55_ Ele é meu pai?

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Aquele foi como o momento mais esperado da minha vida, de uma forma... era.

Eu sonhava em conhecer minha família, saber quem eu era, da onde eu vim, o que havia acontecido... e agora... eu sabia. E eu estava prestes a dar um abraço na minha família.

Eu corri até dona Clara com lágrimas nos olhos e abracei como se fosse a primeira vez. Como se eu nunca a tivesse visto na vida.

- Oh querida, não chore. - Ela falou enquanto me abraçava forte. - Eu não quero vê-la chorar.

O doutor Josef se afastou de nós e saiu da sala em silêncio para que ficássemos sozinhas.

Depois de cobri-la de abraços, eu me sentei na cadeira ao lado da cama dela e a olhei com um sorriso tão grande que fiquei com medo que ela se assustasse.

Segurei sua mão e ela se sentou na cama.

- Eu... eu nem consigo acreditar. A senhora não faz ideia do quanto eu sonhava em conhecer minha mãe, minha avó, meus familiares. Saber da onde eu vim, o que aconteceu.

- Eu sinto muito que por minha culpa você tenha crescido sozinha e sofrido tanto minha querida. Eu sinto muito mesmo.

- Ei, não foi sua culpa vó. - Eu vi o brilho nos olhos dela quando me escutou dizer.

- Pode falar de novo? - Uma lágrima escorreu pelo seu rosto.

- Quantas vezes quiser, vovó. - Sorri pra ela que sorriu mais.

Eu abracei mais uma vez a mesma me deu um beijo na cabeça.

- Ah Alice, como pude não te reconhecer? Você é a cara da minha Roseta. Até no jeito de falar e andar, é igualzinha. - Ela falou com um sorriso.

- Me fala mais dela? - Sorri me inclinando pra frente. 

Eu passei um bom tempo ali com ela apenas ouvindo do quanto minha mãe era uma mulher incrível.

O tempo inteiro minha vó falava do quanto eu me parecia com ela.

- Amor? - Miguel apareceu na porta do quarto com dois copos fechados de café e arregalou os olhos quando viu dona Clara acordada e eu com um sorriso do tamanho do mundo. - A senhora acordou...

Miguel se aproximou de nós com um sorriso.

- Oh Miguel, eu tenho muito que te agradecer.

- Pelo que?

- Você cuidou da minha Alice. Eu posso ver nela o quanto ela está feliz com você. - Ela falou sorrindo pra ele e ele olhou pra mim. - Serei eternamente grata.

- Não tem porque agradecer. A um tempinho atrás eu fiz uma promessa para mim mesmo que meu objetivo seria fazê-la feliz. - Olhei pra ele. - E se estou conseguindo... eu estou mais que feliz também.

Meu sorriso foi ainda maior quando ouvi aquilo dele.

- Eu te amo. - Falei, porém nenhum som saiu da minha boca. Mas vi que ele entendeu e sorri com aquilo.

- Também te amo. - Ele falou da mesma forma. - Bem... acho que vocês duas tem muito o que conversar, né? - Miguel falou deixando os cafés numa mesinha que tinha ali.

- Fica, amor. - Ele olhou pra mim. - Você faz parte de mim e merece saber de tudo sobre mim. Fica aqui comigo.

Miguel abriu um sorriso e puxou a outra cadeira se sentando ao meu lado.

Minha avó continuou falando sobre minha mãe e eu estava amando ouvir, porém havia uma pergunta que eu não conseguia tirar da cabeça.

- O que aconteceu com meu pai? - Eu perguntei de repente e os dois olharam pra mim. Minha avó parou de sorrir e olhou pra baixo. - Eu sei que não deve ter acontecido algo muito legal, mas eu preciso saber!

- Ok. - Ela falou me fazendo encara-la e respirou fundo. - Sua mãe, assim como você, sonhava em viver um romance. Ela sonhava em receber flores, ou uma serenata, ou uma carta de amor, ela era apaixonada por romances e aguardava por isso ansiosa. - Ela deu uma pausa, mas logo prosseguiu. - Quando Roseta completou 18 anos, ela se formou e começou a trabalhar em uma livraria e conheceu Josef.

