Já Gianluigi... Esse é egocêntrico pelo dinheiro e poder, por que de inteligência? Não tem. Seus planos dependem dos outros. É um narcisista.

Agora que está sozinho, está perdido. Talvez surtando!

— Já conseguiram encontrar muitas famílias? — Bruno pergunta.

— Menos da metade, infelizmente. Tem muito adolescente que foi sequestrado ainda bebê. Pelo menos prendemos boa parte dos envolvidos e conseguimos resgatar algumas crianças que estavam em cárcere em outros Estados. Algumas famílias apareceram, e claro, crianças e adolescentes que precisarão de vários acompanhamentos psicológicos.

Eu nem quero lembrar de quando fui à instituição ver as pessoas que foram resgatadas. Bebês, crianças, jovens, adultos... Conseguimos contatos de algumas famílias que compraram essas pessoas e prendemos boa parte em alguns dias. Tudo comprovado, compra de seres humanos.

Muitas compras para causar sofrimento, alguns realmente porque queriam uma criança como filhos.

Mas ainda falta muita gente... Muita gente que comprou, mas que não há qualquer registro de nomes, local que mora, nada! Outros registros de pessoas do outro lado do continente e que precisam de ajuda dos órgãos de lá para ter uma investigação.

Bruno faz sinal com a cabeça, Abel chega à sala, já que ele está na minha casa.

— Bom dia. — ele nos cumprimenta e respondemos seu cumprimento. — É hoje?

— Sim. — confirmo e sorrio para sua animação. — Finalmente chegou o grande dia.

Demoramos para entrar em contato com Liv, ela deveria ter vindo logo no dia seguinte que encontramos Abel, porém, olhando toda aquela planilha de pagamento, descobrimos que tinha gente daquela região. Então, para não chamar muita atenção e atrapalhar nas prisões, fomos com calma na procura/reencontro de familiares.

Liv, Telma e Abel precisarão de uma nova vida, identidade e novo local para morarem, então comprei o terreno delas, pra que? Não sei, na hora foi à única coisa que pensei para poder ajudá-los a ter dinheiro e reconstruir suas vidas em outro local, além de apagar um possível rastro, que seria aquela casa.

Comprei um local sem serventia, pelo menos darei uma vida feliz a essa família.

E de pensar que tudo está próximo de terminar, de uma maneira estranha, por causa de Moisés. Meio complicado, até estranho admitir, mas, sem ele, não conseguiríamos muita coisa.

Mas não faz dele um herói!

Abel e Bruno conversam sobre o reencontro com Liv e Telma, eu recebo uma mensagem sobre Moisés ter ido visitar Morgana.

Amanhã ela também será extraditada.

Muitos serão extraditados, outros ficarão por aqui, como Gerard, que, ao que tudo indica, pegará alguns bons anos de prisão.

''Sabe o que Moisés quer com Morgana?''

Envio essa mensagem.

Um minuto depois vem a mensagem:

''Morgana chorou muito, está chorando até agora, porém, parece um choro feliz. Moisés acusou, ao mesmo tempo diz que voltará para resgatá-la, quer dizer, para dar liberdade a Morgana''.

Fico intrigado com essa resposta, em momento algum Moisés foi visitar Morgana, agora que só resta um livre, justamente quem mais odeia, ele faz uma visita a esposa? Sendo que ele falou que não se importa com ela?

No entanto, deixo esses pensamentos um pouco de lado.

Chamo Abel para irmos à delegacia esperar por sua mãe. Ele pega sua mochila de roupas, todo animado, e entra no meu carro.

Entro logo em seguida com Bruno ao meu lado. Meia hora depois paro a frente da delegacia. E Abel sabe quem é sua mãe e avó, mesmo sendo retirado delas com pouca idade, ele ainda as reconhece.

Ele grita por sua mãe, chamando de ''mãe'' mesmo. Destravo a porta do carro, mas sua ansiedade e euforia, é tanta, que ele não consegue abrir a porta.

Liv e Telma estão olhando para o outro lado. O carro tem vidros escuros e tem muita gente ao lado delas, elas nem viram e nem escutaram Abel.

Bruno desce do carro e abre a porta onde Abel está.

E Abel corre, ele até mesmo pula os obstáculos e agora sim Liv e Telma olham para Abel.

Escuto o grito das duas, por um momento eu tenho medo de que a senhora enfarte, mas não, as duas correm até Abel, que se joga nos braços abertos da mãe.

Eles se abraçam, se agarram, Telma se junta a eles. Beijos, abraços, lágrimas... Todos param para assistir a cena.

Tocam no rosto um do outro, como se nada daquilo fosse real.

Liv acaba caindo ajoelhada no chão, agarrada ao filho.

Eu até choro, confesso.

Mas meu peito fica mais aliviado, como se um peso tivesse sido retirado.

Eu odeio esses casos, odeio muito! Casos como o do Abel são raridades, infelizmente. Ele está muito bem, de verdade. Ele nunca esqueceu a família, não foi totalmente maltratado...

E as outras crianças, adolescentes, adultos, que não serão achados? Ou que já estão com muitas sequelas físicas e psicológicas? Que nem ao menos tem mais família? E aqueles que terão que ir para a adoção porque, realmente, foram vendidos por suas famílias e não sequestrados? E aqueles que, até mesmo, amam seus sequestradores porque foram tratados como filhos?

Eu não aguentei ficar por muito tempo no local onde estão abrigando as vítimas, porque eu vi crianças chamando pelos seus sequestradores, chamando por seus ''pais'' que os compraram.

Ontem vi três mães biológicas chorando, esgoelando e depois desmaiando e tendo que ir para o hospital. Vi dois pais biológicos insanos quebrando tudo, de raiva e tendo que ser sedados.

Todos sofrendo porque seus filhos não os queriam, e sim queriam seus sequestradores, porque criaram um vínculo com eles. Vínculo de amor, outros de necessidade, vínculo nada saudável, de dependência emocional. E os pais chorando porque não era o reencontro que sonharam. Seus filhos, que tanto procuraram, os rejeitaram, porque não fazem ideia de quem sejam. Ou se lembram, seus sequestradores fizeram uma lavagem cerebral, no qual seus pais biológicos os odiaram...

Paralelo a isso, temos as crianças que sofreram, foram abusadas. Algumas criaram esse vínculo doentio, outras nem ao menos falam qualquer palavra, estão traumatizadas.

É o momento que eu me afasto do caso e passo o caso para outra pessoa, porque, realmente, eu não suporto tal coisa.

E eu, como delegado, já passei por diversas cenas de crimes, por diversos criminosos sádicos, mas ver pessoas sendo tão usadas e outros seres humanos se divertindo... Acabou comigo.

Ver Abel com sua família me aquece, eu fico bem. Mesmo sabendo que nem todos terão esse destino feliz.

E é aquilo que detesto nessa vida: Nem sempre todo crime será solucionado, nem sempre a vítima voltará sã e salva... Nem sempre a vítima se quer voltará.

E, infelizmente, a culpa nem é minha ou dos meus companheiros.

Existe crime perfeito e sem solução, e nesses casos, onde muitas pessoas foram sequestradas e mandadas para diversas partes do mundo, não há cem por cento de solução.

Infelizmente.

Uma família para o mafioso - Em busca da filha perdida (Livro 1 e 2)Where stories live. Discover now