Capítulo Doze

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Tudo acontece tão rápido que mal tenho tempo de respirar

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Tudo acontece tão rápido que mal tenho tempo de respirar. Minha bicicleta patina milésimos de segundos antes do baque que me atira por cima do guidão. Sinto o corpo leve, as pernas sem apoio, minhas tranças azuis girando ao meu redor, um raio de luz me cega por um instante e então o choque! Todo o ar é expulso de dentro dos meus pulmões e, quando dou por mim, estou estatelada no meio do cruzamento.

Silêncio. Meus ouvidos zumbem. Sinto a chuva molhar meu rosto e mantenho os olhos fechados, fazendo um inventário mental do meu corpo, só pra ter certeza de que não quebrei nada. Mexo os dedos dos pés dentro das galochas e em seguida os dedos das mãos. Tudo no lugar, só uma pontada no cotovelo esquerdo e uma queimação no joelho direito.

Quando estou prestes a abrir os olhos, sinto mãos quentes no meu rosto. Uma em cada bochecha, me segurando tão delicadamente que parecem uma reverência. Me sinto estremecer em cada célula do corpo quando finalmente abro os olhos e encontro o olhar de lápis-lazúli de Will colado no meu rosto.

Seu cabelo loiro está desgrenhado e começa a colar, molhado, em sua testa. Seus lábios estão entreabertos e avermelhados e juro que nunca vi nada tão azul ou tão profundo quanto seus olhos preocupados.

– Will... – balbucio sem fôlego, enquanto sinto meu coração bater em meus ouvidos. Não sei se pelo susto ou pela visão dele se assomando sobre mim.

Ele suspira aliviado ao ouvir a minha voz e o vejo soltando a respiração devagar e fechando os olhos, como se estivesse fazendo uma prece silenciosa. Ou agradecendo por uma atendida.

– Graças a Deus. – diz baixinho, quando volta a abrir os olhos – Você se machucou muito? Como está se sentindo?

Percebo uma movimentação a nossa volta. Ainda estou estirada no meio da rua, com água entrando até onde Deus duvida, enquanto Will está ajoelhado próximo a mim, a camisa branca com o colarinho aberto começando a ficar encharcada e a grudar em seus ombros. Uhm.

Olhar para ele daqui de baixo me dá uma estranha vertigem e fico confusa por um momento. Sei que deveria me levantar, pegar minha bicicleta e ir pra casa, mas parece que alguém passou cola na minha bunda e me pregou no chão. Não consigo me mexer. Só consigo olhar pra ele. Meu Deus.

– Como você chegou aqui? – pergunto com a voz baixa e abalada ao invés de responder a pergunta dele.

– Estava fazendo o retorno com o carro quando vi aquele imbecil quase passando por cima de você! – ele responde com raiva, uma das mãos que ainda estava no meu rosto é levada à seu cabelo e Will o puxa para trás, em sinal de frustração e então pergunta para o nada – Alguém conseguiu pegar a placa daquele carro?

– Não, senhor. – responde uma voz dali de perto – Foi tudo muito rápido.

Me esforço para levantar a cabeça e conferir o que diabos está acontecendo, mas Will olha pra mim de novo e sua mão força meu ombro de maneira delicada de encontro ao chão.

Cara ou Coroa - Dois Lados da Mesma MoedaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora