46_ Bronquite crônica?

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- Será? - Maria me olhou confusa. - Ta certo que ela super te acolheu e cuida de você até hoje, mas sua avó? Seria muita coincidência.

- Eu sei. - Olhei pra frente.

- Eu não to descartando totalmente a possibilidade. Mas... ela não disse que nunca teve filhos?

- Sim. Isso é o estranho.

Maria permaneceu com sua expressão pensativa e eu me lembrei, de repente, daquela caixa que encontrei embaixo da cama da dona Clara.

Roseta, quem seria?

- Passa no apartamento dela hoje. - Maria perguntou me fazendo olha-la. - E me dê notícias, se aquela guria estiver doente, eu acho que adoeço junto.

Ri da mesma. Maria sempre gostou muito da dona Clara.

- Mas... e você e o bonitinho ai? - Perguntei catucando o braço dela e a mesma sorriu sem jeito.

- Não tem nada rolando. A gente só... ele só se sentou aqui. Eu nem convidei. - Ela deu de ombros.

- Aham... você pensa que me engana. - Respondi rindo.

O ônibus logo apareceu no ponto e nós fomos rumo a faculdade. Miguel ao meu lado e Davi ao lado da Maria.

[...]

- Promete que vai mesmo? - Miguel perguntou assim que paramos em frente ao meu apartamento.

Nós já havíamos voltado da faculdade e Miguel estava me segurando na portaria do meu prédio. Ele queria que eu prometesse que eu iria para o seu apartamento depois.

- Prometo. - Sorri. - Escuta, você não tinha um jogo ontem?

- Tinha. - Miguel olhou pro chão. - Eles adiaram por causa de um problema com o outro time. Nem sei quando vai ser agora.

- Ah sim. - Assenti. - Bem, eu vou subir. Vou dar uma limpa no meu apartamento e vou passar na casa da dona Clara para ver se ela está bem.

- Ta bom. Mas não demora, ta bom? E qual quer coisa me chama.  - Miguel me deu um beijo e logo foi para seu apartamento.

Eu entrei no meu prédio e caminhei direto para meu apartamento. Como eu havia planejado, depois de trocar de roupa, eu arrumei o meu apartamento deixando tudo arrumadinho e também almocei.

Eu até liguei a televisão para ver alguma coisa, mas eu estava preocupada demais com a dona Clara para assistit algum filme.

Eu desliguei a televisão e sai do meu apartamento. Porém, assim que saí do mesmo, me surpreendi ao ver um homem de terno cinza e uma maleta saindo do apartamento da dona Clara.

Eu me aproximei rapidamente antes que ele descesse as escadas e o parei.

- Oi? Tudo bem? - Ele parou e olhou para mim com um sorriso simpático. - O senhor estava saindo do apartamento da dona Clara, ela está bem? Aconteceu alguma coisa.

O senhor parou de sorrir e me olhou com um olhar nada agradável.

- Você é parente dela? - Ele perguntou tirando seus óculos do rosto e o colocando no bolso de sua roupa.

- Não. - Neguei. - Mas sou uma amiga. E eu não tenho a visto, fiquei preocupada. Meu nome é Alice.

- É um prazer senhorita Alice. Eu sou o doutor Josef, médico da dona Clara.

- Médico? - Minha voz falhou por um momento.

- Isso. - Ele assentiu. - Como amiga da dona Clara é bom que fique ciente do atual estado dela. - A cada palavra que aquele médico proferia, o meu coração apertava mais. - A senhora Clara Dias está em um estado grave de bronquite crônica.

- O que? - Minha mão foi parar na minha boca e os meus olhos marejaram.

- É muito comum na idade dela, ainda mais na mesma que já teve alguns problemas pulmonares.

- Mas ela... ela vai ficar bem?

- Há grandes possiblidades, mas com a idade da mesma, e como médico, eu não aconselharia a ter tantas esperanças. As veias pulmonares dela estão fracas, ela precisa de muito repouso. O que é difícil de se conseguir com pessoas da idade dela, você entende né?

- Sim, entendo.

- Pois então, se você puder, eu pediria que cuidasse para que ela não fizesse muito esforço. Nada de ficar saindo cedo quando ainda está frio para ficar regando plantas e nada de ficar fazendo faxinas.

- Tudo bem. Eu vou tomar conta dela. - Assenti.

- Eu agradeço. Voltarei amanhã para mais um exame de rotina. - Ele colocou seus óculos novamente.

- Ok Dr Josef, obrigada. - Ele sorriu simpaticamente e saiu dali descendo as escadas.

Eu estava triste com aquilo. A dona Clara foi a coisa mais próxima que eu tive de uma mãe e agora ela estava de cama com dificuldades para respirar.

Eu fui em direção a porta do aparelho dela e respirei fundo antes de entrar.

A porta não estava trancada, eu não quis nater porque era a cara dela sair da cama para ir abrir pra mim, eu não queria que ela nem colocasse os pés no chão.

- Dona Clara? - Perguntei me aproximando da porta do quarto dela.

- Alice? É você Alice? - Ouvi sua voz doce e sorri com aquilo.

- Sou eu sim. - Eu entrei no quarto dela a vendo deitada em sua cama.

Ela estava nitidamente abatida. Seus olhos antes cheios de vida estavam distantes, seu sorriso antes contagiante agora estava fraco e a mesma estava mais branca do que o normal.

- Como a senhora está? - Me aproximei da mesma.

- Eu estou ótima! O Josef é muito exagerado. Garanto que tenho forças o suficiente para regar minhas plantas. Elas devem estar tristes. - A mesma tentou se levantar da cama mas eu impedi.

- Ei ei, nada disso! - A fiz se deitar de novo. - Pode deixar que mais tarde eu rego elas. Agora, apenas fique ai e descanse.

- Mas eu já descansei o suficiente, Alice. - Ela teimou comigo e eu cruzei os meus braços a olhando com um sorriso.

- Não seja teimosa, eu vim aqui para cuidar da senhora e garantir que não fará esforço nenhum. - Assenti. - Precisa de alguma coisa?

- Preciso tirar aquela teia de aranha dali. - Ela apontou para o teto e tentou se levantar de novo.

- Qual parte de não sair da cama a senhora não entendeu? - Perguntei rindo e ela cruzou os braços. - Fica ai, deixa que eu tiro.

Eu sai de seu quarto rindo e fui até onde estava a vassoura. Antes que eu a pegasse, o meu celular vibrou.

Miguel- Meu amor? Ta tudo bem? Já visitou a dona Clara?

Alice- Oi amor, já sim. Na verdade, eu to no apartamento dela agora.

Miguel- E então ela ta bem?

Alice- Não... o médico dela me disse que ela está com bronquite crônica. Ela ta tão fraca, amor.

Miguel- Nossa, eu sinto muito. Você vai ficar ai com ela?

Alice- Tem problema se eu ir pro seu apartamento mais tarde? Quero ajuda-la com o que ela precisar.

Miguel- Não tem problema não, linda. Tome conta dela. Eu entendo e vou morrer de saudades♡

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Continua...

O Garoto Das MensagensWhere stories live. Discover now