side track /// prologue

13 0 0
                                    


×××××× ♪ I'm Not Ok (i promise) ♪ ××××××


  Prendo as lágrimas de dor conforme encaro meu rosto no pequeno espelho de mão em formato de coração que Alex me dera, tomando cuidado com os ferimentos ao observar o estrago, tocando com cuidado nos hematomas.

  Quando Jenny prometeu acabar comigo assim que nos encontrássemos de novo, eu não esperava que fosse acontecer tão cedo.

  — Merda. — Fecho o espelho com alguma raiva, sem vontade de limpar o sangue em minha bochecha ou na lateral da minha cabeça. Depois do dia mais longo que tive desde que voltei para casa semana passada, ter que ouvir Jennifer Halston gritando comigo foi demais.

  Se eu ainda tivesse algum orgulho, poderia dizer que ele estava ferido, mas só sinto uma raiva incontrolável de Alex e das merdas que ele deixou pra trás.

  Encosto a cabeça na janela do ônibus, e fecho os olhos por um segundo, tentando não chorar. Foi fácil aguentar os socos e as puxadas de cabelo, e foi muito fácil ignorar as risadas e não pensar em nada quando ela me bateu até minah cabeça girar.

  Mas eu ainda conseguia ouvir sua voz irônica falando de Alex e como ele devia estar feliz por ter finalmente ido embora e se livrado de mim.

  Porque, para ser sincera, não havia nada de ruim que ela pudesse dizer sobre mim que eu mesma já não tivesse pensado ou dito. Mas aquelas verdades doíam. Ainda é tão recente, uma ferida exposta que ela conhece bem.

  Odeio isso.

  E odeio como mal consegui revidar. Eu poderia ter batido nela de volta, não seria a primeira vez. Mas não consegui encontrar força para isso. Foi quase como se eu merecesse, depois de tudo que aconteceu.

  Não fui eu que espalhei para todo mundo que Jenny traiu meu amigo com outra garota, não foi minha culpa, mas eu era a única que sabia daquilo, e contar para Alex foi um erro. Ele tinha que se vingar por todas as idiotices dela, tinha que humilhar ela.

  E agora quem pagou fui eu. Ótimo. Só mais uma das coisas que ele deixou para trás pra mim concertar.

  •••

  Não tinha ninguém em casa quando cheguei, mas mesmo assim, eu devia ser mais sábia e simplesmente ter ficado quieta. Eu devia saber que minha mãe voltaria cedo, e ter ido dormir, em vez de praticar.

  Ergo meus olhos para a mulher gritando comigo no meu do quarto. Ela não pergunta dos machucados, mal olha para mim antes de externar como ela odeia quando "faço isso".

  — ...Mas que merda! — Pisco para o ar, meio sem reação ao apoiar a guitarra em meu colo. Quando ergo o olhar para ela novamente, Elizabeth franze o cenho, colocando as mãos nos quadris como ela sempre faz quando está brava. Ótimo. — O que aconteceu com o seu rosto?

  Então ela se importa, afinal.

  Respiro fundo, balançando a cabeça. Não quero explicar, porque sei que ela não vai me ouvir. É sempre inegavelmente minha culpa na visão dela. Eu sou sempre uma percusora de violência ou de problema, não sei.

  — O que você fez? Se eu receber outra reclamação do colégio você vai para o internato de novo, e não quero saber se gosta ou não da ideia. — Abro a boca para gritar que a odeio, ou qualquer coisa que fosse, mas não tenho forças. Me encosto na parede e apenas a encaro em silêncio, exausta apesar de ainda com raiva. Ela cruza os braços, me fitando daquele jeito que odeio, como se desdenhasse de mim ou algo do tipo. — Não vai dizer nada?

  — Agora você não quer que eu cale a boca? — Ironizo, lembrando de ontem e como ela berrou no meio do jantar para que eu "calasse a porra da minha boca". Minha mãe pressiona os lábios, mas sei que ela não vai pedir desculpas.

  Eu não vou também, não por ter falado o que se passava por minha cabeça, não por ontem ou pela péssima filha que tenho sido.

  Ela sai do quarto sem dizer mais nada, e meu corpo inteiro relaxa como se a armadura instantaneamente de desfizesse e eu pudesse finalmente respirar. Não volto a tocar, engatinhando para o meio dos travesseiros buscando algum conforto na maciez deles. E me permito chorar.

  •••

  Não posso dizer que é uma surpresa, apesar de ter vindo de repente.

  Já faz um mês que falto mais do que vou à escola e as ameaças de minha mãe de me mandar de volta para o internato só ficaram mais frequentes, assim como seus ataques de raiva.

  Ela tem tomado tantos remédios que não nota quando eu roubo um ou dois, tem passado tantos dias anestesiada pela enorme quantidade de vinho que bebe, que mal repara no cheiro de cigarro que às vezes sinto em minhas própias roupas, ou em como eu mal saio de casa.

  Na verdade, acho que ela não se importa muito no fim das contas. Phill não está nunca por perto, e agradeço por isso apesar de me questionar sobre o que ele tanto faz fora de casa em horários estranhos, prefiro assim. Prefiro ficar longe de seu olhar pesado ou comentários nojentos. Elizabeth parece sofrer com isso, contudo.

  Ela parece tanto um fantasma acabado quanto eu, mas continua gritando comigo por não lavar a louça ou não arrumar o quarto, ou por respirar muito alto.

  Então não fiquei especialmente chocada quando cheguei em casa mais cedo e minhas malas estavam na sala, assim como minha guitarra e minha caixa de som. Ela bebia uma taça de vinho tranquilamente quando eu berrei algumas palavras cruéis e segui para o quarto em busca de um banho, me sentindo como uma criança birrenta.

  Eu nem me lembro o que disse, ou porquê sequer me dei ao trabalho, mas era quarta e tive que jogar com as meninas, já que uma garota tinha se machucado, o que levou a uma série de pontos perdidos e uma Jennifer irritada como o inferno.

  Desta vez acertei uns socos, mas ela é mais forte que eu. Sempre foi. E agora eu tinha hematomas no rosto, de novo.

  Elizabeth não perdeu tempo: Assim que sai do banho, ela avisou que um carro me esperava, e não se importou em se despedir ao me chutar para fora de casa.

  Agora, já há quilômetros de distância e ainda sem conseguir pegar no sono, me pergunto aonde erramos, quando chegamos nesse ponto. As coisas eram... melhores. Quando meu pai ainda estava por perto, apesar de ser um idiota, apesar das brigas e da agressividade. Ela era melhor, mesmo com toda a maluquice em nossas vidas.

  Eu era melhor naquela época, mesmo que eu achasse que seriam os piores anos da minha vida. Tudo ficou muito pior de uns anos pra cá. Muito mais caótico.

  E como ela sempre faz com os problemas, me mandou embora, para longe. Assim talvez possa esquecer que eu sequer existo e se afundar em seu narcisismo alcoólatra.

  Respiro fundo, meio aliviada. Não é ruim, voltar para lá, não quando todos meus amigos ainda vivem no internato. Talvez seja o melhor para todos nesse momento, de qualquer forma, penso, encarando a paisagem começando a ficar nublada.

  Só espero não estar errada.

Stuck On Fucking YouOnde histórias criam vida. Descubra agora