- Josef? O doutor Josef? - A interrompi.

- Sim. Ele frequentava a livraria porque na época estava fazendo sua faculdade de medicina e muito dos livros que ele precisava, ele encontrava lá. Josef era um ótimo rapaz, era gentil com sua mãe e dava todos os sinais de que estava interessado, eu sabia disso porque sua mãe me contava tudo.

- Ela também se interessou por ele?

- Aí estava o problema. Sua mãe o via apenas como um ótimo amigo. Depois de umas semanas um rapaz novo se mudou pra cidade e começou a frequentar a livraria também. O nome dele era Arthur se não me engano. - Continuei a encarando. - Arthur fez tudo o que sua mãe esperava de um romance perfeito. Ele lhe deu flores, escrevia cartas de amor, a acompanhava até em casa todos os dias. Eu conhecia por isso, eu ficava esperando que sua mãe chegasse do trabalho e ele sempre a trazia até meu portão.

- A senhora gostava dele?

- Gostava. Infelizmente gostava. Arthur parecia um ótimo rapaz. Nunca desrespeitou Roseta. Depois de uns meses ele foi pedir a mão de Roseta pra mim. E eu... como cria e via que ela era uma boa pessoa e via o quanto sua mãe estava feliz com ele... permiti.

- E o Josef?

- Josef ficou chateado. Como ele havia se tornado amigo de sua mãe, ela já havia o levado em casa algumas vezes para almoçar com a gente e essas coisas, porém isso só iludiu ele. Quando sua mãe começou a namorar, ele ficou arrasado. Eu podia notar.

- Coitado. - Minha mão foi em direção ao meu peito. Eu realmente fiquei triste por ele, isso explica o porquê de ele ter ficado tão estranho quando perguntei por meu pai.

- Uns meses depois eu descobri que sua mãe estava grávida. Ela tentou me esconder porque ficou com medo da minha reação, mas não tinha como esconder para sempre. Nós conversamos e eu a expliquei que a apoiaria sempre e ajudaria com tudo. Ela já era adulta e madura o suficiente, não precisava agir daquela forma. Infelizmente, quando Arthur descobriu da gravidez, ele simplesmente largou sua mãe como se ela não fosse nada.

Meu peito se apertou só de imaginar como minha mãe havia sofrido.

- Sua mãe ficou desolada. Ela realmente perdeu o chão dela. Eu nunca tinha a visto tão triste e amargurada como naquele dia. - Eu podia sentir a dor da minha avó a cada palavra que ela dizia. - Mas... uma pessoa estava ali para ajudar e abraçar Roseta com muito amor e carinho: Josef.

- O.. o que ele fez?

- Eu amava sua mãe. - Ouvimos a voz do doutor Josef e olhamos para a porta o vendo ali com os olhos vermelhos. - Eu via o sofrimento dela e sofria junto. Eu não conseguia vê-la daquele jeito.

- Josef ficou ao lado de sua mãe durante toda a gravidez e a cada dia que se passava ele provava mais o quanto a amava. - Minha avó falou em seguida

- Eu estive com ela em todos os momentos, principalmente quando ela descobriu que sua gravidez era de risco.

- Josef ainda era aluno, mas conseguiu um estágio para estar com ela no dia do parto.

- Eu ia te assumir como minha filha, Alice. - O doutor falou com lágrimas nos olhos.

- O senhor... - Me levantei.

- Eu amava sua mãe e cuidaria dela e de você com todo o meu amor. Mas eu não pude depois que... - Ele falou com a voz tremida e levou sua mão fechada na frente da boca. - Eu não pude fazer nada. Eu estava lá e não pude fazer nada!

- Calma Josef, não cabia a você escolher. - Minha avó falou calmamente. - Era a hora da minha filha.

- Eu tentei ficar com você ou te adotar depois que você nasceu, mas eu não era nada da família. Eu e sua mãe não havíamos dado nenhum passo e eu era só um calouro de medicina. Não pude fazer nada e nem soube para onde te levaram. Eu... eu sinto muito por tudo que você passou.

Eu não tive outra reação a não ser abraça-lo. Ter o doutor Josef ali valia mil vezes mais do que ter o meu pai biológico.

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Continua...

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