casa, porém, mesmo com seu empenho em abri-la, não conseguia destrancá-la. Em seguida, correu em direção à cozinha e tentou abrir as portas dos fundos, também sem sucesso. Olhou para o lado e teve a ideia de tentar arrebentar o vidro com uma das banquetas que compunham a bancada em frente à pia. Bateu uma vez, a porta apenas balançou; com mais força, bateu uma segunda vez, porém a estrutura reforçada parecia não ser avariada o suficiente para que o vidro quebrasse. E, antes de bater a terceira vez, percebeu que a porta do porão, a alguns metros para trás, começara a abrir lentamente e sem nenhuma razão. Ellen apressou-se para tentar quebrar o vidro da porta da cozinha novamente, no entanto, antes mesmo de terminar o movimento de impulso, sentiu algo lhe puxar com violência pelas pernas.

Medo: Contos de TerrorWhere stories live. Discover now