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FAMÍLIA DESTRUÍDA
Home – Gabrielle Aplin


O dia da família não presta quando não tens ninguém com quem passá-lo. Quando já não tens uma família que te ama. Tenho saudades desse potente amor incondicional. Elas são as pessoas por quem tu farias tudo. Em um segundo podes amá-las mais que tudo como no outro podes odiá-las. A família é um conjunto de sentimentos inexplicáveis.

- Rainha, tenho aqui o seu favorito. Panquecas com mirtilos. – falou a minha cozinheira pessoal enquanto pousou o prato que continha três panquecas e vários mirtilos, na mesa.

- Acho que hoje nem panquecas me alegram. – respondi sem emoção nenhuma. Eu e a minha mãe sempre comíamos panquecas em dias festivos. Mas acho que sem ela não tem a mesma graça. Às vezes, boas memórias de um passado perfeito, magoam demais

*****

Dia da Família. Provavelmente o feriado mais importante do Universo, exceto para mim. Eu já tinha perdido a minha há anos. Eu era como uma loba solitária, não tinha alcateia.
Toda a gente me dizia que eu “não estava sozinha”. Era tudo uma farsa. E querem saber porquê? Porque neste momento as pessoas que me disseram isso estão com as suas famílias e nem estão a pensar em mim. As pessoas são falsas. Nada de novo.

- Estou. – disse quando ouvi o meu telemóvel a tocar. Era a Rose. Ela devia estar com a sua família não?

- Olá Scarlet! Desculpa ter-te ligado tão cedo mas queria dizer-te que o Adler já está melhor. Já não tosse tanto mas eu estou preocupada com ele, Scar.

Há anos que ninguém me chamava “Scar”. Era uma alcunha que a minha mãe me tinha dado. “Scar” em inglês significa “cicatriz”. Ela sempre me dizia que as cicatrizes eram as marcas de sofrimento e coragem que o nosso corpo demonstrava. Eu sempre as achava feias mas hoje em dia, ao olhar para as minhas, lembrava-me de como houve dias em que eu fui valente. Era gratificante, de algum modo.

- Não há problema não é que eu tivesse a “passar tempo com a família”. – dei um riso mas era de pura tristeza. – Bem, mas porque estás preocupada com ele?

- Eu liguei-lhe ontem e ele disse-me que não queria falar. Ele está com vergonha por termos descoberto que ele é homossexual. Não sei o que fazer, Scar... – notava-se na voz dela como estava preocupada com ele. Eu também estava. O Adler podia ser muito forte mas quando a Rose lhe contou que nós tivemos de ir ao bar gay ele ficou branco como uma folha de papel. Ele não queria que nós descobríssemos daquela maneira, isso era óbvio.

- Ouve-me Rose, o que ele está a passar é normal. Como ele nos apanhou de surpresa ao descobrirmos que ele era homossexual, nós também o apanhamos de surpresa ao contar-lhe que estivemos no bar gay. Ele precisa de tempo. Quando ele estiver preparado eu asseguro-te que ele vem falar connosco. Agora deixa-o descansar, está bem? – eu sabia o quão ela estava preocupada por se darem muito bem. Mas eu conhecia o Adler também. Eu sabia que ele precisava de estar sozinho neste momento. Era o melhor a fazer.

- Tens razão. Obrigada e...bem se tu te sentires sozinha podes sempre vir passar o dia comigo e com a minha família. – a Rose era muito querida mas eu não podia aceitar. Ela tinha de estar com a sua família e eu com a única família que me restava. O Hector e a Susan.

- Obrigada pelo convite mas eu acho que vou ficar por aqui, Rose. Falamos depois. – ela despediu-se de mim e eu desliguei o telemóvel indo em direção há cozinha. O Hector devia estar a trabalhar com alguns assuntos do Reino, o que me ajudava imenso, e a Susan devia estar a cozinhar.

𝐎𝐬 𝐄𝐥𝐞𝐦𝐞𝐧𝐭𝐨𝐬Onde as histórias ganham vida. Descobre agora