Green eyes

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Narrador

  Nossa mente escolhe algo diferente para se apegar a cada dia que passa. As vezes uma musica gruda na sua cabeça, as vezes um filme, série, livro, pessoa... E as vezes é uma imagem. Ou melhor, lembrança. Aquela lembrança a qual a sua cabeça se apega, que chega a ser irritante a recorrência em que você pensa naquilo. É simplesmente inevitável.

Sina ainda não sabia o porque da fissura de sua própria cabeça naqueles olhos. Os olhos verdes que vinham acompanhado os pensamentos de Sina nos últimos dois dias. A alemã não sabia o porque do sentimento de ter se esquecido de algo muito importante, como se aqueles olhos fossem algo mais do que apenas olhos. 

Sina não vinha conseguindo se concentrar em mais nada e isso começava a irrita-la. Ela se remexeu na cadeira giratória de sua mesa do escritório, esfregando as têmporas em sinal de estresse. Ela olhou para os diversos números gravados na tela do computador. Era a vigésima vez que ela lia aquele mesmo paragrafo, mas nada entrava em sua cabeça, por mais que ela tentasse. Ela já estava muito ocupada. A alemã olhou para o relógio em seu pulso, já impaciente. De acordo com suas contas, seu horário de almoço seria daqui a meia hora. Só mais meia hora.

 A segunda feira estava mais monótona e irritante que o normal, a chegada de Noah Urrea todo dia ao mesmo horário de manha, já havia se tornado algo normal e recorrente na ultima semana. Algumas vezes ele vinha acompanhado de caixas de papelão que eram direcionadas para uma sala no fim dor corredor. Sina só conseguia imaginar se o garoto estaria indo trabalhar lá e não poderia estar mais desanimada com o fato. Provavelmente o garoto iria apenas mandar que os outros fizessem seu trabalho e ganharia o dobro que muitos ali por isso.

 Por outro lado, a curiosidade de Sina a atiçava. Em nenhuma das vezes ela havia conseguido ver o rosto de Noah, pois ele estava sempre vestido com um moletom e um capuz que cobriam boa parte de seu rosto, além dos óculos escuros que sempre o acompanhavam. As fotos das revistas eram tremidas ou escuras demais para enxergar algo e Sina proibira a si mesma de procurar mais sobre o garoto na internet. 

 Sina preencheu alguns formulários durante a meia hora seguinte. Ela não estava nem um pouco satisfeita. Sabia que o trabalho estava mal feito e gostava de fazer tudo com perfeição, com a intenção de ganhar a promoção. O cargo de chefe de departamento era como um sonho para a alemã. Por mais que a mesma não almejasse trabalhar com números e contas o dia inteiro, o salario era muito bom e daria a Sina a possibilidade e segurança financeira para trabalhar na área literária. 

Porem o estresse e o tedio impediram que a alemã usasse parte do seu horário de almoço para refazer o trabalho. Ela poderia fazer isso depois, ou até mesmo levar o trabalho para casa. 

- Você não está animada? - Alissa, a ruiva que se sentava em frente a Sina desde que a mesma trabalhava no escritório falou, se apoiando na mesa de Sina e abrindo um enorme sorriso. Por mais que tentasse Sina nunca gostou muito da ruiva. Ela era artificial e metida demais para a alemã, nunca perdia a oportunidade de se jogar em cima de qualquer homem rico que passasse a sua frente. Mas Alissa sempre fora simpática com a companheira de trabalho, então a platinada tentava agir da mesma forma.

- Com o horário de almoço? Com toda certeza. - Sina se levantou e esticou as pernas, alongando os músculos do tempo que ficou sentada na cadeira. 

- Não Sina, fala sério! Vamos ter o chefe mais gato de todos os tempos! - Sina olhou para a ruiva aparentemente animada com confusão no olhar. Não estava sabendo de ninguém novo que ocuparia um cargo importante na empresa. Ainda mais alguém bonito. Joalin certamente já estaria sabendo. Percebendo a confusão da alemã Alissa emendou.

- Sabe... Temos que concordar que Noah Urrea é um gato e será um chefe de departamento incrível! - O coração de Sina acelerou e ela sentiu uma sensação horrível de ânsia e nervosismo.

