Capítulo 10: Corretivo

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Lucas continuava me olhando enquanto eu pegava o sorvete com o palito de biscoito e botava na boca. Estava em silêncio, confuso.

- Então... - Ele tentava quebrar o gelo. - Isso é saudades?

- Talvez. Eu queria sair de casa, e Alice não está realmente disponível no momento... - Eu dizia triste. - E eu achei que você gostasse de me ver.

- Eu gosto, mas é o terceiro dia seguido. Você quer me contar alguma coisa?

- Eu só quero companhia.

- Ok. O que aconteceu?

- Nada.

- Você tá estranha, Rê. Eu sei que aconteceu alguma coisa.

- Tá bom... Eu preciso saber de uma coisa... Mas promete que vai responder com sinceridade?

- Depende... - Ele respondia cauteloso. - O que é?

- Por favor, Lucas. Eu preciso que você seja sincero.

- Tá, claro. Fala logo.

- Você acha que eu tenho culpa? - Eu perguntava tentando esconder a tristeza.

- Culpa? De que?

- Do acidente... Me sinto meio idiota perguntando, mas preciso saber. Você acha que foi culpa minha?

- É claro que não, Rê. Que tipo de pergunta é essa?

- Eu tava lembrando disso ontem e... Rosa não tinha me deixado ir para a viagem, mas eu estava indo assim mesmo. Se eu tivesse obedecido ela, a gente não teria sofrido o acidente.

Lucas me olhava com a mão no rosto, como se ouvisse uma grande besteira.

- Rê, você não tinha como saber. Ninguém tinha. E se for pra pensar assim, todos fomos culpados, todos quisemos ir.

- É, eu acho que você está certo, mas... Eu não consigo acreditar nisso.

- Mas é a verdade.

- Talvez seja, mas não na minha cabeça... Tem essa voz que fica me dizendo que Alice e Miguel são responsabilidade minha, e eu não sei mandar ela se calar.

- Que viagem, Renata. - Dizia Lucas desinteressado. - Esquece isso. De onde você tirou essa ideia?

- Estava discutindo com minha mãe ontem... - Respondi, sem perceber que era uma pergunta retórica. - E cheguei nessa conclusão.

- Ok, esquece isso. - Ele respondia friamente.

- Eu acho que não quero voltar pra casa. Não aquela casa...

- Você não precisa, pode ir pra sua outra casa. - Dizia ele, um pouco impaciente.

- Mas... Ela é minha mãe. - Eu respondia ainda triste. - Não sei se é certo...

- E o que tem? É só uma briga, Renata. Você não devia se importar tanto.

Lucas parecia extremamente desinteressado no que eu falava, e eu percebia, me calando. Voltava a tomar o sorvete pensando no assunto enquanto ele me olhava.

Eu queria conversar sobre os meus problemas. Sabia que poderia fazer isso com Alice se ela estivesse ali, mas Lucas parecia simplesmente não se importar.

- O que quer fazer agora? - Eu tentava mudar de assunto.

- Que tal a gente ir pro terraço? É um lugar legal pra ver a paisagem, falam que é bem romântico. - Ele ria.

- Romântico... Desculpa Lucas, mas eu não tô muito no clima pra isso agora...

- É pra isso que serve o terraço. - Ele insistia, piscando para mim. - Pra criar o clima.

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