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Luana narrando:

Passaram minutos, horas, dias, semanas que inevitavelmente se transformaram em meses...

Estava tudo bem na casa fora os ataques que Jandira tinha. Nico estava faturar bem com as terras e eu não parava meus estudos.
Fui me tornando amiga das pessoas das redondezas e das empregadas da casa assim como Nico.

Enquanto isso, na casa grande, mãe Esmeralda recoperava as forças para seguir em frente, Ndira e Pedro sentiam a dor de ter a única filha desaparecida e Telaisa vivia num mar de lamentações que aos poucos acabava com ela.

Telaisa Narrando:

Desde que foram embora, nada na minha vida ficou bem.
A mamã tentava se contentar comigo, mas era notória a falta que sentia do primogénito. O papá trabalhava sempre pois não queria ficar em casa, quarto do Nico virou uma obra de arte para ele e não queria que ninguém mexesse nada de lá. Sempre que eu entrava e mexia em algo ele gritava comigo, como se eu tivesse expulsado Nico de casa.
Doce Ndira adoeceu, ela não conseguia fazer nada e Pedro se acabava de dor aos poucos. E eu? Eu simplismente fui obrigada a viver uma infância infeliz, onde ninguém queria fazer nada comigo, nem me levar aos concertos, nem me levar para parques porquê eram todos amargurados.

Estava tudo as trevas. A luz, Mweti  levou com ela.

- Maldida! Maldita Luana Aguiar... Esse sentimento foi emergindo a cada dia que eu acordava e mesmo sem querer a mesma pessoa que eu amara tanto, passei a odiar por ter cortado as minhas asas e prendido meus sonhos. Eu queria que eles ficassem juntos, mas não queria que isso me custasse a felicidade da infância. Uma infância a preto e branco vivi.

Conheci Ndambi e tudo que ela dizia da Mweti parecia fazer sentido pois meu ódio e rancor nutria cada falácia que ela dizia.
Nos tornamos próximas mas com o passar do tempo ela foi ficando enfeitiçada por um garoto branco que chegou da Espanha e casou.

Nwatsukunyane me irritava a cada segundo que ela respirava porque Ndambi falou coisas feias sobre ela, mas ela ia para casa sempre ver como eu estava e saber se tinham notícias.

O rio amaldiçoado passou a ser pouco frequentado desde a distribuição de água pelas casas o que deu lugar a alguns animais selvagens.

Brian, o irmão mais novo do espanhol foi tentar se banhar e foi atacado por uma cobra e morreu horas depois. Os africanos acreditam que foram os defuntos e que a cobra era a reencarnação deles, mas na verdade nem eles iam lá por medo. Alguns diziam que os defuntos estavam enfurecidos por causa de muitas meninas trangrediram as leis.

2 anos se passaram, era o dia do meu aniversário, tal como no ano anterior ninguém lembrou, mas algo no coração me dizia que Mweti lembrava sempre. Meu coração se rachava a cada ano com intensidade naquele dia. Eu não sabia quando eles volrariam, mas eu tinha certeza que vivos ou mortos, eles voltariam.

Nicholas Narrando:

Acordei triste, era mais um aniversário da Telaisa. Quando olhei para o lado me confortei com Luana e toquei nela e estava febril.

Se a acordasse ela sofreria de dor, mas se ela continuasse a dormir, não saberia o que ela tinha.

Eu tinha tido uns sonhos estranhos nos 3 últimos dias.

No primeiro, sonhara enquanto Ndira estava chorando, magra, acabada e só dizia: Minha filha.

No segundo, uma velha vestida de preto e branco me dizia: Não há liberdade sem lei, e se não se segue a lei a felicidade é aparente pois o espírito está em apuros, como você fica sempre que ela tosse.

No terceiro, os chefes da família de Mweti diziam para minha mãe devolver o que les tirou.

O que mãe Esmeralda teria les tirado?

Depois daqueles sonhos eu não pensei 2 vezes mais...

- Mweti, Mweti... acordei-a

Suavemente abriu os olhos e quando ficou completamente em si, gemeu de dor. Mas ela não conseguia falar para explicar o que sentia. Optei por leva-la a um curandeiro conhecido...

Era estranho aquele mundo. Ao que me pareceu ele estava mais ligado a Deus que outros curandeiros.

Sem eu le contar meus sonhos eles me disse e disse que defuntos de Mweti estavam em tribulações desde que ela nasceu porque ela tinha raízes Europeias e um apelido estranho. Não faziam nada para a proteger porque ela não era deles.

- Pobrezinha! Exclamei pois não era culpa dela, nem um pouco.

- A única forma dela ficar bem é aceitando apelido dela. Mboane!

- Esse é o apelido dela?

Mesmo enfraquecida ela acenou positivamente com a cabeça.

- Mwetine chora porque essa menina desconhece seu passado. Disse o curandeiro

Lágrimas escorreram dos olhos dela, lágrimas que tocavam meus braços já aquecidos e sem pensar 2 vezes ela aceitou o apelido.

Depois de várias orações e rituais para emancipar a tradição de Mweti afogada, ela abriu os olhos como quem acabava de escapar da morte.

Efectuei o pagamento e antes de sair o curandeiro disse:

- Mukani kaya, Ndira a wa fa. Loku fswo tsuka fswi yentxeka i ta va khombo ni nlhomulo - traduzido: voltem para casa. Ndira está morrer e se isso acontecer será azar e lamentação.

Eu não entendi mas perguntei para Mweti:

- O que  ele disse?

- Nada.

Estranha reacção porque ele parecia preocupado.

Coisas de tradição: Um amor amaldiçoadoWhere stories live. Discover now