- Achei que iam dar este cargo para alguém da empresa. - A voz de Sina saiu como um fiapo. Alissa pareceu não perceber porque continuou animada e sorridente, provavelmente pensando como iria seduzir o novo chefe.

- Bom, é o filho do dono dessa empresa inteira! Não iam colocar ele para trabalhar... tipo... com agente! - Sina ficou muda. - Pera, você não esperava mesmo que você fosse receber esse cargo né? - Aslissa enrolou uma mexa do cabelo vermelho, olhando para Sina com ar de desdém. O sentimento de desapontamento que a alemã sentia se transformou subitamente em raiva. Ela não podia acreditar que aquele filhinho de papai iria receber o emprego pelo qual ela havia trabalhado tanto. 

- Na verdade, eu esperava sim. Eu trabalho mais que qualquer um aqui, meus trabalhos sempre são entregues no prazo e com perfeição. Então Alissa, sim, eu fui burra o suficiente para acreditar que aquele cargo poderia vir a ser meu. - Sina pegou a bolsa e saiu andando, tentando ao máximo engolir a raiva que borbulhava dentro dela. Os corredores extensos do prédio estavam vazios a esta hora, e as poucas pessoas que se encontravam lá terminavam o  trabalho antes de ir embora como todos os outros.

 Sina mandou uma mensagem para Joalin avisando que não iria a cafeteria naquele dia. Ela não estava ne um pouco afim de conversar, só precisava de um tempo para se acalmar e pensar no que faria agora. Com certeza seus planos mudariam completamente. A raiva aos poucos foi se transformando em tristeza. Sina conseguia se lembrar exatamente de quando havia saído de casa com apenas 18 anos e se mudado para a movimentada Manhattan, em uma tentativa de fugir do caos de sua vida. Se lembrava de como havia se esforçado para conseguir um emprego em uma pequena lanchonete no centro e de como, mais tarde, havia conseguido um emprego em uma das maiores empresas do mundo. A editora seria o próximo passo. Talvez até um livro. Mas sem aquela promoção nada daquilo seria suficiente. Seu salario era suficiente para pagar as contas e suprir suas necessidades e Sina precisava de estabilidade financeira para trocar tão abruptamente de emprego, principalmente um em que o salario não era tão promissor.

  A alemã parou ao se deparar com um cantinho vazio e silencioso perto de uma janela que irradiava grande quantidade de luz solar. Sina se aconchegou no banquinho acolchoado ao lado da janela e pegou o exemplar, já surrado de orgulho e preconceito da bolsa. Um romance clássico era tudo que Sina necessitava naquele momento. Os livros sempre foram como uma porta de fuga para a vida tumultuada da mesma, uma forma de se distrair de sua realidade e viver romances e aventuras através dos personagens. Sina havia lido aquele livro pela primeira vez quando seu pai chegou bêbado com uma mulher em casa. A mesma se lembrava de ter ganhado o livro da avó e de ter sido cativada pela história de Elizabeth Bennet e Sr. Darcy nas primeiras palavras do clássico. Eles foram sua rota de fuga naquela noite e em muitas outras.

 " Você enfeitiçou meu corpo e alma. E eu amo... Eu amo... Eu te amo. Nunca mais quero estar longe de você de agora em diante. " Aquele trecho era lindo. Sina sempre esperou viver algo como aquilo, ouvir palavras como estas serem dirigidas para si. Aos poucos foi percebendo que aquilo não passaria de uma mera ilusão, e tudo o que podia fazer era satisfazer-se com os livros. Pelo menos não seria ela a sofrer a dor da perda de um amor. E ela pretendia nunca sofrer, não depois de tudo o que já vivera. As vezes Sina achava que Jane Austen escrevia para ela.

- È um bom livro não acha? - Uma voz rouca e familiar cortou o silencio, fazendo com que Sina imediatamente abrisse um sorriso. Quem quer que fosse o dono da voz tinha muito bom gosto. Porém assim que levantou os olhos Sina encontrou algo típico de um final de capitulo.  Olhos verdes, brilhantes e profundos.


Desculpa pelo capítulo curtinho, compenso no próximo!😊

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