Capítulo 1: Acordando

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Minha mãe entrava no quarto assustada. Ela parecia diferente de alguma forma, mas eu não conseguia dizer no que. Ignorava as enfermeiras e vinha me abraçar. Era um pouco dolorido, meu corpo parecia enferrujado, mas eu precisava de um abraço.

Era dia 13 de Dezembro de 2013. Uma sexta-feira 13, implicava a minha mãe. De todos os dias que eu tinha para acordar, foi justamente naquele.

Faziam dois meses que estava em coma naquele hospital, dois meses, e eu não conseguia me lembrar de nada antes disso.

Tentava pensar em como cheguei ali, o que havia acontecido naquele ano, mas nada. Os últimos dois anos haviam sumido completamente da minha cabeça.

Rosa tentava falar sobre como estava preocupada comigo e que agora eu ia poder voltar para casa, mas para mim aquilo não fazia o menor sentido.

As enfermeiras haviam me contado mais cedo sobre o acidente e que eu poderia ter sofrido algum tipo de amnésia, mas não me deram nenhuma informação além de "acidente de carro".

Eu mal tinha tempo de checar se meu corpo ainda estava inteiro antes de Rosa estar em cima de mim já me enchendo de perguntas que eu nem entendia, mas eu pedia para ela ficar calma. Era uma situação estressante, tanto para mim quanto para ela, mas ela não estava ajudando.

Eu não lembrava de nada dos últimos anos, mas continuava sendo eu, apenas um pouco machucada e muito confusa. Mas minha mãe agia como se eu estivesse vindo de outra dimensão. Demorou um pouco para conseguirmos conversar normalmente.

- Então... Que tipo de acidente foi esse? Eu fui atropelada?

- Foi uma batida de carro. - Rosa respondia com uma pose quase irritada, como se tentasse me dizer que avisou alguma coisa, mas sem realmente poder dizer isso. - Em uma viagem sua.

- Viagem minha?

- Você tava com uns amigos indo pra um sítio passar as férias e..

- Que? Viajando com amigos? Quem? - Era muito estranho pensar que eu poderia estar indo a uma viagem, principalmente em uma viagem "com amigos", sem a minha mãe. Não me lembrava nem de ter amigos.

- Como "quem"? Seus amigos, oras.

- Desculpa, mãe... É que eu realmente não me lembro de nada disso...

- Ah, Renata... Não se preocupa com isso, tá bom? Só fica boa logo pra gente ir para casa, você já passou tempo demais nesse hospital.

- Não mãe, por favor, eu preciso saber!

- Você precisa descansar a cabeça.

- Não preciso não! Eu passei dois meses "descansando", eu só estou... Perdida. O que aconteceu comigo?

- Tá bom filha, foi um caminhão que bateu no carro que vocês tavam e... E foi isso, você bateu com a cabeça, mas tá inteira.

Eu olhava para Rosa, irritada. Minha cabeça estava dolorida, meu corpo todo estava. As enfermeiras haviam me medicado mais cedo, mas ainda doía.

- Só isso?

- É. Você não precisa encher sua cabeça agora.

- E quem estava no carro comigo? Eu... Não faço ideia!

- Eu já disse, seus amigos. Aquela Alice, Lucas, seus amigos.

- Quem? - Aqueles nomes pareciam familiares, mas eu não me lembrava de nenhum deles.

- Você não lembra dos seus amigos, filha?

- Não mãe... Eu não lembro de nada.

Eu desviava o olhar, estava envergonhada. Por um lado sentia que deveria saber quem eram essas pessoas, pareciam importantes para mim. Mas por outro, nada vinha em mim além de uma leve sensação de já ter ouvido aquele nome, Alice...

Páginas VaziasWhere stories live. Discover now